Por Edson Reis, g1 Tocantins


Professor venezuelano mostra local em que famílias vivem em Palmas

Professor venezuelano mostra local em que famílias vivem em Palmas

Originários de um país em colapso, venezuelanos indígenas da etnia Warao decidiram imigrar para o Brasil em busca de sobrevivência, comida, emprego e qualidade de vida. Dezenas deles fixaram moradia em duas cidades do Tocantins: Palmas e Araguaína. Passados quase dois anos da entrada no novo país, o g1 relata como vivem as famílias, as condições de moradia e o acesso a direitos básicos, como educação e emprego.

Cerca de 40 venezuelanos decidiram viver em Palmas. Eles estão abrigados no Centro Comunitário, localizado no setor Santo Amaro, região norte da cidade, um local cedido pela prefeitura. As famílias dormem em colchões ou redes, dividem uma cozinha pequena, além de banheiros, com apenas um chuveiro e um vaso sanitário. (Veja vídeo acima)

Muitos deles estão no Brasil há cerca de dois anos. Oito pessoas chegaram à capital no mês de setembro após passarem uma temporada em Manaus. Sem quartos para abrigá-los, eles tiveram que se acomodar no pátio. Colchões e pertences foram colocados em um canto, que molha em caso de chuvas fortes.

O período chuvoso no Tocantins começa oficialmente na segunda quinzena do mês de outubro. Desde então, há registros de fortes chuvas em todas as regiões.

Professor Giovanni Wilfredo e a filha estão há dois anos no Brasil — Foto: Edson Reis/G1

Vestido com a camiseta da seleção brasileira, o professor venezuelano Giovanni Wilfredo, de 33 anos, mostra as acomodações em um vídeo feito pela equipe de reportagem do g1. “Essa é a cozinha, tem duas geladeiras, dois fogões. As 11 famílias preparam seu alimento aqui. Essa geladeira foi uma doação do pastor da igreja Base, e a outra doada pela prefeitura. Como você está olhando, não temos muita coisa, dá para algo”, diz ele, enquanto mostra os poucos alimentos armazenados.

As duas geladeiras funcionam. Mas são velhas e não têm mais as grades para guardar os alimentos.

No centro comunitário há dois banheiros, um para homens, o outro para mulheres. Cada um, tem apenas um vaso sanitário e um chuveiro. As 11 famílias se revezam como podem.

Giovanni também mostra o quarto onde dorme com a mulher e a filha de três anos. No espaço, há colchões, ventiladores, brinquedos e uma pia de roupas amontoadas.

É difícil, graças a Deus temos um teto, mas morar assim é desumano. Não somos brasileiros, somos venezuelanos, temos que aceitar. Não temos que exigir muita coisa”.
— Giovanni Wilfredo

Venezuelanos se dividem em quarto no Centro Comunitário, em Palmas — Foto: Edson Reis/G1

Mais de 40 venezuelanos estão vivendo no Centro Comunitário, em Palmas — Foto: Edson Reis/G1

Ele percorre a unidade e mostra o local onde uma família está dormindo por falta de quartos suficientes. “É difícil, quando cai chuva com vento todos se molham. Tem que pegar as suas coisas, mudar para lá [outro ambiente]. Nós saímos da Venezuela procurando melhoria, mas não estamos conseguindo”.

O professor mostra ainda outro cômodo que virou o quarto de três famílias. São adultos, crianças e um bebê dividindo espaço, dormindo em redes e colchões doados pela comunidade. No espaço, há roupas no chão e alimentos não perecíveis.

Giovanni tenta conseguir dinheiro para voltar para a Venezuela. Ele alega que sente muita falta dos pais e de outra filha, de 8 anos, que ficou no país. E reclama também de não ter conseguido validar o título de professor no Brasil.

"Sou professor, professor de crianças. Eu tenho esse sonho. Já tenho quase três anos aqui no Brasil, e não tenho conseguido validar o meu título. Por isso já tomei essa decisão [de retornar para a Venezuela], voltar e ficar lá com a minha família, meu pai e minha mãe, com minha vó e minha filha. Por isso estou procurando uma ajuda da prefeitura, Funai (Fundação Nacional do Índio). Ou outra pessoa que queira me ajudar com minha passagem. São sete passagens, sete pessoas que querem voltar para Venezuela, pelo menos até Manaus. Quero voltar porque é melhor para a minha filha estudar lá. Lá tem escola, tenho fé em Deus que a Venezuela vai melhorar. Minha filha tem como conseguir alguma coisa porque ela vai ter estudo”.

