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Jovens em mau estado emocional

Pandemia cobra seu preço na forma de ansiedade, mostra pesquisa nacional. Isso demanda atenção redobrada nas escolas

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Por Notas & Informações
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A notícia, publicada no Estadão, de que seis em cada dez jovens na faixa de 15 a 29 anos relataram ter sentido ansiedade nos últimos 12 meses em razão da pandemia de covid-19 é preocupante e serve de alerta para famílias, educadores e profissionais da saúde. Mas está longe de ser uma surpresa. Na verdade, surpreendente seria se o estado emocional e a saúde física e mental da juventude brasileira tivessem passado incólumes por quase dois anos de escolas total ou parcialmente fechadas, em um contexto de incertezas, perdas e sofrimento decorrentes de uma pandemia que mudou por completo a rotina de toda a população – e matou mais de 686 mil pessoas no País.

O dado consta em um levantamento nacional respondido por 16,3 mil jovens entre julho e agosto deste ano. Enquanto 63% dos entrevistados citaram a ansiedade, 50% contaram sentir cansaço permanente ou exaustão e 36% fizeram referência à insônia. A lista é longa e inclui problemas como ganho ou perda exagerada de peso (mencionados por 33% dos respondentes), depressão (18%) e automutilação e/ou pensamento suicida (9%). Não à toa, quase metade dos entrevistados apontou a psicoterapia como atividade prioritária para cuidar da saúde mental. 

Eis um desafio a mais para escolas e redes de ensino, assim como para as universidades, uma vez que fragilidades emocionais e traumas associados à pandemia atingem estudantes de todas as idades. Como se sabe, a educação vai muito além da parte cognitiva, isto é, da aprendizagem dos conteúdos e do desenvolvimento das habilidades e competências curriculares. Acolher os alunos, ouvir suas queixas e criar espaços de apoio e diálogo, se possível com a participação de profissionais da área de saúde mental, são iniciativas que se fazem necessárias no ambiente escolar.

O Brasil foi um dos países onde as escolas permaneceram mais tempo fechadas durante a pandemia, o que privou crianças, adolescentes e jovens do convívio com colegas e professores – parte essencial da formação escolar e universitária. Impossível imaginar, portanto, que a retomada das aulas presenciais pudesse se dar sem um olhar mais atento para as naturais e esperadas dificuldades de quem ficou tanto tempo encerrado em casa na frente da tela de um computador ou do celular.

A pesquisa Juventudes e a pandemia: e agora?, coordenada pelo Atlas das Juventudes, reúne evidências que podem ser úteis para educadores e gestores. Uma delas é que 74% dos entrevistados destacaram, entre os aprendizados da pandemia, a importância da saúde mental. Ou seja, três em cada quatro entrevistados. De novo, o dado é contundente, mas não chega a surpreender. Adultos e idosos sabem como foi desafiador manter o equilíbrio emocional e lidar com as mudanças e com os desafios trazidos pela pandemia. O que dizer, então, de crianças e jovens em fase de formação escolar ou universitária? Mais do que nunca, cuidar da saúde mental dos alunos – e, por extensão, dos professores – é indispensável para fazer a educação avançar.