Antônio Gois
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Antônio Gois

Um espaço para debater educação

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Antônio Gois

Jornalista de educação desde 1996. Autor dos livros 'O Ponto a Que Chegamos'; 'Quatro Décadas de Gestão Educacional no Brasil' e 'Líderes na Escola'.


Os resultados do Ideb de 2021, divulgados na sexta-feira passada, confirmam, em maior ou menor medida, o que já se esperava: um recuo na aprendizagem dos alunos, e um aumento da aprovação. Como o índice é composto por estas duas variáveis, a perda de desempenho nas provas de matemática e português foi em parte compensada pelo fato de a maioria das redes ter, acertadamente, flexibilizado suas políticas de reprovação durante o contexto da pandemia.

Sobre o aspecto da aprendizagem, havia o temor de um recuo até maior do que o verificado, mas é preciso cautela nas comparações, justamente por se tratar de um período atípico. Independentemente do real tamanho da queda, não há dúvida de que os esforços daqui para a frente precisam continuar na direção de recuperar o que foi perdido, mas acelerando o ritmo de melhoria que era verificado antes da pandemia.

No caso da aprovação, a lógica é de certa forma inversa: é preciso evitar ao máximo o retorno ao patamar anterior à pandemia. Três gráficos apresentados na coletiva de divulgação de resultados pelo presidente do Inep, Carlos Moreno, mostram bem o tamanho do desafio. Eles se referem às taxas de insucesso (soma dos alunos reprovados e que abandonaram os estudos) em 2019, 2020 e 2021, em cada série dos ensinos fundamental e médio.

Na série histórica recente da educação básica, tradicionalmente os maiores picos de reprovação acontecem no primeiro ano do ensino médio. Antes da pandemia (em 2019), 21% dos jovens da rede pública foram reprovados ou abandonaram a escola nesta série. A correta constatação de que seria injusto reprovar alunos que tiveram sua oportunidade de aprendizagem duramente afetada pela pandemia fez com que, em 2020, este percentual caísse para 6,4%. Em 2021, ele subiu um pouco em relação ao ano anterior (foi para 9,8%), mas continuou bem abaixo do período pré-pandemia.

Com frequência, quando se constata o ainda alto padrão de repetência na educação brasileira, a discussão acaba descambando para um debate raso entre aprovar sem que o aluno tenha aprendido, ou reprovar para que ele possa supostamente aprender no ano seguinte. A boa notícia nesse front é que temos exemplos de redes municipais e estaduais que, já no período pré-pandemia, estavam conseguindo conciliar melhoria na aprendizagem com aumento significativo da aprovação. Dois casos notáveis são Ceará e Pernambuco, tema do livro “Pontos fora da curva”, de Olavo Nogueira Filho.

Conforme já argumentei diversas vezes nesse espaço, a evidência no campo da avaliação educacional é inequívoca: reprovar é péssima estratégia pedagógica, pois não aumenta a chance de aprendizagem no ano seguinte, e ainda eleva consideravelmente o risco de evasão. E é sempre bom lembrar que o Brasil abusou durante o século passado de taxas de repetência similares em determinados períodos apenas aos de países da África subsaariana, sem que isso resultasse em melhoria da qualidade.

Na coletiva de imprensa e na análise feita por muitos especialistas dos resultados do Ideb, foi lembrado que esse aumento da aprovação entre 2019 e 2021 (com consequente queda na reprovação e abandono) foi “artificial”. Não há nenhum equívoco na afirmação, mas é preciso ressaltar, como bem fez o presidente do Inep, que o patamar anterior à pandemia é também absolutamente inaceitável. Olhando para o futuro, não nos serve de baliza.

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