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Índice de alunos que abandonam ensino médio no Brasil é o dobro de outros países

Pesquisa da OCDE considerou dados de 14 nações para analisar indicador
Publicação aponta que Brasil tem 'importantes desafios' no ensino médio Foto: Paula / Agência O Globo
Publicação aponta que Brasil tem 'importantes desafios' no ensino médio Foto: Paula / Agência O Globo

RIO- Ponto sensível da educação brasileira, o ensino médio voltou à berlinda ontem, após a divulgação do “Education at a Glance”, estudo publicado anualmente pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) que mostra que, cinco anos após ingressarem na etapa, 41% dos estudantes brasileiros abandonam a escola sem se formar — quase o dobro dos 21% registrados na média dos outros 13 países com dados sobre a etapa. Educadores argumentam que o alto índice de repetência e a falta de atratividade da escola contribuem para este cenário. O relatório analisa diversos aspectos da educação mundial, entre os quais recursos financeiros empregados na área e dados sobre acesso e impacto na aprendizagem. Nesta edição, participaram da pesquisa os 35 membros da OCDE, além de parceiros da organização, totalizando 46 países.

A pesquisa também observou o índice de conclusão do ensino médio no tempo esperado de três anos. Segundo o estudo, no Brasil, apenas metade dos estudantes que ingressam na etapa conseguem concluí-la no tempo certo. Nos demais países analisados, o percentual médio é de 68%. Ao final desse ciclo de três anos, 26% dos alunos brasileiros desistem de estudar e abandonam o ensino médio sem obter um diploma. A taxa também é superior à média dos outros 17 países com dados para esse indicador, onde somente 12% tomam a mesma decisão. O relatório analisou dados de países com realidades distantes do Brasil, como Finlândia e Noruega, assim como nações mais semelhantes como Chile.

— Vivemos um contexto de expansão da matrícula, isso sempre gera uma dificuldade da escola se adequar às mudanças, com mais repetência e abandono. Temos muitos problemas com os anos finais do fundamental, então o aluno chega no ensino médio com sérias dificuldades — analisa Antonio Gomes Batista, coordenador de pesquisas do Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (Cenpec). — Há questões próprias da etapa, como problemas no currículo e práticas escolares que não fazem a ponte com realidade do aluno. Em todos os países há jovens de camadas populares na escola, mas acredita-se que eles possam aprender. A escola brasileira não acredita que eles possam aprender.

Os dados contribuem para gerar um cenário no qual mais da metade da população brasileira de 25 a 64 anos não concluiu o nível médio, enquanto entre os países membros da OCDE o percentual médio é de apenas 22%. Além da baixa conclusão, o acesso à etapa também está longe de ser universal. Entre a população brasileira de 15 anos de idade, apenas 53% estão no ensino médio. A taxa sobe para 67% entre os jovens de 16 anos, mas volta a cair para 55% na faixa dos 17 anos. Já na população de 18 anos, menos da metade cursa a etapa, a educação profissionalizante ou o ensino superior.

O tamanho do problema fica nítido quando comparado à maioria dos países da OCDE, onde pelo menos 90% do jovens de 15 a 17 anos estão no ensino médio, e 75% da população de 18 anos está matriculada nesse nível ou em níveis superiores — quadro que, segundo o relatório, compõe “desafios importantes” para o Brasil.

Em nota, o Ministério da Educação (MEC) afirmou que a intenção da reforma do ensino médio é reverter a evasão e melhorar o desempenho, e que está investindo R$ 1,5 bilhão em escolas de tempo integral.