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Direitos da criança e do adolescente

Kids First: Campanha coloca interesses de crianças no centro do debate sobre crise climática

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Por Bruna Ribeiro
Atualização:
Crédito: Tiago Queiroz / Criança Livre de Trabalho Infantil  

As crianças são consideradas um dos grupos mais vulneráveis à crise do clima, ao terem o desenvolvimento afetado e os direitos violados por consequências que vão de desastres naturais à escassez de água e comida.

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De acordo com o Instituto Alana, mais de uma em cada quatro mortes de crianças com menos de 5 anos está direta ou indiretamente relacionada a riscos ambientais e quase 1 bilhão de crianças e adolescentes vivem em um dos 33 países classificados como de risco extremamente elevado, inclusive o Brasil.

Pensando nisso, a organização lançou a campanha Kids First (Crianças Primeiro, em português), na COP27, juntamente a outras organizações internacionais, visando colocar os interesses de crianças e adolescentes no centro do debate sobre a crise climática. O Blog conversou com JP Amaral, coordenador do programa Criança e Natureza, do Instituto Alana. Confira a entrevista:

Como surgiu a ideia da campanha Kids First e no que consiste a iniciativa?

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JP Amaral: A campanha surge a partir de um movimento de organizações internacionais pelos direitos das crianças, incluindo o Instituto Alana, que defende que, por serem as mais afetadas pelas mudanças climáticas, as crianças devem ser colocadas em primeiro lugar nas negociações climáticas. Em 30 anos da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima (UNFCCC), nunca houve uma decisão que olhasse para as necessidades específicas das crianças no enfrentamento à crise climática. Desta forma, buscamos sensibilizar e alertar os países participantes da COP27 para a importância das crianças serem colocadas em primeiro lugar por meio de uma campanha de comunicação, trouxemos um Policy Paper com sugestões concretas para que as crianças fossem representadas nas discussões Perdas e Danos, Gênero, Adaptação, entre outros, e também propomos um instrumento específico para a garantia de ações climáticas pelas crianças a ser levado para as próximas reuniões dos países.

Como foi o lançamento da iniciativa na COP e como foi a participação do Instituto Alana no evento?

JP Amaral: A iniciativa foi lançada em uma coletiva de imprensa com uma delegação de mães de todo o mundo em conjunto com o Instituto Alana e contou com a participação da Dra. Maria Neira, diretora de saúde pública da Organização Mundial da Saúde (OMS). Sentimos grande receptividade e apoio dos países e organizações presentes na COP, que perceberam e levaram para suas salas de negociação a relevância das crianças serem priorizadas. Foi o que aconteceu com representantes de Costa Rica que, pela primeira vez, incluiu em uma mesa de negociações a fala do jovem ativista colombiano de 13 anos, Francisco Vera Manzanares, trazendo as demandas das crianças para os acordos climáticos.

Por que as crianças são as mais afetadas pelos impactos das mudanças do clima? Como elas são afetadas? Temos dados e exemplos para ilustrarmos essa condição?

JP Amaral: Segundo a UNICEF, 1 bilhão de crianças está exposta a pelo menos um risco climático, o que representa quase metade de toda a população infantil mundial. A OMS levantou que uma a cada quatro mortes de crianças de até 5 anos está associada a fatores ambientais. São riscos como ondas de calor, secas, enchentes e poluição do ar que prejudicam principalmente as crianças. Por estarem em uma fase peculiar de desenvolvimento físico, psicológico, emocional e cognitivo, as mudanças climáticas afetam diretamente e mais expressivamente sua saúde física e mental, suas oportunidades de ensino e lazer, e são as principais vítimas de violências em situações de refúgio climático.

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Quais são os caminhos de enfrentamento à mudança climática?

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JP Amaral: Começa pela redução drástica das fontes de emissão de gases de efeito estufa. É necessário cortar combustíveis fósseis das nossas matrizes energéticas, investir em tecnologias sustentáveis, zerar o desmatamento nos biomas, em especial no Brasil, e mudar o modelo de consumo da nossa sociedade. Mas para além de mitigar, precisamos também adaptar e recuperar as perdas e danos. Adaptar significa preparar os locais mais afetados aos impactos climáticos que já estão em curso, como preparar as escolas para possíveis enchentes ou ciclones. Recuperar as perdas e danos significa reparar os prejuízos dos episódios que já vem ocorrendo sucessivamente, como os deslizamentos causados pelas tempestades em Petrópolis e a enchente que cobriu um terço do Paquistão. Todas essas são ações que devem ser orquestradas para trocarmos o pneu com o carro andando e ainda conseguirmos fazer com que o carro pare de poluir. Só assim chegaremos à meta de subir a temperatura média global até no máximo 1,5 graus.

Qual é a importância da participação de crianças e adolescentes nesse debate?

JP Amaral: Deixar de incluir crianças e adolescentes nas discussões climáticas significa virar as costas para 1/3 da população mundial. São 2,2 bilhões de pessoas mais afetadas hoje e que se responsabilizarão por este planeta no futuro, e que precisam, portanto, estar no centro do debate. Um avanço importante nesta COP, também protagonizado pela sociedade civil, foi que pela primeira vez tivemos um pavilhão da criança e juventude, onde ocorreram debates e reuniões com tomadores de decisão do mundo todo. Tal iniciativa entrou como recomendação no acordo final da COP27 para que seja repetida nas próximas conferências.

Como a sociedade pode contribuir no enfrentamento ao problema?

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JP Amaral: A sociedade não só pode contribuir como é a que tem feito mais. São as crianças que têm ido para as ruas, inclusive fazendo greve da escola, mas não só, e chamado a atenção dos tomadores de decisão para que respondam à crise climática com mais agilidade e ambição. É importante cada um fazer sua parte no dia a dia, buscando um estilo de vida mais sustentável, mas sabemos que o problema é sistêmico e exige políticas públicas e privadas para que as pessoas, como cidadãos e consumidores, possam ter os incentivos necessários para enfrentar conjuntamente a crise climática. As crianças já estão pedindo isso, basta escutá-las e agir.

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