Por Geovane Brito, G1 Santarém — Pará

O ambiente escolar é ideal para se dar início às ideias que podem ajudar na preservação do meio ambiente. Foi pensando assim que alunos indígenas da região de rios de Santarém, no oeste do Pará, criaram gibis que destacam o potencial do meio ambiente e como o ser humano pode ajudar a mantê-lo, tirar proveito, mas sem agredir a natureza.

Os estudantes são do 1º ano do ensino médio do Sistema Modular de Ensino Indígena (Somei) da aldeia Nova Vista, comunidade localizada na Reserva Extrativista (Resex) Tapajós Arapiuns, e a iniciativa de criação dos gibis partiu depois da leitura da trilogia “Amazon-Guerreiros da Amazônia”, que conta a saga de jovens super-heróis em defesa da floresta Amazônica.

Alunos leram a trilogia, fizeram gincana cultural e elaboraram gibi sobre a vivência em comunidade e na natureza — Foto: Rafael Lobato

Todo o trabalho de criação ocorreu durante gincana cultural e os jovens usaram como base para os textos temas da realidade local, como desmatamento, pesca ilegal e preservação da floresta. A delicadeza dos traços dos desenhos foi feita à mão.

Leitura dos livros

A ideia de apresentar a trilogia para os estudantes surgiu a partir da necessidade de debater temas importantes referentes a meio ambiente e Amazônia numa linguagem clara, objetiva e acessível e que contasse com a participação dos indígenas.

O professor de artes e filosofia Marcelo Neves foi quem leu primeiro os livros e depois os apresentou à comunidade escolar. Segundo ele, empolgados com as histórias, os alunos leram os livros em menos de duas semanas.

Essa atitude dos alunos surpreendeu Marcelo, pois, apesar de a escola já ter biblioteca, a classe estudantil ainda tinha dificuldades no hábito da leitura. Isso o instigou a questionar os alunos, que responderam em poucas palavras o motivo pelo qual leram as obras. “Gostamos das ilustrações e imagens”, disseram.

Da leitura à produção

O feedback dos jovens deu início a atividades extraclasses na escola. Um jogo de perguntas e respostas, um momento de livre debate sobre as questões ambientais. O resultado dessa gincana foi a criação do gibi.

Alunos na sala de aula participando a criação do gibi após leitura da trilogia 'Guerreiros da Amazônia' — Foto: Rafael Lobato

Quando se trata de conservação ambiental, o entendimento das populações indígenas vai muito além da importância de se manter uma floresta em pé. “Eles entendem que preservar significa preservar também a própria vida deles. Eles perceberam que não precisa ser super-heróis, à moda dos quadrinhos, para fazer algo em prol da natureza”, destacou o professor.

A direção da escola apoiou a iniciativa, gostou muito da proposta do livro e pretende propor aos demais professores do município que adotem a obra como material didático e de apoio às disciplinas como artes, geografia, história e literatura. Bem como, as matérias sobre clima, meio ambiente e florestas tropicais.

A trilogia

A trilogia ambientada no coração da floresta Amazônica, utiliza a temática de super-heróis, crianças e jovens são convocados para vestirem as armaduras sagradas que detêm os poderes dos animais e assim defendem a Floresta Amazônica e os seus habitantes.

Trilogia "Guerreiros da Amazônia", do escritor Ronaldo Barcelos — Foto: Geovane Brito/G1

O objetivo é resgatar o amor e a autoestima das crianças que vivem nas florestas e levar o entendimento para as que nasceram e vivem em grandes centros urbanos. Essas, que são a maioria, cresceram sem a conexão com a natureza.

Os três livros contam com 10 personagens inspirados em animais ícones da floresta, como onça, arara, boto, ariranha e macaco. A história inicia com um encontro dos líderes indígenas momentos depois da colonização do Brasil.

Eles criam uma comunidade chamada Amazon que é presenteada pela natureza com armaduras sagradas. Alguns jovens são convocados para usar as armaduras, e cada vez que a floresta entra em perigo os super-heróis entram em ação com a missão de salvar a Amazônia da devastação.

A história dos Guerreiros é uma sementinha de esperança para uma geração que definirá o futuro da Floresta e do seu povo nos próximos 15 anos. Os livros chegaram até a Resex por meio de doações do próprio autor, Ronaldo Barcelos.

*Colaborou Ana Carolina Maia

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