Educação
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Por Bruno Alfano — Rio

A professora de redação Sileyr Ribeiro, de 31 anos, tem em média 35 alunos do 3º ano do ensino médio se preparando para o Enem na rede estadual do Espírito Santo. Cada um faz 20 redações ao ano, o que dá pelo menos 3.500 textos para corrigir com a máxima atenção que o desafio exige. Desde o ano passado, no entanto, Syleir divide a tarefa com uma máquina.

O atual nível de desenvolvimento da inteligência artificial oferece ferramentas que já estão mudando as rotinas escolares. A tecnologia vem chegando através de plataformas contratadas por redes de ensino públicas e privadas e também da criatividade dos professores que lançam mão dos recursos gratuitos disponíveis como o ChatGPT ou o Midjourney.

Em vez de usar o tempo para correção manual das redações, a professora Sileyr ganhou horas extras para se dedicar à análise dos dados que indicam os avanços ou dificuldades de cada estudante. Um ganho na eficiência pedagógica porque ela pode, assim, identificar problemas pontuais ou coletivos de aprendizagem de forma muito mais precisa e ágil. A plataforma utilizada é a Letrus, que está em todas as escolas da rede estadual do Espírito Santo.

— A inteligência artificial é uma ferramenta à disposição e não um substituto do docente. O professor trabalha junto à plataforma e não em função dela. É parte do processo que o docente acompanhe o passo a passo da execução das tarefas, que dê exemplos para a turma, faça correções individuais de alguns exercícios e planeje intervenções de acordo com os resultados obtidos — analisa a professora, que defende a tecnologia como aliada. — A plataforma auxilia ao reunir os dados para otimizar o trabalho do professor.

A lógica da inteligência artificial não tem fronteiras e pode ser aplicada a diversas áreas do conhecimento. Um núcleo de pesquisa da Universidade Federal de Alagoas desenvolve uma tecnologia em que o próprio aluno fotografa a questão solucionada e a submete ao robô que vai corrigi-la e, ao mesmo tempo, esmiuçar os erros no processo de resolução. A ferramenta, que já vai ser testada em escolas, ajuda a descobrir os conceitos que não foram bem assimilados pela turma.

— A nossa ideia foi construída a partir do contexto da escola pública brasileira. Tem computador em sala? Não. Tem um dispositivo para cada aluno? Não. Então, o estudante faz toda a atividade no papel da forma como faz hoje tradicionalmente e nós construímos um sistema tutor de inteligência, que vai auxiliar o aluno e entender suas dificuldades — diz Ig Ibert Bittencourt, professor da Ufal que está em Harvard.

A iniciativa é fruto do trabalho do especialista que, neste momento, desenvolve com outros pesquisadores uma nova área de exploração da tecnologia aplicada ao ensino, chamada de IA na educação desplugada. O conceito é que a unidade de ensino não precisa dispor de um aparato gigantesco de máquinas para se beneficiar dos avanços tecnológicos.

— Não adianta demandar um arsenal de equipamentos que nunca vão chegar para quem mais precisa, os alunos da educação pública. Ao mesmo tempo, cria soluções que com certeza poderão auxiliar milhões de professores e alunos de diferentes realidades do país — pontua.

‘Personalização extrema’

Algumas plataformas contam com serviços similares ao da Letrus no ensino de outras línguas. Basicamente porque medem tanto a evolução coletiva quanto a individual da aprendizagem. Além disso, elas funcionam mediando as tarefas que os alunos precisam fazer. Se ele vai melhor, recebe exercícios mais difíceis. Se errar algum ponto, tem aquele conteúdo trabalhado com mais ênfase. Uma dessas plataformas é a Edify.

— O futuro é da personalização ao extremo. Um aluno que gosta mais de esporte terá um tipo de conteúdo diferente do que prefere games, mas os dois vão estar trabalhando a mesma competência, o mesmo objetivo linguístico de diferentes formas — diz Marina Dalbem, CEO da Edify.

Doutor em Engenharia da Informação na Universidade de Osaka (Japão), com tese na área de inteligência artificial aplicada à educação, e professor de Harvard, Seiji Isotani diz que a tecnologia deveria estar mais presente na escola na medida em que as habilidades digitais são fundamentais na contemporaneidade:

— Se a gente não introduzir as tecnologias no ambiente escolar, haverá um problema na nossa percepção de educação de qualidade.

No exterior, conta o especialista, o acesso mais facilitado à tecnologia de ponta permite pedagogias imersivas. Um aluno consegue, por exemplo, abrir um corpo humano utilizando realidade aumentada para entender o funcionamento dos órgãos visualmente.

— Há uma disrupção pedagógica acontecendo que a gente precisa pensar. Ela se dá integrando a tecnologia de maneira persistente e coerente em todo o processo de aprendizagem, em vez de só usar a tecnologia de maneira pontual — afirma.

Frenesi do ChatGPT

Por aqui, as escolas também começaram a utilizar o ChatGPT, ferramenta que viveu um frenesi de popularidade depois de ser liberada e impressionar muita gente pela sua capacidade de produzir conteúdo. Junto do sucesso, veio a preocupação da comunidade escolar com plágio. Se a máquina pode produzir textos inéditos, como garantir que os estudantes não a utilizem para que a IA faça suas atividades? Algumas redes de ensino proibiram o uso. Outras decidiram incorporá-lo.

Professor de pensamento computacional, Israel Peres, do Poliedro, pede para que os alunos façam consultas ao ChatGPT sobre formas de interligar equipamentos como um sensor de distância para que ele tenha certa funcionalidade.

— Existe um exercício de expressão. O aluno tem que se expressar muito claramente e de forma objetiva para que a máquina entenda. O estudante sabe que precisa de uma contextualização para resolver o problema, senão a IA não vai entender o objetivo final e não vai entregar o resultado esperado — afirma.

Apesar de impressionar, o ChatGPT não é oráculo. O pior é que, quando ele não sabe, inventa. Perguntado quem é Bruno Alfano (o autor desta reportagem), a plataforma inventou uma biografia, apontando lugares onde o repórter não trabalhou e até atribuindo a ele a autoria de um livro que nem existe. Na avaliação de Peres, é preciso aprender a fazer as perguntas para usá-lo adequadamente:

— Tem aluno que desiste de usar porque, às vezes, dá mais trabalho explicar o que quer para o ChatGPT do que realizar a atividade.

Já Isotani defende que não só a ferramenta seja aprimorada para estar em sala de aula, mas que alunos e escolas também se preparem para sua utilização. Do ponto de vista pedagógico, diz o especialista, tem que ser explorada como um “companheiro de aprendizagem”. Isso significa que não se pode esperar que o ChatGPT tenha 100% das respostas.

— O aluno precisa ter a capacidade de identificar se o que a máquina produziu está correto e, se for o caso, ir melhorando o resultado. Esse é o melhor jeito de usar o ChatGPT: fazendo perguntas, recebendo dicas e sanando as dificuldades até que se consiga aprender um determinado conteúdo — defende o professor de Harvard.

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