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Brasil Educação

Luciane Muniz: ‘É preciso repensar o modelo educacional’

Professora da Faculdade de Educação da Unicamp diz que são necessários alguns cuidados para que o ensino domiciliar seja eficiente, mas refuta a visão de que prejudica a socialização

Qual é a sua opinião sobre o homeschooling ?

O sucesso dessa experiência no Brasil depende de muitos fatores. Algo muito interessante que esse movimento traz é a crítica à instituição escolar, seja ela pública ou privada, como modelo único de educação. As mudanças na sociedade e na forma de aprender foram muitas nas últimas décadas, sobretudo com os rápidos avanços da tecnologia. Contudo, a escola, salvo raras exceções, tem mantido a mesma forma de ensinar, baseando-se sobretudo na transmissão de conteúdos por um adulto a um grupo de crianças.

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Como mudar isso?

Seria necessário repensar esse modelo e investir significativamente na formação e atratividade da carreira docente, bem como nas instituições escolares, para que novas experiências fossem realizadas. Pesquisas internacionais (e algumas nacionais, ainda que poucas) já revelam que as crianças e adolescentes que estudam em casa podem ter resultados iguais ou superiores aos que vão para a escola.

Quais os cuidados necessários para aplicar a educação domiciliar?

Essa experiência tem aspectos positivos, como a possibilidade de aprofundar conhecimentos que tenham sentido para a criança; torna viva a relação com a busca do aprender, podendo envolver as mais diferentes situações diárias nesse processo. No entanto, várias questões merecem atenção, como a formação da família educadora e a importância da ampliação das situações de convívio.

Esse método pode prejudicar a socialização da criança?

Sou contrária à relação do homeschooling com a falta de socialização e formação para a cidadania. A crítica que sempre surge é a de que para essas crianças fora da escola a socialização seria limitada, dado que os pais selecionam as pessoas com quem seus filhos convivem; no entanto, isso já acontece, dado que, no Brasil, a legislação permite às famílias com certo poder aquisitivo escolher entre a escola pública e a privada. E quando a família escolhe uma escola privada confessional, por exemplo, está também selecionando o tipo de pessoa com quem seu filho vai socializar.