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Jovens caem em golpes com mais facilidade do que os mais velhos

Jovens adultos muitas vezes não reconhecem falsas ofertas de emprego ou cheques sem fundo que chegam até eles

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Ron Lieber
Nova York | The New York Times

Parem com os preconceitos contra velhos e as ilusões de invencibilidade. Os jovens adultos muitas vezes não reconhecem os cheques falsos que recebem, ou ofertas de empregos que não existem.

Se você é um nativo digital e se considera imune a todos os golpes, está bem do jeito que os ladrões querem.

Há anos, pesquisas do Better Business Bureau (Bureau de Melhores Negócios, BBB na sigla em inglês) mostram que adultos mais jovens perdem muito mais dinheiro para trambiqueiros do que pessoas mais velhas, que você poderia considerar as vítimas "perfeitas". A Comissão Federal de Comércio dos EUA (FTC na sigla em inglês) registra números parecidos, com 44% das pessoas entre 20 e 29 anos perdendo dinheiro em fraudes —mais que o dobro dos 20% do grupo de 70 a 79 anos.

O último relatório do Bureau de Melhores Negócios revelou um novo viés: os criminosos redobraram seus esforços enquanto as pessoas passavam mais tempo online no último ano, e conseguiram elevar o prejuízo médio por golpe em adultos de 18 a 24 anos ao mesmo nível —US$ 150— que existia entre a turma muito mais rica de 65 anos e mais.

Quando examinamos os tipos de golpes que funcionam com jovens, não há um "príncipe da Nigéria" à vista. As atividades visadas variam muito, das compras online que essas vítimas podem fazer quase diariamente ao raro manuseio de cheques de papel. Esquemas ilegais também visam pagamentos de dívidas estudantis que eles devem saldar e os empregos que procuram com esse fim.

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Se você é um nativo digital e se considera imune a golpes, então está exatamente onde os ladrões o querem - Robert Neubecker/The New York Times

Então vamos dar uma olhada na aparência desses casos —e lembrar de como podemos nos comunicar com jovens que se consideram invencíveis.

Golpes do varejo online

A falsa promessa de encontrar um produto raro com preço incrivelmente baixo não é uma forma nova de fraude, mas a internet certamente a facilita —especialmente se você costuma comprar online com frequência.

Os golpes de compras na internet representaram 64% dos relatos de prejuízos em dinheiro para o BBB no ano passado, contra apenas 13% em 2015. E, segundo dados do órgão, 83% dos jovens adultos que foram expostos a esses truques caíram neles, mais que qualquer outra faixa etária.

Há duas tendências a que se deve tomar cuidado.

Primeiro, não fique cego de amor pelo cachorrinho. Golpes de animais de estimação e produtos para eles formam historicamente 25% dos golpes de compras online relatados —e isso subiu para 33% no último ano, com a grande alta de compras para pets na pandemia. O Kennel Clube da América e a Sociedade Humana dos Estados Unidos oferecem dicas online para impedir que você fique ao mesmo tempo sem cachorro e com um prejuízo médio de US$ 660 relatado ao bureau.

Segundo, a Amazon está em todo lugar —incluindo como vetor para fraudes. Dado o tamanho da empresa, falsários tentam imitá-la com maior frequência que qualquer outra marca.

A companhia oferece alguns conselhos para identificar problemas em uma oferta "não solicitada" da Amazon:

  • os sites verdadeiros da companhia têm um ponto (.) na URL antes de amazon.com
  • se você receber uma mensagem dizendo que precisa atualizar seu método de pagamento, sempre vá diretamente ao site da Amazon para ver se é verdade, e não por meio de um link no email
  • a empresa não envia links com séries de números misturados

Também vale notar: os golpistas às vezes zombam do próprio BBB fingindo ser a organização quando iniciam golpes da Amazon.

Golpes de emprego

Milhões de pessoas ficaram desempregadas sem intenção durante a pandemia, por isso não causa surpresa que esses golpes tenham proliferado. E os fraudadores oferecem empregos falsos que são especialmente atraentes para jovens adultos.

Posts sobre primeiros empregos promissores e em setores criativos como secretárias e recepcionistas são atrativos comuns usados por pessoas mal-intencionadas. O mesmo vale para publicações para trabalhos em armazéns e remessas, área que teve grande sucesso durante a pandemia e oferece funções que qualquer pessoa pode fazer.

Os golpes muitas vezes pedem a data de nascimento e o número da seguridade social da pessoa, que podem ser usados para cometer as piores formas de furto de identidade. Outro tipo de fraude pede algumas centenas de dólares para cobrir suprimentos ou treinamento para cargos que afinal não existem.

Dos participantes de pesquisas que sofreram golpes de emprego, 32% disseram que a trama tinha começado no site de empregos Indeed, superando em muito outras plataformas populares, comentou o Bureau de Melhores Negócios em um relatório no ano passado.