Ele e mais sete pessoas querem fazer o caminho inverso e retornar ao país de origem. O professor explica que o objetivo é embarcar em um ônibus que estará em Manaus na primeira semana deste mês de novembro.

“Vai vir um ônibus do estado de Delta Amacuro até a fronteira do Brasil para buscar pessoas para voltar para a Venezuela. Só são sete passagens. De Palmas a Belém, são R$ 200. De Belém até Manaus, são R$ 250 para cada pessoa”, afirma ele.

O professor e outras 16 pessoas conseguiram emprego temporário em uma empresa de processamento de sementes, em Palmas. O salário é R$ 1,2 mil. Parte do dinheiro é enviada para as famílias que ficaram no país venezuelano. A outra parte é usada para comprar alimentos. O aluguel e as contas de água e energia são de responsabilidade da prefeitura.

Segundo a Prefeitura de Palmas, desde de 18 de novembro de 2019 vem realizando ações de suporte, em várias áreas de atendimento dos serviços públicos municipais, tais como assistência social, saúde e educação.

Conforme a prefeitura, atualmente são 12 famílias, sendo 47 pessoas abrigadas no centro comunitário da região norte, mas o número pode sofrer variações de uma semana para outra.

As famílias recebem cestas básicas, marmitex, produtos de limpeza, higiene, gás de cozinha, serviços de manutenção e o acompanhamento de uma equipe socioassistencial, finaliza o município.

Correndo da miséria

Refugiados venezuelanos após chegarem a Palmas em dezembro de 2020 — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Era julho de 2019 quando Giovanni, a mulher e a filha saíram do estado Delta Amacuro em direção a Manaus. O salário que recebia trabalhando como professor na Venezuela não era suficiente para comprar comida. O país já estava enfrentando uma crise sem precedentes.

Sou formado em Educação. No ano de 2006, quando recebi meu primeiro salário lembro que comprei geladeira, televisão, roupa e ainda sobrou dinheiro. A moeda foi desvalorizando em 2011, quando a crise começou. Em 2015 o dinheiro não dava para nada. Atualmente, é como se o salário mínimo estivesse custando de R$ 25 a R$ 30 no Brasil. O quilo do arroz é R$ 15 e o do frango é R$ 50. Quando eu vivia lá, eu recebia de manhã e à tarde não tinha mais dinheiro”.
— Giovanni Wilfredo

Em 2015, iniciou-se a emigração de venezuelanos rumo a outros países. Em 2019, Giovanni disse que “não aguentou mais”. A família foi para Manaus e ficou até novembro daquele ano. No mês seguinte, ele voltou para a Venezuela levando roupas, fraldas, comida e outros produtos que eles conseguiram no Brasil.

Em janeiro, retornou novamente para Manaus, onde ficou até agosto do ano passado. Depois disso, Giovanni e a família embarcaram em um ônibus passando por vários estados até chegar no Maranhão, onde ficaram por cerca de um mês. Em seguida, decidiram se mudar para Palmas. Na época, outras famílias também chegaram.

Ao desembarcarem na capital tocantinense, venezuelanos alugaram quartos de um hotel, pagando R$ 120 por dia. “Na época, procuramos casa, mas os donos de kitnet e casas falavam que não tínhamos trabalho fixo e não podíamos fazer o contrato”.

A diária era paga com o dinheiro que eles conseguiam arrecadar nos semáforos e nas avenidas da cidade. “Era difícil pedir porque eu tinha vergonha de pedir dinheiro”.

Em novembro de 2020, o pastor de uma igreja evangélica se dispôs a alugar uma casa para os refugiados, que dividiam dois quartos e dois banheiros. Eles ficaram até março deste ano. No mês de junho, a prefeitura cedeu o Centro Comunitário. No início, eram sete famílias, hoje são 11.

Colchões no pátio

Família que chegou no mês de setembro dorme em colchões no pátio do Centro Comunitário — Foto: Edson Reis/G1

Em quatro colchões, oito pessoas passam a noite no pátio do Centro Comunitário. A família da enfermeira Ermínia Ratti, de 56 anos, chegou a Palmas em oito de setembro. Em um cantinho do Centro Comunitário, ela guarda pertences em uma sacola, além dos artesanatos que faz para vender.

