Rio

Hand spinner: de febre entre os adolescentes a pesadelo dos colégios

Colégio Santo Inácio, em Botafogo, recomendou que os alunos não utilizassem o brinquedo durante as aulas
Franco, do pH de Ipanema: brinquedo ajuda a relaxar Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Franco, do pH de Ipanema: brinquedo ajuda a relaxar Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

RIO - A cena se repete na porta das escolas da cidade: um grupo de adolescentes conversa, nas mãos, algo colorido girando chama a atenção. É o hand spinner, brinquedo que é a nova moda entre os jovens. Segundo a coluna "Gente Boa", a febre pela peça, que possui um círculo no centro e ao colocar os dedos nas pontas, com um movimento rápido, é possível girá-lo cada vez mais rápido, foi tão grande que o Colégio Santo Inácio teria proibido o brinquedo na escola.

— Eu comprei o meu há três dias e hoje a professora tomou o meu, mas eu admito que estava usando durante a aula. É uma coisa interessante, fico vendo manobras pela internet e tento imitar— diz um aluno do 9º ano do Colégio Santo Inácio, que é interrompido por um colega do 1º ano do Ensino Médio para dizer que também teve o brinquedo retido pela instituição — Nós ficamos muito tempo estudando, é uma forma de se distrair quando ficamos entediados — completa outro estudante do 3º ano do colégio.

Segundo o Colégio Santo Inácio, tudo não passou de um mal-entendido: nenhum brinquedo é proibido na escola. O que aconteceu foi uma recomendação para que os alunos não usassem durante a aula, já que os estudantes estavam se distraindo.Perto dali, no Leblon, o Colégio Santo Agostinho passa pelo mesmo problema.

— Nós cuidamos das crianças, eles não podem se prejudicar por causa de uma brincadeira. Só hoje, eu recolhi dez desses brinquedos porque estavam girando durante a explicação da matéria. É um desespero, quem está brincando para de prestar atenção, os amigos querem brincar também, vira uma confusão. Mas no final da aula eu devolvo — conta a professora de ciências Danielle de Almeida.

Na porta do Santo Agostinho os alunos se juntam em rodas e o Hand Spinner de diferentes cores é o centro das atenções. No Colégio pH de Ipanema a situação é semelhante.

— Eu estava brincando com o meu no corredor enquanto ia para a sala de aula e um inspetor me pediu para guardar — disse uma aluna do 6º ano do Ensino Fundamental do Santo Agostinho, que comprou o passatempo depois que viu inúmeras fotos no Instagram — No pH uma professora já chamou nossa atenção porque estávamos usando muito durante a aula. Eu comprei o meu há um mês para me ajudar a relaxar e funciona — revelou um estudante do 9º ano do Colégio pH de Ipanema.

Ana Luisa Marinho, do Santo Agostinho, já encomendou um hand spinner Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo
Ana Luisa Marinho, do Santo Agostinho, já encomendou um hand spinner Foto: Fabio Rossi / Agência O Globo

O diretor-geral do Grupo GPI de Ensino, Jorge Neto, concorda que o uso de brinquedos em sala não deve ser permitido, mas não vê problema no fato de crianças e jovens brincarem com o "Hand Spinner" em horários de intervalo. Para o professor, no entanto, o excesso de ofertas de entretenimento tem prejudicado a concentração de estudantes.

— Quando qualquer brinquedo vira moda entre crianças e jovens, é natural que os alunos acabem levando esses artigos para o ambiente escolar. Dentro de sala de aula, obviamente, não permitimos o uso de nada prejudique a atenção dos alunos, mas não proibimos que os brinquedos sejam usados em horários de intervalo, fora da sala de aula. O hand spinner não oferece risco físico, mas promove desatenção e desvio de foco do aluno — frisa.

Gilda Carregal, da Coordenação Pedagógica do Colégio Andrews, no Humaitá, explica que a unidade tem regras bem definidas em relação ao uso de brinquedos, incluindo o "Hand Spinner". Ela revela, no entanto, que o brinquedo ainda não se tornou uma febre na escola, e não causou problemas como no Colégio Santo Inácio.

— Temos regras bem definidas, discutidas junto aos pais, em relação aos brinquedos. Até o momento, como não tivemos nenhum acidente ou transtorno causado pelo hand spinner, temos permitido que as crianças tragam o brinquedo, desde que, assim como todos os demais, eles sejam utilizados em espaços e horários permitidos, como a hora do recreio.

Já a coordenadora comunitária da unidade do Cosme Velho do Colégio São Vicente de Paulo, Laura Regent, esclarece que a escola não proíbe que o "Hand Spinner" ou outros brinquedos sejam levados pelos alunos.

— Nossa política é de não proibição, e sim de diálogo e conscientização do uso dos brinquedos. Conversamos bastante com os alunos e os pais, e achamos positivo esse momento da brincadeira, do lúdico. Se esse brinquedo se tornou uma febre, é natural que as crianças o levem para escola e mostrem para os colegas, embora a adesão aqui, até o momento, ainda não seja grande.

CONTRA O ESTRESSE

O hand spinner foi criado no início da década de 90 com o objetivo de auxiliar no relaxamento e aumentar a concentração. Ele era recomendado para crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) e autismo. Mas a internet foi tomada por vídeos e fotos do brinquedo e viralizou. O professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal Fluminense (UFF) e especialista em psiquiatria infantil, Jairo Werner, destaca não conhecer estudos que comprovem a eficácia do "Hand Spinner".

—  Isso virou uma grande moda, tenho pacientes que estão usando, não por recomendação minha, mas por conta própria. É um aparelho que fornece um alívio momentâneo da ansiedade, porque algumas pessoas, em especial as crianças, têm muita energia para extravasar. Tudo pode ser usado para o bem ou para o mal, limite é sempre necessário — explica Werner.

COMERCIANTES COMEMORAM

Nova moda. Cínthia Vasconcellos procurou o 'Hand Spinner' em todas as bancas do Leblon Foto: Kátia Gonçalves / Agência O Globo
Nova moda. Cínthia Vasconcellos procurou o 'Hand Spinner' em todas as bancas do Leblon Foto: Kátia Gonçalves / Agência O Globo

Na banca de jornal em frente ao Santo Agostinho já tem quem lucre com a novidade, o jornaleiro Marcelo Amaral estava conversando com um aluno que tinha acabado de ganhar o brinquedo do pai. Achou interessante e foi pesquisar no Youtube o que era. O vídeo que ensina a construir a peça já conta com mais de cinco milhões de visualizações. Marcelo viu ali uma oportunidade de negócio.

— Encomendo pela internet e vendo aqui na banca por R$ 40. Em 50 minutos meu estoque acaba. Em um mês vendi quase 200 desses — surpreende-se o jornaleiro de 44 anos.

Em sites de vendas é possível encontrar o hHand Spinner" a venda a partir de R$ 15, mas a entrega pode demorar até um mês e não é permitido escolher a cor. Na Uruguaiana, o produto já pode ser comprado por R$ 25. Na porta do Colégio Santo Inácio um ambulante vende cada unidade por R$ 30. A loja de brinquedos "ToyBoy", no Leblon, vende por R$ 50 e já tem uma lista de espera de cerca de 30 clientes para quando uma nova remessa da mais recente moda entre os jovens chegar.

— Disseram que é bom para a ansiedade e eu quero testar. Ontem eu procurei em todas as bancas de jornais do Leblon e ninguém mais tinha — conta a estudante Cínthia Vasconcellos, de 20 anos.

*Estagiária sob supervisão de Leila Yousseff