Por Carlos Barroco, Rede Amazônica — Boa Vista


A ação ocorreu nos dias 11 e 12 de janeiro — Foto: Supcom/Ale-RR

Olhos e ouvidos atentos a cada frase, foi assim que a plateia com cerca de 60 pessoas acompanhou o ciclo de palestras sobre adolescência, gravidez precoce, automutilação, depressão, suicídio, autoconhecimento, direitos e deveres indígenas.

A ação ocorreu nos dias 11 e 12 de janeiro na Comunidade Malacacheta, no município de Cantá, e fez parte primeiro módulo do curso de multiplicadores “Exercendo Cidadania nas Comunidades Indígenas”, promovido pelo Programa de Direitos Humanos e Cidadania (PDHC) da Assembleia Legislativa de Roraima.

"A nossa primeira capacitação do ano é diferente, pois é voltada para o jovem indígena. Ela foi requisitada pelas lideranças da Serra da Lua. E os assuntos abordados, como gravidez na adolescência, automutilação e alcoolismo estão de acordo com o que os líderes levantaram e viram de maior necessidade”, explicou, na abertura do evento, a presidente do programa, a parlamentar Lenir Rodrigues (Cidadania).

A população da região tem cerca de 10 mil habitantes distribuídos em 21 comunidades, onde predominam as etnias Wapichana e Macuxi.

Ciclo de palestras também abordou os direitos e deveres indígenas — Foto: Supcom/Ale-RR

Para o coordenador da Serra da Lua, Clóvis Ambrósio, a juventude local cresceu e os hábitos mudaram. Por isso é importante criar formas de se comunicar com a nova geração.

“Faço parte do movimento indígena desde 1974 e vejo que a nova geração aumentou. Mas muitos não querem obedecer aos pais e às orientações das lideranças. Então, esses cursos com a participação do jovem vão ser muito bons para a gente ter mais força na comunidade com relação a orientações, porque antes só nós, velhos, falávamos e eles podiam dizer: ‘esse velho está ficando doido’. Agora, com essa oportunidade, podem conhecer quais direitos têm por meio de outros jovens”, explicou.

Segundo Jucileia Teixeira, organizadora da capacitação e coordenadora do Centro de Apoio e Assuntos Indígenas (CAAI), vinculado ao PDHC, a ideia é justamente essa: que o conhecimento adquirido seja compartilhado com a comunidade. “Quem participar, poderá passar os ensinamentos dos cursos para outras pessoas das comunidades indígenas e até mesmo nas escolas”, ressaltou.

E a semente multiplicadora da capacitação foi ao encontro das situações vivenciadas na região, como a falta de educação sexual e planejamento familiar. Problemas frequentes na Comunidade do Canauanim, onde vive Lilian Cadete da Silva, 15 anos, da etnia Wapichana.

“O tema gravidez na adolescência foi o que me chamou mais atenção. Ano passado houve muitos casos na minha comunidade, até com crianças de 12 anos. É importante para termos mais consciência”, revelou.

Alcineia Pinho é mãe de quatro filhas, com idades entre 13 e 23 anos. Vice-coordenadora da Comunidade do Campinho, da terra indígena Canauanim, ela também destacou a gravidez precoce e o suicídio como problemas de saúde pública enfrentados pelos jovens.

“Como mãe, me preocupo muito e levo essa preocupação para os nossos jovens. Na minha comunidade, como nas outras, a gravidez na juventude é grande. Assim como o suicídio, principalmente na Serra da Lua. Nós tivemos aumento considerável de suicídios de jovens”, lamentou.

As etnias indígenas apresentam costumes, crenças e línguas distintas, independentes da visão de mundo e dos aspectos característicos de cada uma. O indígena, inevitavelmente, atravessará o processo de mudança corporal, comportamental e cognitivo da adolescência.

Nesse sentido, de acordo com uma das palestrantes, a técnica de enfermagem Naiara Queiroz, as transformações devem ser informadas e discutidas sem tabus, com diálogo franco entre gerações diferentes, e assim minimizar fatores que põem em risco a passagem para uma vida adulta sadia.

“É importante a participação dos pais e dos adolescentes para eles saberem como tratar e como se comportar com os filhos, porque, às vezes, essa falta de comunicação pode retardar o amadurecendo deles, além de acarretar depressão, levar à automutilação e à gravidez indesejada”, alertou.

Ação contou com a participação de jovens e lideranças locais — Foto: Supcom/Ale-RR

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