A enfermeira lembra que antes da crise econômica na Venezuela, ela morava na cidade de Tucupita, tinha uma casa equipada, trabalhava na comunidade indígena.

Apesar de sermos indígenas não vivíamos dessa maneira na Venezuela. Vivíamos em uma casa limpa. Estou pensando em buscar aluguel”.
— Ermínia Ratti,

O filho e a nora dela conseguiram trabalho na capital. A esperança é de construir uma vida melhor no Brasil.

“Queremos ficar no Brasil. Queremos ajuda do governo para que a nossa vida melhore. Um local maior para que cada família tenha uma sala adequada, que consigamos um trabalho fixo. Se temos trabalho fixo, casa boa, não vamos sair na rua para pedir nada. Faço colares, artesanato, também quero vender em uma feira”.

Ermínia Ratti trabalhava como enfermeira na Venezuela; em Palmas fabrica artesanato para vender — Foto: Edson Reis/G1

Dois anos sem ir à escola

Famílias saíram da Venezuela carregando malas, as crianças e esperança de uma vida melhor. Durante dois anos percorrendo partes do país, meninos e meninas em idade escolar ficaram sem frequentar escolas.

Jesús Manuel Tovar, de 40 anos, trabalhava como jardineiro em uma escola na Venezuela. Deixou o país em crise juntamente com os quatro filhos, de 8, 10, 14 e 19 anos. O mais velho já é pai, o bebê nasceu no Brasil.

Jesús Manuel Tovar com os quatro filhos e o neto, nascido no Brasil — Foto: Edson Reis/G1

Os outros três menores de idade ficaram sem estudar por cerca de dois anos, mas a vontade do pai era de ver todos estudando. Jesús também conseguiu trabalho em Palmas, mas pretende voltar a Venezuela daqui a algum tempo. “Ainda não me acostumamos com a cultura daqui, é diferente. Precisamos de uma casa para morar”, diz ele.

A jovem Irannis Del Carmen Beria, de 24 anos, também luta por qualidade de vida. Sozinha, ela cuida de três filhos, de 2, 3 e 8 anos. No ano passado chegou ao Brasil. “Passei por Manaus, fiquei quatro meses, mas estávamos em abrigo. Meu filho não comia bem. Era muita gente em local só”, conta ela.

Irannis Del Carmen Beria, de 24 anos, imigrou com os três filhos para o Brasil — Foto: Edson Reis/G1

Ainda em 2020, pegou os filhos e saiu rumo a São Luís. Depois, a família veio parar na capital tocantinense. O sonho é que os filhos estudem e tenham um futuro melhor.

Eu quero dar um futuro para meu filho. O mais velho vai começar a estudar. Quero que meu filho tenha educação, que estude. Nesse tempo quero que a Venezuela se recupere para voltarmos. Sinto falta porque lá tem minha família, meus pais, meu irmão”.
— Irannis Del Carmen Beria

Enfim, na escola

Uma notícia cheia de esperança veio à tona, semanas após o g1 visitar o Centro Comunitário para registrar o dia a dia dos venezuelanos. Após cerca de dois anos longe da escola, crianças venezuelanas tiveram o 1º dia de aula, na última segunda-feira, dia 25 de outubro, na escola Municipal de Tempo Integral (ETI) Padre Josimo Tavares.

O projeto para o retorno das crianças e jovens à escola foi iniciado através do Ministério Público Estadual (MPE), em uma força-tarefa com outras entidades federais, estaduais e municipais. Segundo o promotor de Justiça Sidney Fiori, coordenador do Caop da Infância, Juventude e Educação, o papel do órgão foi atuar em prol das garantias dos direitos mais básicos das crianças e adolescentes, que ficavam nos semáforos junto com os pais para pedir doações.

"Isso estava incomodando e nós resolvemos acionar essa rede para tentar entender o que cada um estava fazendo. Como se trata de indígenas, o Ministério Público Federal é que, em tese, tem atribuição para lidar com o caso. Entrei em contato com o Dr. Álvaro Manzano e em seguida, entramos em contato com a Defensoria Pública da União e descobrimos que a defensoria já tinha ajuizado ação para garantir os direitos relacionados à saúde e assistência social. Ficou faltando a questão da educação".

O MPE então trabalhou na criação de uma força-tarefa para garantir um direito fundamental básico, a educação dos pequenos indígenas venezuelanos.

