Brasil do Futuro

Lula diz que Fies terá ‘muito mais força’ e governo vai ampliar universidades federais

Ex-presidente debateu com a população propostas para reconstruir o país e garantir um futuro de oportunidades. E voltou a citar a valorização do salário mínimo

Ricardo Stuckert
Ricardo Stuckert
Lula afirmou que 'fake news' sobre fechamento de igrejas é "cretinice" e defendeu a liberdade expressão como "sagrada"

São Paulo – Em live com formato de entrevista, na noite desta terça-feira (25), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que seu governo, caso seja eleito, vai retomar as conferências nacionais para definição de políticas públicas. Crédito para educação, cultura e empreendedorismo estarão entre as prioridades. “As cotas vão vir com muito mais força, o Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) vai vir com muito mais força e vai ter muito mais universidade federal no nosso país”, disse Lula ao responder uma das várias pergunta dos convidados. Assista aqui.

No estúdio, fizeram perguntas pessoas de diversas profissões e perfis – advogada, ajudante de pedreiro, professor, artista, empreendedora, jovens, e até representante do mercado financeiro. Intitulado Brasil do Futuro, o programa foi dividido em três blocos de meia hora cada. Lula falou sobre a recriação do Ministério da Cultura, além de uma pasta específica de segurança pública, para articular políticas com os estados.

Como tem ressaltado nas últimas semanas, Lula enfatizou que o governo precisa recuperar políticas públicas como a de valorização do salário mínimo, com ganhos reais (acima da inflação. “É um jeito de você distribuir a riqueza no Brasil. O crescimento do PIB é o crescimento da riqueza produzida no país. Se toda riqueza produzida no país você não distribuir, significa que apenas alguns vão ficar ricos e os outros vão continuar pobres. O salário mínimo é uma das melhores formas de você fazer a distribuição porque você tem quase 60 milhões de pessoas no Brasil que ganham salário mínimo”, lembrou o ex-presidente. O atual governo cogita congelar o valor, assim como o das aposentadorias.

Tempos de prisão

Uma pergunta citou o período em que o ex-presidente ficou na prisão, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba, como respeito de Lula às instituições, ainda que se considerasse injustiçado. E lembrou de ataques recentes ao Supremo Tribunal Federal ou à própria PF, por pessoas do governo ou apoiadores. “O que aconteceu no Brasil não é questão de segurança pública, é falta de respeito com as instituições. O que está acontecendo no Brasil é uma anomalia”, disse o petista, repetindo que a eleição do próximo domingo (30) não é entre pessoas ou partidas, mas entre civilização e barbárie.

Para Lula, a PF “não agiu corretamente” no episódio da prisão do ex-deputado Roberto Jefferson, no último domingo (23). “Foi condescendente.” Segundo ele, a criação de um Ministério da Segurança Pública deve levar conta as funções que cabem aos governos estaduais, mas devem trabalhar em parceria, atuando, por exemplo, nas fronteiras e no combate ao crime organizado. Sobre sua prisão, disse que recusou acordo que poderia tê-lo deixado livre, mas com tornozeleira eletrônica. “Não sou pombo-correio”, afirmou Lula. “Não troco liberdade pela minha dignidade. Não tem acordo, o acordo é a minha inocência.”

Compra de armas

O ex-presidente disse ainda que pretende editar um decreto para acabar com a “facilidade” atual para comprar armas. Observou que o próprio Jefferson tinha um “arsenal” em casa. “O condomínio onde mora o presidente, um vizinho que era miliciano, tinha 100 metralhadoras. Tem que passar pelas Forças Armadas (o acesso a armas), que também abriu mão de controlar. O problema é que falta a presença do Estado nas comunidades, faltam políticas públicas.”

Lula também respondeu a perguntas sobre empreendedorismo – prometeu mais linhas de crédito via bancos públicos – e sobre a descrença das pessoas na política. E lamentou que no período recente alguns setores tenham tornado a política “mais raivosa”, transformando adversários em inimigos.

