Governador Ibaneis Rocha discute com deputado distrital Fábio Felix
O governador Ibaneis Rocha (MDB) e o deputado distrital Fábio Felix (Psol) bateram boca na tarde desta segunda-feira (19), em reunião na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF). A discussão foi motivada pelo projeto de militarização da gestão de escolas públicas da capital (veja vídeo acima).
"Eu não vou discutir com você. Rapaz, a Câmara fique à vontade com seus esquerdistas", disse Ibaneis ao ser questionado pelo parlamentar.
Em nota divulgada após o episódio, Fábio Felix classificou o comportamento do chefe do Executivo como "lamentável" (veja íntegra abaixo). O Governo do Distrito Federal (GDF) disse que "não comentar o assunto".
Mais cedo, o governador informou ao G1 que vai implementar o projeto até nas escolas que rejeitaram a proposta em votação. No final de semana, de cinco escolas onde houve votação, duas escolheram não participar da gestão compartilhada com a Polícia Militar (entenda abaixo).
Discussão gravada
Ibaneis foi à CLDF para entregar o projeto de lei que prevê a criação da Secretaria da Pessoa com Deficiência. Durante o encontro, o deputado Fábio Felix questionou a decisão do governador de militarizar a gestão de escolas que rejeitaram o modelo durante votação de pais, professores, funcionários e alunos.
O governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, participou de uma reunião de governadores em Brasília — Foto: José Cruz/Agência Brasil
O chefe do Executivo argumentou que a decisão das unidades tinha sido motivada por questões ideológicas. A partir daí, tem início o bate-boca.
Um trecho foi gravado em vídeo. Confira a transcrição abaixo:
Ibaneis: Naquele momento em que ele fez, não tinham os partidos lá dentro.
Fábio Felix: Em todos os espaços, têm os partidos dentro.
Ibaneis: Dentro das escolas? Na própria lei está dizendo que não tem.
Fábio Felix: Os partidos são instituições sociais...
Ibaneis: Eu não vou discutir com você. Rapaz, a Câmara fique à vontade com seus esquerdistas.
Fábio Felix: Nós estamos conversando, eu estou disposto ao diálogo. Eu estou disposto ao diálogo.
Ibaneis: Não são locais para sindicatos estarem dentro. Isso não é lugar para sindicato. Na própria lei de gestão diz que não é para ter ideologia.
Fábio Felix: A minha posição... a minha posição... o governador tem que ouvir a minha posição...
Deputado distrital Fábio Felix (Psol) — Foto: Alexandre A. Bastos/Divulgação
Polêmica sobre militarização
A polêmica sobre a militarização da gestão das escolas públicas do DF cresceu no fim de semana. No sábado (17), o GDF colocou o projeto em votação em cinco escolas para que a comunidade votasse sobre a adesão ao projeto.
Em três unidades, o plano do governo foi aprovado. Em duas, no entanto, acabou rejeitado. Confira o resultado em cada uma das escolas:
- CEF 19 (Taguatinga): 70,79% a favor e 29,21% contra
- CEF 01 (Núcleo Bandeirante): 53,97% a favor e 47,03% contra
- CED 01(Itapoã): 67% a favor e 33% contra
- CEF 407 (Samambaia): 58,49% contra e 41,38% a favor
- Gisno (Asa Norte): 57,66% contra e 42,33% a favor
Nesta segunda, no entanto, o governador afirmou que pretende implementar o modelo inclusive nas escolas contrárias à medida. Segundo o governador, a votação do fim de semana foi apenas uma “consulta pública e não uma eleição”.
“Os indicadores mostram a necessidade do modelo. Quem votou contra foi justamente a parcela que não quer o bem das escolas [...] Quem achar ruim que vá à Justiça."
A medida provocou reações dos deputados distritais Leandro Grass (Rede), Arlete Sampaio (PT) e Fábio Felix, que divulgaram nota condenando a proposta.
Outras entidades como a Universidade de Brasília (UnB), o Sindicato dos Professores do DF (Sinpro-DF) e a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) também assinaram carta aberta contra a medida.
Votação no CED 7 de Ceilândia para decidir sobre militarização — Foto: Reprodução/TV Globo
O que é gestão compartilhada?
O programa de gestão compartilhada no ensino público do Distrito Federal começou em fevereiro de 2019. Ele é destinado a alunos do 6º ao 9º ano do ensino fundamental e também aos estudantes do ensino médio.
No modelo proposto pelo GDF, a parte pedagógica das escolas permanece a cargo dos professores, diretores e orientadores. Já a segurança – incluindo a entrada e a saída dos estudantes – fica com a Polícia Militar.
Segundo o governo, "os militares também trabalham no dia a dia dos estudantes com conceitos de ética e de cidadania, além de promoverem atividades esportivas e musicais no contraturno".
Os estudantes são obrigados a adotar um padrão de corte de cabelo – curto para meninos e coque para meninas. Como uniforme, eles usam camisa branca e calça jeans.
A previsão é de que o uniforme militar seja obrigatório, mas até agosto, as roupas ainda não tinham sido distribuídas.
O que diz o deputado Fábio Felix
Ibaneis sobrepõe sua vontade aos desejos da população, desrespeita uma votação e joga no lixo a voz do povo quando questionado sobre o resultado das votações nas escolas que rejeitaram a militarização.
Um governador que se encastela e tapa os ouvidos para a divergência é um exemplo do que tanto tememos em tempos de crise na democracia: autoritarismo.
A postura absurda do governador hoje, aqui na Câmara Legislativa, é lamentável e fere gravemente a diplomacia. Política é diálogo e a truculência é inaceitável!
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