“Eu quis entrar com bastante força na questão da educação. A partir deste momento nós constituímos um comitê, integrado, claro pelas secretarias estaduais de educação do município e estado, para tentar entender deles qual seria a melhor forma de atender essas crianças. E o que a gente queria de prioridade é que as escolas fossem de tempo integral, exatamente para as crianças não ficarem mais no semáforo nem pela manhã nem à tarde. E em tese, os pais estariam mais livres para procurarem emprego, e para eles saírem desta situação também de miséria", explicou Sidney Fiori.

O promotor argumenta que foram feitas duas reuniões, nas quais ficou decido que as secretarias colocariam profissionais para estudar aspectos relacionados à etnia e língua. Após uma análise, eles apontaram a escola Pe. Josimo Tavares como a melhor opção.

Segundo Fiori, os venezuelanos foram ouvidos nas reuniões e depois foram entrevistados. A educação procurou visitar os locais onde eles vivem, e todos concordaram com o projeto proposto.

“Eles ficaram entusiasmados com a estrutura da escola [Pe. Josimo Tavares]. E eles concordaram que era muito melhor os filhos na escola, do que ficar no semáforo. Então ficou combinado, que [professores] seriam selecionado da etnia deles – alguns vieram para cá, e alguns são engenheiros, são pessoas qualificadas. Então, nós tentamos verificar lá quais teriam melhores condições técnicas para serem professores das crianças. Me parece que as secretarias conseguiram inicialmente quatro profissionais para serem esses professores, não apenas para passar a parte técnica, mas quando as crianças visualizarem pessoas de sua etnia ficariam mais confortáveis emocionalmente. E tem a questão da língua, afinal, as crianças não sabem falar a língua portuguesa", concluiu o promotor.

Promotor Sidney Fiori fala do papel do MPE na educação dos venezuelanos no TO

Promotor Sidney Fiori fala do papel do MPE na educação dos venezuelanos no TO

Conforme a Prefeitura de Palmas, a Secretaria Municipal da Educação (Semed), em parceria com a Secretaria de Estado da Educação, Juventude e Esportes do Tocantins (Seduc), contratou três monitores auxiliares da própria comunidade Warao para auxiliar no processo educacional dos garotos, respeitando assim, as tradições e a cultura da etnia.

“Para ajudar no processo de adaptação dessas crianças, a princípio nós iremos trabalhar com eles numa sala separada, com os monitores contratados atuando junto com os professores de língua Portuguesa e Espanhola e tão logo estejam adaptadas serão inseridas nas turmas regulares”, afirmou superintendente de Avaliação e Desempenho Educacional da Semed, Anice Moura.

As crianças já têm acesso ao transporte escolar. A Semed ficou responsável por disponibilizar um kit contendo material pedagógico, estojo escolar e um kit de material higiênico com máscaras e álcool em gel, além do uniforme escolar.

Crianças venezuelas ficaram sem ir para a escola após imigração ao Brasil — Foto: Edson Reis/G1

A luta pela vida dos refugiados em Araguaína

A exemplo de Palmas, algumas famílias refugiadas da Venezuela se instalaram em Araguaína, região norte do Tocantins. Ainda em 2019, uma cena passou a chamar atenção de quem passava pelas ruas da cidade. Eram venezuelanos com cartazes nas mãos clamando por ajuda: "Preciso de um trabalho ou uma ajuda de você para sustentar minha família. Muito obrigada e Deus abençoe".

A frase estava em uma placa segurada pelo venezuelano José Gonzales. Em junho de 2019, dez refugiados, incluindo quatro crianças, estavam no município em busca de oportunidade. Morando em casa alugada, as famílias contaram com o trabalho conjunto de voluntários religiosos, Ministério Público do Trabalho e Defensoria Pública. Os venezuelanos receberam assistência e principalmente a liberação da carteira de trabalho.

Um ano depois, em junho de 2020, em meio à pandemia da Covid-19, a Justiça deu um prazo de 72 horas para a Prefeitura de Araguaína apresentar informações da quantidade de famílias vivendo na cidade – o documento exigia que fosse informada a situação socioeconômica e a condição de saúde das famílias.

Justiça determina que famílias venezuelanas sejam realocadas para um espaço mais seguro em Araguaína — Foto: Reprodução

Por outro lado, a prefeitura informou ao g1 à época, que as famílias recebiam assistência, como auxílios de cestas básicas e kit natalidade para mulheres grávidas. Além do Aluguel Social - benefício concedido de acordo com critérios estabelecidos em lei. O município garantiu cumprir as determinações da Justiça.

