Brasil Educação Enem e vestibular

'Interpretar texto não foi suficiente', dizem professores sobre Enem

Notas caíram em Linguagens e Ciências Humanas, e subiram em Matemática e Ciências da Natureza
Candidatos estudam para o Enem 2017, em São Paulo, pouco antes de abrirem os portões do exame Foto: Paulo Pinto / Agência O Globo
Candidatos estudam para o Enem 2017, em São Paulo, pouco antes de abrirem os portões do exame Foto: Paulo Pinto / Agência O Globo

RIO — Educadores ouvidos pelo GLOBO fizeram uma análise das notas do Enem 2017 (Exame Nacional do Ensino Médio), divulgadas nesta quinta-feira. Eles destacam que o nível de dificuldade do exame foi parecido com o do ano anterior nas provas de Linguagens e Ciências Humanas, no entanto, foi justamente nessas áreas que os candidatos registraram queda na média de notas. Entre 2016 e 2017, a média em Linguagens passou de 520,5 para 510,2. E, em Ciências Humanas, passou de 533,5 para 519,3, no mesmo período.

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Resultados por área de conhecimento
Quantidade de participantes
2016
2017
6,03
6,04
5,88
5,88
4,72
4,72
4,46
4,46
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes
2016
2017
533,5
520,5
519,3
518,5
510,6
510,2
489,5
477,1
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes surdos que
optaram por videoprova traduzida em Libras
2016
2017
414,9
404,5
399,9
371,9
não
teve
não
teve
não
teve
não
teve
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes surdos que
optaram por intérprete de Libras
2016
2017
430,3
429,7
426,4
420,3
416,6
413,2
400,3
388,0
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)
Resultados por área
de conhecimento
Quantidade de participantes
2016
2017
milhões
6,03
6,04
5,88
5,88
4,72
4,72
4,46
4,46
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes
2016
2017
533,5
520,5
519,3
518,5
510,6
510,2
489,5
477,1
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes surdos que optaram por
videoprova traduzida em Libras
2016
2017
não teve
414,9
404,5
399,9
371,9
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Nota média dos participantes surdos que optaram por
intérprete de Libras
2016
2017
430,3
429,7
426,4
420,3
416,6
413,2
400,3
388,0
Linguagens e códigos
Matemática
Ciências da natureza
Ciências humanas
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep)

Queda de notas 'frustrante' em Linguagens

Marco Laurindo, professor dos cursos Sabin Med Isoladas e Linguagens Mais, definiu como "frustrante" a queda nas notas da prova de Linguagens e Códigos do Enem 2017. Se em 2016, os candidatos alcançaram média de 520,5, ano passado a pontuação média caiu ligeiramente para 510,2.

— Eu considerei que a prova do Enem 2017 veio num nível muito parecido com a da edição anterior. Havia, portanto, uma expectativa de que os candidatos conseguissem aumentar a nota média, o que não aconteceu — afirma ele.

Em áreas como Matemática e Ciências da Natureza, as notas médias cresceram: na primeira, passou de 489,5 para 518,5; e na segunda, de 477,1 para 510,6. Laurindo observa que é mais recorrente as notas nessas áreas de exatas subirem, de uma edição do Enem para a outra, do que o mesmo acontecer na área de Linguagens.

— Atribuo isso ao fato de a grande maioria dos candidatos "desprezarem" Linguagens. Em geral, eles acham que, sabendo interpretar textos, eles não terão problemas com Linguagens, e conseguirão se virar mesmo sem estudar muito. Passam a treinar incessantemente para matemática, física e química, que são as matérias nas quais é mais comum ter dificuldade, e deixam de lado o português — avalia o professor. — No entanto, nos últimos anos, o Enem tem cada vez mais exigido não só interpretação, mas conteúdo.

Aumento em Matemática está relacionado a redução do número de candidatos

Para Bruno Rabin, diretor acadêmico do Colégio e Curso de A a Z, a explicação para o aumento das notas nessas áreas está na redução no número de participantes:

— A explicação tem a ver com o fato de que houve menos inscritos, menos pessoas fazendo o Enem. Quando há uma redução no número de participantes, ela não acontece no topo, mas sim na base, ou seja, aqueles alunos que fariam a prova por fazer e não estão preocupados com a nota. Como eles não fizeram, a média se desloca um pouco para cima.

Ainda que tenham registrado aumento nas médias em relação ao ano anterior, Matemática e Ciências da Natureza continuam sendo as áreas com pior desempenho. De acordo com Rabin, isso tem relação com uma deficiência histórica na Educação brasileira.

— Historicamente, aqui no Brasil, matemática, física e química atraem menos interesse. É difícil encontrar professores de física, por exemplo. Em outros países, há uma cultura muito ligada ao ensino de matemática, o que não é nosso caso. Em geral, muitos alunos não recebem estímulo da família durante a educação básica para essa área. Outros não têm carga horária suficiente ou ainda enfrentam falta de professores  — explica.

A presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Maria Inês Fini, considerou as flutuações das notas dentro do esperado e registrado em séries históricas. Até mesmo em relação a Matemática, um gargalo da educação básica brasileira, que teve aumento de 489,5 para 518,5 na proficiência média, Fini disse que “não surpreendeu”. Questionada se aponta uma melhora importante, respondeu:

— Estatisticamente, não foram muito melhores.

Ciências da Natureza: prova foi mais difícil, mas teve média maior

Segundo Allan Rodrigues, professor de química do Descomplica, a prova de Ciências da Natureza de 2017 teve grau de dificuldade maior que nos anos anteriores. Por isso, esperava-se que a média da área neste ano fosse inferior que a das últimas edições. A explicação para o contrário ter acontecido pode ser o tipo de correção que é feito no Enem, que segue a Teoria de Resposta ao Item (TRI).

— É muito difícil olhar o resultado do exame e, a partir dele, entender o grau de dificuldade da prova ou de que tipo ela foi. A correção segue um modelo estatístico. É possível que a maioria dos candidatos tenha acertado poucas questões e, por isso mesmo, pelo nivelamento feito entre eles, a média tenha sido essa — explica o professor.

Ciências Humanas: médias caíram pela dificuldade da prova

Em Ciências Humanas, as notas médias caíram de 533,5 em 2016 para 519,3 na última edição do exame. Para o professor de Filosofia e Sociologia Ênio Mendes, do curso QG do Enem, a prova não foi mais difícil que na edição anterior, mas exigia conhecimentos específicos além da interpretação de texto.

— Para quem acreditava que poderia responder às questões apenas interpretando o texto, não funcionou — comentou Mendes. — Pelo menos na minha área, a prova exigia conhecimento sobre os autores, os pontos centrais de seus pensamentos.