publicado dia 05/09/2023

II Seminário Nacional de Educação Integral aborda protagonismo dos territórios na Educação Integral

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📄Resumo: O II Seminário Nacional de Educação Integral acontece de 04 a 06/09 em Salvador (BA). Na manhã da terça-feira (05/09), educadores populares e pesquisadores debateram a importância da escuta ativa das comunidades e do protagonismo e participação social dos territórios na construção das políticas públicas de Educação Integral.  

A importância de ouvir e considerar os territórios e as comunidades  no planejamento e execução das políticas públicas de Educação Integral abriu as discussões do segundo dia do Seminário Nacional de Educação Integral, em Salvador (BA). 

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Com a presença de professores, especialistas em Educação Integral e educadores populares, o evento ocorrido na manhã de terça-feira (05/09) foi intitulado “Campos, aldeias e cidades que educam: territórios de viver, aprender e transformar” e mediado pela especialista Jaqueline Moll (UFRGS).  

Assista ao encontro na íntegra no canal do Observatório da Educação Integral no YouTube. 

Educação Quilombola e Educação Integral 

Pesquisadora das relações étnico-raciais e quilombola, a educadora Rosemária Joazeiro abriu a mesa explicando que vem do Alto Sertão da Bahia. “Aquele lugar bem distante, mas pulsante e cheio de vida”, descreveu a educadora, que atua no Ensino Médio e Superior. 

“A minha relação com a Educação Integral está na veia, junto com o Comitê Territorial da Bahia, que vem lá de Caetité, terra de Anísio Teixeira”, compartilhou Rosemária, que também exibiu um vídeo sobre o impacto do Programa Mais Educação na comunidade quilombola Sambaiba, localizada a 70 km de Caetité (BA). 

Para a educadora, as contradições lá presentes na Educação são as mesmas enfrentadas pelo Brasil como um todo, mas já aconteceram mudanças no território provocadas pela Educação Integral, como a formação de professores da comunidade para atuar nas escolas locais. 

Rosemária explicou, ainda, a diferença entre Educação Escolar Quilombola e Educação Quilombola. A primeira é aquela formal, curricular, que acontece dentro das escolas quilombolas, seja no campo ou na cidade. Já a Educação Quilombola vai além do ambiente escolar e do currículo. 

“É a educação que está na época da colheita, da produção, da raspagem da mandioca, da casa de farinha, do cuidado com o apiário, no tratar das coisas do campo e da natureza. Essa é a Educação Quilombola, que não pensa no sujeito só no espaço escolar e se aproxima dessa Educação Integral”, defendeu.  

Ensino Superior, Educação Básica e Educação Integral 

Doutor em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Professor Titular da Universidade do Estado da Bahia (UEBA), Marcius Gomes – que também é da Secretaria Estadual de Educação da Bahia – abordou o papel da gestão pública no apoio à Educação Integral. 

Na esteira da fala da professora Rosemaria, o gestor público lembrou das oportunidades criadas pelo Mais Educação para as juventudes e reforçou a necessidade de diálogo permanente entre o Ensino Superior e as escolas públicas de Educação Básica.

“Precisamos de um campo de diálogo permanente da Academia para a Educação Básica. A Bahia hoje convive com experiências exitosas, como os colégios universitários, que aproximam o Ensino Superior da Educação Básica. Mas ainda é pouco. O currículo do Ensino Superior precisa apontar caminhos para a Educação Integral”, afirmou. 

Educação Integral, Educação Popular e participação social 

Também presente na mesa de discussão, Pedro Pontual trouxe a reflexão de que programas e políticas públicas, por si só, não são suficientes para transformar a consciência. 

Para o doutor em Educação pela PUC-SP, é preciso intencionalidade educativa no desenho e implementação das ações governamentais, sobretudo quando as políticas públicas chegam na ponta, nos territórios. 

“Nesse sentido, é fundamental que a participação social com Educação Popular possa chegar e se transformar em método de governo”, defendeu Pedro, que atualmente é Diretor de Educação Popular da Secretaria Nacional de Participação Social da Secretaria da Presidência da República. 

Para o educador, os territórios educativos (ou territórios de bem-viver) são constituídos por ações da comunidade, sociedade civil organizada e dos movimentos sociais, mas também a partir da ação do Estado, por meio da criação de espaços de participação social e educativos. 