Fechamento de igrejas

Outra questão lembrou uma “acusação” recorrente, de que ele poderia fechar igrejas. Lula disse ser “católico, batizado, crismado, fui até coroinha de igreja na Vila Carioca”, um bairro da capital entre o Ipiranga e a região do ABC paulista. E afirmou considerar “cretinice” ou “maldade” alguém fazer tal acusação. Lembrou ter assinado a lei da liberdade religiosa e a que instituiu o Dia Nacional da Marcha pae Jesus. E ressaltou que apenas fez críticas “a determinados pastores fazendo da igreja um partido político”.

Na cultura, o ex-presidente falou em “recuperar” o Ministério da Cultura, com políticas públicas de incentivo às atividades no setor. “E temos que colocar dinheiro, sim”, emendou. Mas, ao mesmo tempo, Lula apontou uma dificuldade que segundo ele impedia maior acesso a benefícios da Lei Rouanet. “Quando o companheiro era negro ou negra, era difícil o empresário dar dinheiro.”

Lula ainda ressaltou a importância do SUS, observando que a pandemia fez com que as pessoas percebem o papel fundamental de um sistema de acesso universal. E contou estar conversando com os ex-ministros Alexandre Padilha e José Gomes Temporão para conseguir meios de assegurar convênios que cubram todas as especialidades médicas.

Investimentos, Bolsonaro e fake news

Para atrair o investimento, tanto externo quanto interno, Lula reafirmou que é preciso ter “credibilidade, estabilidade e previsibilidade”. “Com esse comportamento, o dinheiro vem”, afirmou, prometendo viajar o mundo para convencer os investidores a aportar recursos no país. Sobre o meio ambiente, voltou a prometer que “não haverá garimpo ilegal em terras indígenas” e disse que a floresta em pé é “muito mais lucrativa”.

Ele citou a família Bolsonaro como “campeã mundial” em contar mentiras. Disse que é um defensor da liberdade de expressão, considerado por ele “uma coisa sagrada”. Mas disse que é preciso regular a internet, a partir do diálogo com a sociedade, para coibir as fake news e outras práticas delituosas. Disse que o celular resolve quase tudo, mas não tem sentimentos. “Nós não somos algoritmo, somos seres humanos”, disse Lula. Por outro lado, afirmou que é preciso “conectar o Brasil”, levando internet banda larga a todas as cidades do país, “sobretudo nas escolas”.

Lula lembrou que Bolsonaro imitou pessoas morrendo com falta de ar, vítimas da covid-19. “Como é que pode um presidente ser tão maléfico, tão demônio, que não respeita as pessoas?”, questionou. E acrescentou que vai promover um “mutirão” para acabar com o atraso na educação causado pela pandemia e pelo descaso do atual governo.

Endividamento e povos indígenas

Defendeu uma política indigenista “mais séria”, com condições para as pessoas morarem e produzirem, retomando as demarcações de terras e combatendo invasões. Nesse sentido, voltou a afirmar que pretende criar o Ministério dos Povos Originários. “Os indígenas vão ter um ministério nesse país”, com um representante indígena ocupando os principais postos da pasta e de outros órgãos ligados aos cuidados dos povos originários. Do mesmo modo, defendeu a demarcação de terras para as comunidades quilombolas.  Também citou que o Brasil tem uma dívida com o povo negro e com a África que não pode ser “paga em dinheiro, mas em ciência e tecnologia”.

Na última pergunta do público, Luís Felipe, que é vendedor, quis saber das propostas de Lula para resolver a questão do endividamento das famílias. O candidato afirmou que, se eleito, vai chamar os varejistas para negociar as dívidas e limpar o nome das pessoas. Citou, inclusive, a criação de um fundo garantidor para viabilizar essas negociações. Além do varejo, ele afirmou que pretende negociar também com os bancos, para reduzir a incidência de juros sobre as dívidas. O objetivo, segundo o ex-presidente, é retomar o poder de consumo de cerca de 80 milhões de pessoas que estão endividadas. “Esse é um compromisso que você pode me cobrar”, respondeu.

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