Joel Pinheiro da Fonseca

Economista, mestre em filosofia pela USP.

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Joel Pinheiro da Fonseca

Hora de admitir: talvez Bolsonaro seja um pouquinho corrupto...

Carreira do presidente é marcada por enriquecimento suspeito de mulheres e filhos

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Podem xingar Bolsonaro de tudo, desde que não se esqueçam de "corrupto". Tanto no passado como no presente, a conduta do nosso mandatário é a mesma: onde Bolsonaro está, lá tem esquema.

O maior golpe de marketing de sua campanha em 2018 foi mostrar-se como paladino de valores morais e cruzado anticorrupção. Toda sua carreira é marcada pela corrupção e enriquecimento suspeito de seus filhos e mulheres.

O esquema é simples: contrate funcionários que não fazem nada e fique com uma parte do salário deles, tudo pago pelos cofres públicos. Até o filho Eduardo teve seu primeiro emprego em Brasília enquanto cursava Direito e surfava no Rio.

O presidente Jair Bolsonaro - Adriano Machado - 7.abr.22/Reuters

O resultado era expressivo: dinheiro para toda a família. A ex-mulher de Bolsonaro comprou 14 imóveis, cinco deles com dinheiro vivo. Flávio também é adepto dessa modalidade inusual de transação.

Isso tudo era antes do governo. E depois do governo, temos casos de corrupção? Para dar e vender. A aliança com o centrão —que na verdade é o grupo do qual Bolsonaro sempre fez parte— não deixou de mostrar a que veio. Ciro Nogueira na Casa Civil, Arthur Lira na presidência da Câmara, apadrinhados deles em fundos do governo e estatais, "orçamento secreto" para completar.

Primeiro, o Meio Ambiente. Que a destruição, a grilagem e o crime organizado na Amazônia cresceram no governo Bolsonaro é amplamente sabido; o termo "narcogarimpo" não entrou no nosso vocabulário à toa. Surpreendentemente, contudo, parece que tem agente público ganhando dinheiro nessa anarquia ambiental. Funcionários do Ibama e do ministério são suspeitos de facilitar exportação de madeira ilegal.

Depois a Saúde. Graças à CPI da Covid, foram descobertas negociações fraudulentas de compra de vacina com propina. Depois da descoberta, um contrato de R$ 1,6 bilhão de compra da Covaxin pelo governo foi cancelado; eram as doses mais caras de toda a pandemia. Ainda na Saúde, há também o gasto de R$ 30 milhões em prédios do ministério no Rio de Janeiro.

A Educação deve ser a pasta mais abandonada deste governo. Rigorosamente nada foi feito para melhorar o ensino de milhões de crianças e jovens. Engana-se, contudo, quem acha que o ministério ficou parado: ele se transformou em balcão de propina. O FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação), em específico, virou o grande irrigador da corrupção nacional.

Laptops superfaturados, construção de "escolas fake", pedidos de propina em ouro e até em Bíblias. Um pastor que sequer trabalha no ministério negocia em seu nome e pede dinheiro para liberar verbas. Segundo o ex-ministro Milton Ribeiro, quem pediu para prestigiar esses pastores foi o próprio Bolsonaro.

Outra teta de verbas suspeitas é Codevasf, estatal que atua na infraestrutura e canaliza a verba de emendas do orçamento secreto. Uma empreiteira —a Engefort— que usa empresa de fachada em licitações, se reuniu com o então ministro Rogério Marinho fora de agenda e, inexplicavelmente, multiplicou seus contratos com a Codevasf. Deve receber ao todo R$ 620 milhões de dinheiro público. Não importa a área: é só procurar que você acha.

O PT cometeu um erro estratégico em sua escalada de corrupção: fortaleceu órgãos de controle, como o Ministério Público, e a Polícia Federal. Bolsonaro aprendeu com eles e está fazendo o serviço completo: PGR fielmente em sua mão e tenta aparelhar a Polícia Federal com amigos. "Ah, mas ele ainda não chegou perto dos valores de propina do PT". É verdade, ainda não chegou. É só dar mais um mandato que ele dobra essa meta.​

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