Assim, um dos grandes desafios é a articulação e concretização das políticas públicas educacionais nos territórios, a fim de superar a fragmentação e criar sinergia entre as ações. 

“Essa é uma contribuição importante da Educação Integral: criar espaços educativos que, junto à escola, vão tecendo uma nova forma de viver nos territórios”, concluiu. 

Representando os professores que estão no chão da escola, Diovane Resende criticou as ações propostas para os territórios e comunidades sem participação popular e o cerceamento da fala dos professores. 

“A premissa de ouvir o território é básica”, alertou o educador. “Nosso país é continental e até um mesmo municípios há inúmeras realidades, que precisam ser consideradas na política pública. Para Diovane, é preciso fazer uma autocrítica profunda e valorizar a participação da comunidade na formulação e aplicação das políticas. 

“A premissa de ouvir o território é básica”, defendeu Diovane Rezende

“Nos últimos quatro anos, as pessoas que resistiram e continuaram seu trabalho eram aquelas de territórios empoderados e articulados. Então, antes de propor precisamos ouvir quem está na ponta”, defendeu. 

Cátedra Unesco Cidade que Educa e Transforma

Representando a Cátedra da Unesco – Cidade que Educa e Transforma, Marcio Tascheto afirmou que é preciso reconhecer que as políticas exitosas também são fruto da expertise dos territórios. 

No entanto, universidades e  poder público tem dificuldade de reconhecer tais saberes como relevantes. “Além de pensar o tempo, precisamos também pensar em espaços integrais de Educação”, defendeu. 

Para Tascheto, os territórios são centrais na construção de qualquer política de Educação Integral. “Esses territórios, para lembrar o geógrafo negro Milton Santos, são sempre luta e disputa”, afirmou. O professor  citou uma frase do clássico A Divina Comédia, de Dante Alighieri: as nossas geografias são resultados dos nossos atos. 

“Essa geografia da fome, da violência e da desigualdade, precisamos enfrentar. Porque é só a partir disso que iremos construir cidades e territórios que educam e transformam. 

Para o pedagogo Renê Silva, que faz parte do Comitê Baiano de Educação Integral, é preciso também discutir os espaços e tempos da organização da vida escolar.  “Será que ampliar o tempo na estrutura de aulas fragmentadas de 50 minutos é o que queremos?”, questionou o educador. “Precisamos aproveitar o momento e romper com essa estrutura burocrática de organização do trabalho pedagógico da escola”, afirmou. 

Escola, terra e dignidade 

Representando o protagonismo dos movimentos sociais na Educação Integral, o educador popular Obede Guimarães eletrizou a plateia com seu depoimento e ao puxar as palavras de ordem “Por escola, terra e dignidade”. 

 Obede, que é do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra (MST), explica que, na concepção do movimento, Educação é formação humana, cujo potencial vai muito além da escolarização. 

“Se entendo que o ser humano é complexo, preciso construir processos educacionais igualmente complexos. Não podemos tratar o que é complexo como simples”, definiu o educador, que foi bastante aplaudido ao longo de sua fala. 

“Há muito tempo, quem comandava nosso tempo era a natureza. A sociedade foi se desenvolvendo e agora é o patrão que comanda o nosso tempo. Os donos das coisas comandam o tempo”, refletiu ele, dizendo que hoje a exploração do trabalho está conectada com o aspecto temporal. 

Em uma sociedade assim, é preciso que a  escola ensine a obedecer. “Com isso, vamos reproduzindo na escola a lógica de que poucos controlam o tempo de muitos. E esses muitos precisam, então, ser adestrados e obrigados a obedecer ao tempo”, criticou.  

“Nessa educação de formação humana, a ruptura do poder sobre o tempo é fundamental. Hoje, a exploração do trabalho está mais concentrada no tempo. 

Para nós do MST, é fundamental que esse poder do tempo seja compartilhado na escola com estudantes e comunidade. Já temos vários mecanismos de participação e outros tantos precisam ser criados e intensificados”, defendeu.  

Ele compartilhou a experiência de sua escola, onde foi organizado um mutirão com os estudantes para corrigir uma obra e garantir a oferta de água para a comunidade escolar. 

“Um problema pode ser uma potência. Construímos o sistema de água com os estudantes e eles aprenderam, no Ensino Médio, a construir uma cisterna para abastecer a escola”, compartilhou.

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