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Indicação de Decotelli para o MEC foi vitória de ala militar do governo

Escolha é percebida como derrota dos olavistas e uma aposta em melhores relações do Ministério com os estados e o Congresso
Bolsonaro anuncia ex-presidente do FNDE Carlos Alberto Decotelli da Silva como novo ministro da Educação Foto: Reprodução
Bolsonaro anuncia ex-presidente do FNDE Carlos Alberto Decotelli da Silva como novo ministro da Educação Foto: Reprodução

BRASÍLIA— A escolha de Carlos Alberto Decotelli para o Ministério da Educação (MEC) foi encarada como uma vitória da ala militar do governo. Segundo interlocutores do Palácio do Planalto, os militares foram responsáveis por emplacar o professor no MEC, à revelia do grupo que ficou conhecido como a "ala ideológica" do governo, influenciada por Olavo de Carvalho, que trabalhava pela indicação de Carlos Nadalim, atual secretário nacional de Alfabetização e olavista.

O anúncio foi recebido com surpresa até mesmo por auxiliares próximos do presidente. De acordo com um integrante do governo, o nome do novo ministro teria sido apresentado a Bolsonaro pelo chefe da Casa Civil, general Walter Braga Netto.

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O comando do Ministério da Educação estava vago desde a semana passada, quando Abraham Weintraub anunciou sua saída, após uma série de desgastes com o Supremo Tribunal Federal (STF). Decotelli será o terceiro ocupante da pasta no governo de Bolsonaro. Antes de Weintraub, Ricardo Vélez também comandou o ministério.

Além de Carlos Nadalim, a ala ideológica do governo e os apoiadores mais conservadores de Bolsonaro tentaram emplacar o nome de Sérgio Sant'Ana, ex-assessor especial de Weintraub, mas também não conseguiram.

A decisão do presidente foi bem recebida pelo Congresso. Em coletiva de imprensa nesta quinta-feira, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que se tornou desafeto do ex-ministro, elogiou o currículo do novo comandante do MEC:

— Quem foi ofendido pelo Weintraub foi o Brasil. O Brasil foi ofendido por ter um ministro tão sem condições, para não usar uma palavra mais dura, durante esse período no ministério. Parece que o currículo do novo ministro é bom. Vamos torcer para que ele cuide das nossas crianças e não cuide do Olavo (de Carvalho) na Virgínia (nos Estados Unidos, onde ele mora). Acho que o Ministério da Educação precisa cuidar das nossas crianças, do futuro, e não cuidar do que pensa o Olavo de Carvalho — disse Maia.

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O anúncio do novo ministro foi recebido com cautela por parlamentares ligados à área da educação. Relatora da PEC do Fundeb, que definirá o modelo de financiamento da educação básica no país, a deputada Professora Dorinha Seabra (DEM-TO) elogiou o perfil de Decotelli. Mas considerou ser preciso que ele tenha autonomia de fato para gerir a pasta.

— Acho que foi uma boa escolha.  Decotelli sempre foi muito receptivo em meus contatos com ele. Ele foi o primeiro a criar, no FNDE, um grupo de trabalho sobre o Fundeb, os técnicos ficavam à disposição. Ele me convidou para explicar o Fundeb aos servidores. Espero que deixem ele trabalhar, ele é altamente técnico e bastante equilibrado. As secretarias (estaduais e municipais) de educação precisam muito de ajuda — opinou a deputada.

Já o coordenador da Comissão Externa de Acompanhamento do MEC na Câmara, deputado João Campos (PSB-PE), afirmou que é preciso esperar os próximos passos do ministro para avaliar adequadamente:

—  É um pouco cedo para especular sobre vitória e derrota. Mas espero verdadeiramente que a Educação possa ser tratada como prioridade pelo governo Bolsonaro, o que até hoje não aconteceu. Espero que o clima da gestão não seja pautado por decisões fanáticas e movidas por interesse de um grupo que não tem responsabilidade com a educação, que é o grupo olavista. Espero que haja uma reaproximação do MEC com o Congresso em favor da educação — disse Campos.

A deputada Tabata Amaral (PDT-SP) afirmou que é difícil avaliar o novo ministro tendo como referência seu antecessor, Abraham Weintraub, mas destacou que a expectativa é a de que o país avance na pauta da Educação.

—  Temos como parâmetro o pior ministro da História. A completa falta de gestão (de Weintraub) deixou um vácuo expressivo que está prejudicando o futuro de milhões de jovens brasileiros. —  opinou a deputada. —  A esperança é de que consigamos, finalmente, avançar nos projetos que são tão caros à nossa população e de que tenhamos um diálogo democrático, e não mais um ministro refém da ignorância e do obscurantismo.