Gabriel Kanner

Presidente do Instituto Brasil 200, é formado em relações internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM).

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Linguagem neutra: 4 razões pra você rechaçar o mais novo delírio progressista

A linguagem neutra sabota a educação brasileira e exclui milhões de brasileiros com deficiência

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Os progressistas estão sempre buscando novas formas para tentar moldar a sociedade de acordo com sua visão de mundo. Em toda área que eles atuam —educação, ciências sociais, cinema, literatura, e, mais recentemente, esportes e linguagem, entre outras— o objetivo é sempre desestabilizar o status quo; o padrão atual adotado pela sociedade em que vivemos.

A mentalidade progressista é imbuída de uma aversão a tudo que foi construído pela humanidade até hoje. Existe a ideia de que tudo que herdamos dos nossos antepassados, e que dão forma à nossa sociedade —a estrutura familiar, a religião, as instituições— deve ser eliminado e substituído por algo mais moderno que atenderá aos anseios da mentalidade progressista.

Em resumo, acreditam que tudo que foi feito até aqui não presta, e que eles sabem como construir a sociedade ideal que nos aguarda no futuro.

Estudante em escola do Amazonas - Dirceu Neto - 1º.nov.2016/Folhapress

Essa “construção”, ou, poderia-se dizer, destruição, agora chegou à nossa querida língua portuguesa. A linguagem neutra visa substituir o padrão da norma culta do português e desestruturar nossa língua falada e escrita. Essa linguagem, que ainda parece uma piada de mau gosto para muitos, inacreditavelmente, está ganhando espaço em diferentes segmentos, inclusive no mundo corporativo.

Está cada vez mais comum lermos um “obrigadx” em apresentações ou trocas de email de grandes empresas. Os defensores da linguagem neutra contam com a passividade dos que preferem evitar algum conflito a pedir que seu interlocutor utilize português correto. E muitos são passivos por não entenderem as graves consequências que a linguagem neutra carrega consigo. Portanto, vou enumerar quatro razões para você se contrapor toda vez que se deparar com alguém utilizando linguagem neutra:

1. É uma sabotagem da educação brasileira

Segundo o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes) de 2018, 68,1% dos estudantes brasileiros com 15 anos de idade não possuem nível básico de matemática, 55% de ciências e 50% de leitura. O nível básico é o mínimo para que a pessoa consiga exercer plenamente sua cidadania. Estes números estão estagnados desde 2009.

Segundo o censo realizado pelo IBGE em 2010, 25% das crianças brasileiras terminaram a 4a série analfabetas, e apenas 29% dos jovens que concluíram o ensino médio sabiam português.

Como podemos querer impor drásticas alterações à estrutura gramatical da Língua Portuguesa diante desse cenário? A linguagem neutra é uma sabotagem pois tumultua e dificulta ainda mais o já caótico cenário educacional brasileiro, adicionando diversas complexidades a um dos principais pilares da nossa nação —o idioma.

2. É excludente para crianças e adultos com deficiências físicas ou intelectuais

Muito ouve-se dizer que a linguagem neutra é importante pois é “inclusiva”. Essa afirmação é uma falácia completa. O exato oposto é verdadeiro; é uma linguagem extremamente excludente. Dezenas de milhões de brasileiros têm dificuldades físicas ou cognitivas, e a linguagem neutra, dizendo-se inclusiva, afasta ainda mais essas pessoas do resto da sociedade.

Ela exclui com deficiência intelectual ou distúrbios de aprendizagem, como a disgrafia, distúrbio de escrita em que a criança apresenta dificuldades em escrever letras e números, a dislexia, que causa dificuldade de leitura, a discalculia, que causa dificuldade para entender conceitos relacionados a números, usar símbolos ou funções necessárias para o sucesso em matemática, e o TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade), que causa desatenção, inquietude e impulsividade.

A linguagem neutra também exclui pessoas com deficiência física. Segundo o censo de 2010, cerca de 10 milhões de brasileiros são surdos ou têm algum problema auditivo. A educação dos surdos, segundo nossa Constituição, deve ser bilíngue, com a Libras (Língua Brasileira de Sinais) como primeiro idioma e a Língua Portuguesa como segundo. A linguagem neutra impõe, além da dificuldade física, mais um enorme obstáculo para pessoas com problemas auditivos adquirirem conhecimento da língua portuguesa. O mesmo acontece com a comunidade de pessoas com deficiência visual, que utilizam o sistema de escrita tátil braille para conseguirem ler.

O conhecimento da Língua Portuguesa é imprescindível para o exercício da cidadania. É de uma falta de sensibilidade sem precedentes a exclusão de milhões de brasileiros, que já têm dificuldades o suficiente, em nome de uma agenda ideológica.

3. Não combate o preconceito

Outro argumento muito utilizado para defender a linguagem neutra é de que estaríamos “combatendo o preconceito” contra grupos LGBTQ. É também um argumento desonesto e falso. A adoção da linguagem neutra em nada contribui para a diminuição do preconceito, que está contido muito mais na intenção de quem fala do que na escrita de determinada palavra.

Eu argumentaria ainda que a linguagem neutra provoca o efeito inverso. É algo tão distante da realidade da maioria dos brasileiros, que reduz a credibilidade dos grupos de militância LGBTQ e causa deboche.

4. É uma língua artificial, que não se baseia no desenvolvimento orgânico do idioma

Os defensores da linguagem neutra costumam dizer que os idiomas evoluem naturalmente; que a escrita e o sentido das palavras sofrem alterações com o tempo, e portanto a “evolução” para a linguagem neutra seria algo orgânico.

Segundo Napoleão Mendes de Almeida, gramático, professor brasileiro de português e latim e autor da “Gramática Metódica da Língua Portuguesa”, a língua não é um artigo de fabricação, mas o reflexo da formação, da história de um povo. É evidente que a língua sofre alterações ao longo do tempo, mas isso ocorre de forma orgânica dentro de uma sociedade, através de um processo gradual e demorado. Não é o caso da linguagem neutra. Trata-se de uma linguagem artificial, que é aquela de nascimento forçado, calculado, que não tem o propósito de representar o povo de uma nação, mas de privilegiar um pequeno grupo em detrimento da maioria dos cidadãos brasileiros.

Acredito que temos aqui os principais argumentos contra a adoção da linguagem neutra, tanto nas escolas como na sociedade de forma geral.

Há importantes iniciativas em andamento que visam restringir o uso da linguagem neutra. Na Câmara Municipal de Belo Horizonte, um projeto do vereador Nikolas Ferreira está avançando neste sentido. Em Santa Catarina, por meio de um decreto do governador Carlos Moisés, sugerido pela deputada estadual Ana Campagnolo, a linguagem neutra foi proibida nas escolas. Além destas iniciativas do setor público, a sociedade civil deve se opor a esse avanço nas pequenas batalhas do dia a dia. Que preservemos nossa Língua Portuguesa da ideologia progressista.

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