Jundiaí (SP) promove atividades ao ar livre para estudantes da rede

Publicado dia 12/03/2021

Selo Reviravolta da EscolaHá seis anos as secretarias de Educação e de Planejamento e Urbanismo de Jundiaí (SP) firmaram uma parceria com o Instituto Alana para encontrar e criar espaços nas escolas e na cidade que promovam a aprendizagem para além da sala de aula uma verdadeira busca pelo “desemparedamento” dos estudantes. Os resultados se mostraram frutíferos, especialmente agora, para lidar com a pandemia. “É uma possibilidade de pensar a educação integral, conectando conteúdos curriculares ao território e à natureza”, diz Vastí Ferrari Marques, secretária de Educação de Jundiaí. 

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A primeira etapa desse processo foi a realização de uma série de formações, pesquisas, experiências e debates com a equipe pedagógica da rede, que se intensificaram sobretudo a partir de agosto do ano passado. 

Depois, as 108 escolas da rede se mobilizaram para analisar sua realidade e demandas, a infraestrutura que possuem e o território que as circundam. Foram mapeadas praças, parques, centros esportivos e outros espaços da própria escola, aliando o planejamento da rotina e a adaptação pedagógica e curricular às possibilidades que cada unidade encontrou. 

Ao mesmo tempo, as equipes estudaram protocolos nacionais e internacionais de higiene e biossegurança, o Plano de Reabertura das Escolas do Estado de SP, e a Secretaria promoveu as adaptações necessárias nas escolas para garantir a proteção de todos e todas. 

“Promover atividades ao ar livre além de trazer benefícios para o desenvolvimento das crianças e adolescentes, agora é uma questão de segurança sanitária”, explica Paula Mendonça, assessora pedagógica do Criança e Natureza, programa do Instituto Alana dedicado a promover essa interação.

Até 12 de março, o município de Jundiaí (113 mil habitantes), a 50 km da capital paulista, registrava 27 mil casos de Covid-19 e 658 óbitos desde o início da pandemia.

E assim, em 1º de fevereiro tiveram início as atividades da rede escolar de Jundiaí, respeitando o limite de 35% dos estudantes. A secretaria de Saúde, que deu o aval para as atividades e participou dos planejamentos, também monitora as crianças e os professores para promover a vigilância epidemiológica e garantir que qualquer caso de coronavírus seja rastreado e novas transmissões, bloqueadas. 

“Quando a escola não possui espaço aberto próprio, as crianças vão caminhando a pé até o local escolhido, em pequenos grupos e obedecendo os protocolos de sanitização. Temos feito tudo com muita organização e intencionalidade, e há desafios, como professores que estão com medo, problemas com licitação para compra de materiais e a manutenção dos prédios escolares. Mas é preciso encontrar caminhos, porque nada disso pode ser um impeditivo para a garantia do direito das crianças à educação”, ressalta Vastí.

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Crianças da EMEB Anna Pontes Chagas, em Jundiaí (SP), durante uma atividade no pátio

Crédito: Simone Marquezi/Acervo pessoal

A experiência do município deu origem ao “Guia de Aprendizagem ao Ar Livre em Jundiaí”, do Programa Criança e Natureza, que embora traga especificidades do território, aponta caminhos de adaptação para outras redes se inspirarem. “O documento sugere um diagnóstico da escola e do território para planejar como usar espaços ao ar livre na retomada de atividades presenciais. E todo esse trabalho precisa ser intersetorial, envolvendo desde a Educação até a Saúde, em relação aos protocolos e vigilância epidemiológica, e as áreas de Urbanismo e Trânsito, para pensar esses espaços e os trajetos até eles”, explica Paula. 

Para além da pandemia, por que usar espaços ao ar livre?

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), o risco de transmissão do coronavírus ao ar livre é muito menor do que em ambientes fechados, se forem grupos pequenos que mantenham o uso da máscara, o distanciamento, e a higienização das mãos e objetos. É por isso que muitas escolas têm optado por promover atividades em espaços abertos. Mas, para além da biossegurança durante a pandemia, estar em contato com a natureza e aprender em outros espaços para além da sala de aula é um direito das crianças e adolescentes. 