Em março deste ano, mais um episódio nada confortável na vida de algumas famílias, em Araguaína. Oito famílias – 38 pessoas sendo 15 crianças, foram despejadas de uma casa alugada.

O aluguel era pago com doações e o trabalho realizado pelas ruas da cidade. Porém, o proprietário pediu o imóvel pela falta de pagamento. Sem documentação, eles não conseguiam trabalho e enfrentavam dificuldades financeiras. As famílias foram levadas para uma associação no setor Tiúba.

Indígenas venezuelanos estão vivendo de doações — Foto: Reprodução/TV Anhanguera

Em maio deste ano, a Justiça deu um novo prazo para melhoria de vida das famílias refugiadas. Desta vez, a exigência foi direcionada ao governo do Estado no sentido de incluir famílias no Programa Aluguel Social, que tem o objetivo de custear o aluguel de imóveis em caráter de emergência para famílias que precisam. O prazo estabelecido foi de 72h.

A decisão buscava beneficiar 60 venezuelanos da etnia Warao que viviam em uma casa improvisada, em Araguaína.

Em agosto, uma luz no fim do túnel na busca pela sobrevivência e de dias melhores: as famílias passaram a receber carteira de solicitação de reconhecimento de refugiado - por meio do certificado eles conseguiram emitir documentos pessoais como a carteira de trabalho.

"Quero morar aqui no Brasil porque é melhor que lá na Venezuela", disse o venezuelano Eudan Cardona, à época para a reportagem da TV Anhanguera.

Apesar de toda luta, em setembro, várias famílias foram encontradas vivendo em uma “espécie de acampamento”, e em pequenas casas, em Araguaína. O local não oferecia nenhuma estrutura para as famílias. Cera de 100 pessoas estavam morando em um espaço pequeno, com problemas de saneamento básico.

Em meio à situação, a Prefeitura de Araguaína recebeu o prazo de dez dias para destinar uma moradia adequada a venezuelanos indígenas da etnia Warao que vivem na cidade. A decisão foi tomada pela Justiça Federal, durante uma audiência realizada entre Defensoria Pública e Ministério Público Federal.

Na época, a prefeitura informou que contribuía com alimentação e prestava atendimentos sociais e de saúde. Em relação ao Aluguel Social, o município afirmou que a responsabilidade era do governo do Estado, mas diante da necessidade das famílias, a prefeitura iria apresentar propostas para solucionar o problema de moradia, no prazo de 10 dias.

O governo foi procurado em setembro para se posicionar sobre este caso, mas não se manifestou.

No início de outubro, a Defensoria Pública do Tocantins obteve na Justiça uma decisão para que a Prefeitura de Araguaína fosse obrigada a contratar alguns refugiados venezuelanos. A medida se aplica aos chefes de 13 famílias, que fugiram do país para o Brasil por causa da crise humanitária.

Em contrapartida, o município não precisaria mais pagar o aluguel das famílias. Seguindo o prazo estabelecido, o g1 procurou a Prefeitura de Araguaína para saber como está a situação das famílias após quase 25 dias depois.

Segundo a Prefeitura de Araguaína, foram contratados seis dos oito responsáveis das famílias venezuelanas na etnia Warao, que moram no município.

Os venezuelanos estão atuando na função de serviços gerais, seguindo acordo com órgãos da Justiça, e devem atuar na manutenção de parques e praças municipais.

A prefeitura informou ainda que a contratação dos outros dois segue em trâmite devido pendências na documentação, que vêm sendo solucionadas.

Dados

Segundo o último levantamento da Secretaria da Assistência Social, no início de outubro, as oito famílias da etnia Warao residentes em Araguaína somam 36 pessoas refugiadas, divididas entre 16 adultos, sendo um idoso e 20 crianças e adolescentes. Desse total, 20 são do sexo masculino e 16 do feminino.

Enquanto entes federativos e órgãos de controle buscam garantias de direito, eles seguem com a esperança de uma vida com mais qualidade. A maioria quer continuar se desenvolver no novo país.

Em comum, os estrangeiros que chegam ao estado mostram que a fuga de um país em colapso não é só uma travessia por comida. É também uma luta por um futuro melhor.

Venezuelana e criança vão para as ruas de Palmas pedir comida e dinheiro — Foto: Edson Reis/G1

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