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Chico Alves

REPORTAGEM

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Com pressão de bolsonaristas, Castro recua em lei contra Escola Sem Partido

Governador Cláudio Castro - Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro
Governador Cláudio Castro Imagem: Rogerio Santana/Governo do Rio de Janeiro

Colunista do UOL

21/05/2021 04h00

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Oficializado há 20 dias como governador do Rio, depois que o impeachment de Wilson Witzel foi confirmado, Cláudio Castro (PSC) está às voltas com sua primeira crise política. O motivo é inusitado: após sancionar uma lei que garante a livre expressão do pensamento em ambiente escolar, na contramão do projeto Escola Sem Partido, Castro sofreu pressão de políticos bolsonaristas e resolveu voltar atrás. De forma inédita, vetou o texto legal que já havia promulgado.

De autoria dos deputados Carlos Minc (PSB) e do presidente da Assembleia Legislativa, André Ceciliano (PT), a lei foi divulgada no Diário Oficial da quarta-feira, 19. Porém, Castro fez publicar uma edição extra do D.O. no mesmo dia, com nova versão, vetando na íntegra o texto anterior.

A lei 9.277 diz em seu artigo primeiro: "Todos os professores, estudantes e funcionários das escolas sediadas do estado do Rio de Janeiro são livres para expressarem pensamentos e opiniões no ambiente escolar, sendo assegurado o mesmo tempo, espaço e respeito para quem deles divergir, bem como a pluralidade de ideias".

O texto é uma resposta ao movimento Escola Sem Partido, que tem o objetivo de censurar conteúdos ensinados por professores em sala de aula que os pais considerem políticos ou imorais. Integrantes do grupo incentivam, inclusive, pais e alunos a registrarem em vídeo os ensinamentos dos professores.

Por isso, o artigo 4º da lei determina que "no ambiente escolar, profissionais da educação e estudantes, de escolas públicas e privadas, só podem ser filmados ou gravados mediante autorização expressa de quem será filmado ou gravado ou de seu responsável".

Deputados bolsonaristas foram às redes sociais para comemorar o veto. No entanto, os autores do texto consideram o expediente inconstitucional.

Diário Oficial com a lei publicada e a versão posterior, com o veto  - Reprodução - Reprodução
Diário Oficial com a lei publicada e a versão posterior, com o veto
Imagem: Reprodução

"O que ele está fazendo é impossível juridicamente", criticou Carlos Minc à coluna. "Sancionou a lei e depois disso o texto só pode ser derrubado na Justiça, se alguém disser que é inconstitucional, ou por outra lei que a revogue".

Apesar disso, a deputada Alana Passos (PSL) comemorou o veto em suas redes sociais. "O Governador do Rio, Cláudio Castro, acaba de atender a um pedido meu e vetar o PL 4496/2018, que tirava o direito de defesa das nossas crianças em sala de aula!".

Para Carlos Minc, o governador fez algo completamente irregular. "Cláudio Castro criou ao mesmo tempo uma crise política e uma crise jurídica", define.