“O desemparedamento já era urgente por evidências de que esse tipo de vida prejudica a saúde mental e física das crianças. Mas também porque amplia a educação para além do desenvolvimento cognitivo, e contribui para a formação de um território educativo. Ou seja, que a educação possa se efetivar por vários atores da sociedade, em cidades mais amigáveis”, explica Paula Mendonça. 

Conheça o material de formação criado a partir do documentário O Começo da Vida 2 – Lá Fora, que traz um percurso formativo para potencializar a ação de professores que querem dar o primeiro passo para fora da sala de aula.

Assim, além de poderem estudar diversas disciplinas em ambientes abertos, a própria natureza pode ser objeto de estudo e apreciação ou palco para brincadeiras, promovendo a interação entre os estudantes e sua realidade. No documentário O Começo da Vida 2 – Lá Fora, idealizado e produzido pela Maria Farinha Filmes, Instituto Alana e Fundação Boticário, é possível conhecer diversas experiências onde esse movimento provou-se potente, como o Navegando nas Artes, que acontece na represa Billings, no Grajaú (SP), e leva jovens e adultos do território para conhecer potências e vulnerabilidades da represa por meio da navegação de barco à vela.

“Se a criança não cria uma relação afetiva com a natureza na infância, que acontece por meio de experiências do corpo dela nesse ambiente, como pode cuidar de algo que pouco conhece ou gosta? Nosso desequilíbrio ecológico também vem dessa desconexão”, alerta Paula. 

Aprendizagem ao ar livre na prática: um relato

A EMEB (Escola Municipal de Educação Básica) Anna Pontes Chagas, em Jundiaí (SP), conta com amplos espaços externos, gramados e árvores, e uma quadra poliesportiva, as atividades ao ar livre sempre foram uma constante. Essa experiência foi especialmente útil a partir da reabertura das escolas da rede em fevereiro. Confira, abaixo, um relato da professora Simone Marquezi sobre como tem sido a rotina de sua turma de Educação Infantil.

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“Foi gratificante ver a necessidade que elas [crianças] têm em relação à escola”, diz a professora Simone Marquezi

Crédito: Simone Marquezi/Acervo pessoal

“Desde o ano passado estamos em formação, estudando e planejando. Temos acesso a todos os equipamentos de segurança e as crianças também já estão adaptadas ao uso da máscara e à rotina de higienização. Também fizemos muitas conversas com as famílias para alinhar como seria essa volta, e quem escolheu permanecer em casa continua com as atividades remotas como no ano passado.

Já as que voltaram, nós dividimos em dois grupos: as que já tiveram contato com a creche e as que nunca tiveram. Esses grupos se alternam semanalmente, e enquanto estão em casa têm atividades para desenvolver. Quando elas voltam à escola, discutimos essas atividades e avançamos. Agora, estamos fazendo um processo de avaliação para, a partir desse diagnóstico, montarmos o planejamento para o ano.

Nos espaços externos da escola, nós realizamos atividades de acordo com os campos de experiência da BNCC (Base Nacional Comum Curricular). São contações de histórias com vários recursos, músicas, e brincadeiras livres e dirigidas. O tempo todo os professores estão observando e registrando. Depois elas fazem a higienização e tem o momento da merenda, com distanciamento e limpeza constante.

Nós não deixamos de ter uma preocupação, mas temos um ambiente preparado para eles, um planejamento bem estruturado e uma organização clara, e isso me dá mais segurança, e as famílias também têm me relatado isso.

Durante a primeira semana de atividades, aconteceu algo que eu nunca tinha visto em 19 anos de trabalho. Geralmente o período de adaptação é tenso, as crianças choram muito, mas dessa vez não teve choro. E na hora da família buscar, vi várias crianças fazendo birra para não ir embora. Foi gratificante ver a necessidade que elas têm em relação à escola, de estar em contato com outras crianças, em um ambiente preparado para elas. E depois recebi a devolutiva de várias famílias falando que os filhos gostaram muito, e agradecendo o acolhimento.”.

O que é a #Reviravolta da Escola?

Realizado pelo Centro de Referências em Educação Integral, em parceria com diversas instituições, a campanha #Reviravolta da Escola articula ações que buscam discutir as aprendizagens vividas em 2020, assim como os caminhos possíveis para se recriar a escola necessária para o mundo pós-pandemia.

Leia os demais conteúdos no site especial da #Reviravolta da Escola.

No lugar da volta, a reviravolta da escola

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