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Líderes mundiais alertam para tragédia da 'geração Covid' de crianças com falhas na educação

Em carta aberta, políticos e instituições estimam que 30 milhões de estudantes não retornem mais às aulas após a pandemia
Carta aberta a líderes cobrando medidas para crianças em países pobres Foto: Issouf Sanogo/AFP
Carta aberta a líderes cobrando medidas para crianças em países pobres Foto: Issouf Sanogo/AFP

RIO — Um grupo de 275 líderes mundiais, economistas, educadores e outras autoridades convocou as nações do G20 a tomarem medidas para prevenir a crise do que chamaram ‘geração COVID’, que englobaria dezenas de milhões de crianças que ficarão sem educação por conta da pandemia, segundo estimativas do Banco Mundial e da Unesco.

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Os ex-primeiros-ministros Mario Monti (Itália) e George Papandreou (Grécia), o ex-secretário-geral da ONU Ban Ki-Moon, entre outros, são alguns signatários da carta aberta, dizendo que são necessárias medidas urgentes e, com a abertura da economia, a prioridade imediata deve ser as cerca de 30 milhões de crianças que talvez nunca mais voltem à escola.

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Os autores do documento também alertam que, além do impedimento de estudar, muitos tiveram o acesso à internet negado e, com a perda da merenda escolar gratuita, a fome está crescendo.

“Não podemos ficar parados e permitir que esses jovens sejam privados de sua educação e de uma chance justa na vida", diz o texto.

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Os líderes também estão pedindo ao G20 que o grupo aumente o financiamento para os países pobres: "O Banco Mundial agora estima que no próximo ano os gastos gerais com educação em países de baixa e média renda poderão ser US$ 100 a US$ 150 bilhões mais baixos do que o planejado anteriormente".

Suspensão de pagamento de dívida dos países pobres

Mary Robinson, ex-presidente da Irlanda e alta comissária da ONU para os direitos humanos, Helen Clark, ex-primeira-ministra da Nova Zelândia, e Gordon Brown, ex-primeiro-ministro do Reino Unido e Enviado para a Educação Global da ONU são outros que assinam a carta. As três principais demandas deles são:

  • Em primeiro lugar, como diz a carta, todos os países devem se comprometer a proteger os gastos com educação, priorizando as necessidades das crianças mais desfavorecidas por meio de transferências monetárias condicionais e incondicionais, quando apropriado, para promover a participação escolar;
  • Outra demanda é que a comunidade internacional deve aumentar a ajuda para a educação, concentrando-se nos mais vulneráveis, incluindo os pobres, meninas, crianças em situações de conflito e deficientes. A maneira mais rápida de liberar recursos, propõem os signatários, é por meio do alívio da dívida. Os 76 países mais pobres terão que pagar US$ 86 bilhões em custos do serviço da dívida nos próximos dois anos. "Pedimos a suspensão da dívida com a exigência de que o dinheiro para o serviço da dívida seja realocado para a educação e outros investimentos prioritários para as crianças."
  • O grupo também pede para que o FMI emita US$ 1,2 trilhão em Direitos Especiais de Saque e canalize esses recursos para os países que mais precisam deles, criando uma plataforma para recuperação. Eles também cobram que o Banco Mundial deve libere mais apoio para países de baixa renda por meio de um orçamento suplementar.

“Convocamos o G20, o FMI, o Banco Mundial e os bancos regionais de desenvolvimento e todos os países a reconhecer a escala da crise e apoiar iniciativas de emergência. A educação está ligada ao progresso em praticamente todas as áreas do desenvolvimento humano — da sobrevivência infantil à saúde materna, igualdade de gênero, criação de empregos e crescimento econômico inclusivo — a emergência educacional irá minar as perspectivas de alcançar todos os nossos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para 2030 e potencialmente definidos retroceder o progresso na igualdade de gênero em anos."