Jovem 2020: terceira reportagem da série fala da batalha para conseguir o primeiro emprego

Jovem 2020: terceira reportagem da série fala da batalha para conseguir o primeiro emprego

Em 2020, muitos jovens da geração Z, nascidos entre 1995 e 2010, chegam ao mercado de trabalho. Alguns dos desafios dessa fase da vida é saber se eles vão conseguir fazer faculdade, qual curso seguir e o maior de todos: se eles vão arranjar um emprego.

Atualmente, nas ruas das metrópoles, há um mar de motoboys pra lá e pra cá, correndo contra o tempo, fazendo entregas. Desde 2000, o número de entregadores se multiplicou no país. Só que hoje, as entregas são definidas com um toque na tela do celular e a concorrência não é só entre motos. As bikes ganharam espaço e deram condição para que os mais jovens entrassem nessa atividade.

Foi assim com o Lucas Ferreira Soares, que faz 20 anos em abril. Ele entrega comida por aplicativo há oito meses. Para ganhar cerca de R$ 50 por dia, ele tem que fazer ao menos seis corridas e para chegar perto de um salário mínimo tem que trabalhar de domingo a domingo. “É muito puxado. Isso aqui era pra ser um complemento da renda. Eu tirei minha carteira de trabalho com uns 14 anos. Fui pra Minas Gerais, trabalhei em fábrica de blocos, trabalhei fazendo carvão e nunca tive carteira registrada”, relata.

Bico, informalidade, precariedade... É o que muitos jovens brasileiros estão enfrentando, tanto os que farão 20 anos em 2020 quanto aqueles um pouco mais velhos, um pouco mais novos. A taxa de desemprego pra essa faixa etária dobrou de 2014 para 2018. E a crise pode ter influência no futuro dessa geração.

“Tem vários estudos e pesquisas que mostram que quando você entra no mercado de trabalho pela primeira vez em uma situação de crise, isso piora todo o seu desempenho ao longo da vida. Então, você vai ter salários menores, vai ter uma maior probabilidade de ficar desempregado, maior probabilidade de sair da força de trabalho”, explica Naercio Menezes, professor do Insper.

Lucas sabe que um curso profissionalizante poderia mudar a vida dele. Assim como mudou a de meninos e meninas quando saíram do ensino médio na escola pública e passaram por um processo seletivo acirrado, quase um vestibular, para conseguir uma formação pro mercado de trabalho, de graça, no Instituto PROA.

“O mundo lá fora não é nada simpático com a gente, principalmente quando o jovem sai do ensino médio. A gente quer aprender a fazer qualquer coisa, mas algumas empresas não dão essa oportunidade pra gente. Você tem que ter cinco anos de experiência. Eu fico: ‘Ué, eu saí do ensino médio agora, moça!’”, diz Vitória Gonzaga da Silva, estudante do PROA.

“Você não estuda mais, não sabe pra onde vai. Se você não fizer uma faculdade logo em seguida, vai ter que procurar um emprego e emprego tá muito difícil. Você precisa de experiência. Mercadinho, telemarketing, é muito difícil, até mesmo jovem aprendiz é muito concorrido”, afirma Kevin Souza Melo, estudante do PROA.

Eles estão tendo a sorte que nem todos os jovens das periferias, negros e pobres têm. A falta de investimento em oportunidades de educação e formação põe muitos brasileiros em risco. Um perigo que, segundo os especialistas, aumenta com o desemprego. “Eles saem da escola, não conseguem arrumar emprego, ficam em casa numa situação ‘nem, nem’. Muitas vezes, entram no crime, o que é muito perigoso pra eles e pra sociedade”, alerta Naercio.

É o que apontam os dados do último levantamento do Banco Nacional de Monitoramento das Prisões: os jovens de 18 a 24 anos representam 30,52% dos presos no país. A maioria deles é preta ou parda (54,96%).

Dois jovens ouvidos pelo Jornal Hoje saíram da periferia de São Paulo direto para a Fundação Casa, em uma unidade destinada especificamente aos infratores reincidentes. Ela é considerada o fim da linha, para aqueles que estiveram no sistema, voltaram às ruas e cometeram novos delitos. Isso, antes dos 18 anos. Internados mais uma vez, eles podem ficar no local até completar 21 anos. A partir daí, o destino pode ser o sistema prisional propriamente dito, de adulto.

É do que eles mais querem fugir e, para isso, estão estudando. Os dois acabaram de fazer o Enem e um deles disputou a Olimpíada Brasileira de Matemática. Eles esperam que quando fizerem 20 anos, possam comemorar fora da prisão. “Se eu não passasse por aqui, poderia ter acontecido coisa pior comigo, até mesmo ter morrido, algo do tipo. Mas eu tô aqui hoje e eu só tô querendo cada vez mais aprender, explorar meus conhecimentos”, conta um deles.

“Esse lugar aqui é horrível. Não desejo esse lugar pra ninguém. O lado bom é que está me dando uma oportunidade de fazer a prova do Enem e amanhã ou depois ser alguém na vida”, diz o outro jovem.

Já Luizinho Francisco conseguiu mudar a condição dele e da família brincando com o que pode ser coisa séria: o skate. Inventado há cerca de 60 anos, nos Estados Unidos, o skate se popularizou entre os surfistas para aqueles dias sem sem boas ondas no mar. Uma diversão que virou esporte.

Em 2020, pela primeira vez , ele será modalidade olímpica, junto com o surf. A possibilidade de um brasileiro do ano 2000, estar lá em Tóquio, em busca de medalhas é bem grande. Luizinho fará 20 anos no dia da abertura dos Jogos Olímpicos, no Japão. Melhor presente, impossível: “Eu tô andando de skate, viajando o mundo. Então, sou sim privilegiado por tudo que tem acontecido comigo”, avalia.

Conheça alguns desses jovens nascidos nos anos 2000:

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