O Indeed parece estar ciente disso e posta dicas para se evitar esse tipo de fraude. (A companhia provavelmente deveria obrigar as pessoas a ler as advertências antes de deixá-las olhar alguma listagem.) Entre elas está uma espécie de autoenganação óbvia: "Nunca aceite um emprego que envolva abrir diversas contas e/ou postar anúncios no Indeed ou em outros sites".

Em suma, o Indeed quer que você tome cuidado com golpistas no Indeed que fazem você usar o Indeed para praticar golpes no Indeed.

Golpes de cheques falsos

Estes geralmente envolvem um pedaço de papel muito real, que parece estar sacando de uma conta bancária pessoal ou de empresa, ou é uma ordem de pagamento, ou um cheque a ser descontado no caixa. Parece tão autêntico que o recipiente não percebe, nem o banco o recusa imediatamente.

Então vem o truque, que é uma mensagem pedindo de volta parte do dinheiro: "Desculpe, foi um pagamento a mais acidental", ou "Por favor, use parte do dinheiro para fazer compras como cliente oculto de serviços de transferência de dinheiro".

Esses cheques podem chegar por correio, parecendo ser um prêmio ou um desconto —o tipo de pagamento que seu app de banco pode rapidamente digerir através da câmera do seu telefone. Muitas vezes são uma modificação de um golpe de emprego: um larápio paga a mais ao candidato que ele acaba de contratar, supostamente por acaso —e então pede parte do dinheiro de volta.

Pessoas na casa dos 20 anos têm duas vezes mais probabilidade que adultos mais velhos de cair nesse tipo de truque, segundo a FTC. Muitas não têm prática de usar cheques, e talvez não saibam que embora as regras federais exijam que os bancos disponibilizem rapidamente o dinheiro de cheques, os mesmos bancos podem levar vários dias para localizar um cheque falso. Quando o fazem, geralmente querem que a vítima devolva o dinheiro, por ter introduzido o cheque falso no sistema.

Empréstimos estudantis

Este já é um problema, mas poderá se agravar muito em breve.

Dezenas de milhões de mutuários estão com seus pagamentos de empréstimos estudantis federais em suspenso agora, graças aos esforços do governo para evitar dificuldades financeiras para os estudantes durante a pandemia. Mas em 1º de outubro haverá uma mudança, e a maioria dessas pessoas terá de reiniciar o processo de pagamento.

Mesmo nos melhores momentos, é difícil para os mutuários estudantes conseguirem ajuda de seus credores. E as falências parecem inevitáveis no próximo outono.

"É uma situação totalmente ideal para golpistas", disse Seth Frotman, diretor-executivo do Centro de Proteção a Estudantes Mutuários.

Você pode esperar uma enxurrada de ladrões oferecendo "tolerância prorrogada" ou "planos de perdão de Biden" que não existem. Então eles tentarão redirecionar os pagamentos das vítimas ou usar suas informações pessoais para roubar identidades. Ou ambos.

A Comissão Federal de Comércio e o Departamento de Educação oferecem dicas para evitar golpes. E quando o secretário de Justiça da Pensilvânia fechou uma entidade chamada Unified Holding Group revelou detalhes de como esses golpes podem ser elaborados.

Entre outras coisas, a companhia dizia aos mutuários para ignorarem contatos de seus verdadeiros serviços de empréstimos, e tinham linguagem formal em seu site dizendo coisas como "Cremos que a integridade promove uma reputação positiva e um senso de segurança em todas as nossas interações comerciais".

O que podemos fazer?

É profundamente ineficaz recorrer a "maior consciência" como solução parcial para golpes que se aproveitam da complexidade sistêmica e da desigualdade que não deveriam existir, para começar. Mas aqui vamos nós. De novo.

Os jovens adultos que vivem por conta própria poderiam ir um pouco mais devagar. Talvez as compras instantâneas no Instagram não sejam necessárias, por exemplo. E lembrem-se que os truqueiros têm mais sucesso com os estressados e solitários. Se você for um desses, cuide-se.

A educação precoce é essencial. Se há uma aula de finanças pessoais na escola de seu filho, pergunte ao professor se há uma seção dedicada a fraudes e roubalheira. Estudar as técnicas dos larápios com admiração e respeito, em oposição a didatismo e censura, pode melhorar as coisas.

Ainda melhor seria sua própria campanha educativa —uma espécie de dramatização de um crime real. Há chances de que você tenha presenciado um golpe, mesmo que não fosse alvo dele. Então conte as histórias de sua quase vitimização —ou pior. Sim, você poderá ser motivo de caçoada durante algum tempo. Mas a história provavelmente será lembrada.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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