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Por Graziella Valenti, Valor — São Paulo


O Grupo Critique, que reúne as escolas investidas e parceiras da Bahema de base construtivista e visa o desenvolvimento pedagógico desse modelo, publicou na quarta-feira uma carta aberta ao novo ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez. Na carta, o grupo afirma que as declarações do ministro, “até aqui, deixaram a desejar” e cobra o anúncio de um projeto concreto de educação.

“Ainda aguardamos um plano criterioso que assegure a aprendizagem que vai preparar nossas crianças e jovens para enfrentarem, entre outros muitos desafios, o aquecimento global, as mudanças climáticas, as questões éticas da manipulação genética, da inteligência artificial, e os muitos problemas ainda desconhecidos, mas que sabemos que virão com a transformação cada vez mais rápida da realidade”, afirma o documento aberto no site do Grupo Critique.

Na carta. o Grupo Critique começa sua exposição de opinião pelas declarações de Vélez Rodríguez — repetidas ontem — de que entre seus objetivos está acabar com a ideologia marxista nas escolas e de gênero. "A ideologia globalista passou a destruir um a um os valores culturais que regem o país, família, igreja, Estado, pátria e escola", afirmou o novo ministro em seu discurso de posse. Desde que foi anunciado como futuro ministro do governo de Jair Bolsonaro (PSL), Vélez Rodríguez tem manifestado opiniões fortes nesse sentido.

Ao que o grupo responde: “Nossa longa e ampla experiência na escola nos impele ao dever de contribuir para a atual discussão sobre a educação escolar brasileira. Precisamos começar por esclarecer que o problema de nossas escolas não são ideologias de esquerda em sala de aula, mas a incapacidade do sistema de conseguir que os alunos aprendam.” 

“A insistência em enfatizar problemas ideológicos serve apenas para desviar o foco do problema real e prejudica o aprimoramento da educação escolar, tão essencial para que o país se torne viável”, escreve o Critique.

O diretor de comunicação da Bahema, Frederico Marques Affonso Ferreira, explicou que desde sua criação, no começo de 2018, o Grupo Critique decidiu se posicionar publicamente sobre os debates atuais de educação no país, pratica que deve se manter e até aumentar.

“Não concordamos que – num país em que muitos alunos não chegam a aprender a ler – se tenha como meta principal vigiar professores e criar Conselhos de Ética, nas escolas, para zelarem pela 'reta' educação moral dos alunos. Excelência, escola é lugar de falar de alfabetização, comunicação, pensamento lógico, científico, humanidades, moral, tudo o que fundamenta o acervo cultural da humanidade. O pensamento moral implica transformação interna do sujeito, que se constrói discutindo ações e conhecimentos, e não com punição e obediência”, diz a carta ao ministro.

O documento também reforça a posição do Grupo Critique sobre o projeto Escola sem Partido: “Alertamos que a Escola sem Partido, que Vossa Excelência considera 'uma providência fundamental', não está atualizada com as pedagogias contemporâneas, discutidas e estudadas em todos os países do mundo que se preocupam com formar gerações que consigam interpretar a realidade, em sua complexidade, para lidar com as transformações radicais decorrentes do mundo digital”. Affonso Ferreira, da Bahema, disse que desde o fim do ano passado o Critique debate e se posiciona sobre o projeto de governo.

O texto, de autoria de Patricia Lins e Silva, diretora pedagógica da Escola Parque, mas representa a visão de todo o Grupo Critique. Ao Valor, Patricia contou que a iniciativa deve-se à percepção de que o foco do ministro está equivocado, com o discurso sobre ideologia marxista e de gênero. “Nosso problema é muito mais profundo. Não estamos conseguindo, como país, ensinar nossas crianças a aprender e a dar conta da complexidade do mundo. Além disso, existe uma visão obsoleta sobre o que é educação escolar. É completamente ultrapassada o discurso de que a escola ensina e a família educa.”

Na opinião da diretora pedagógica da Escola Parque, neste momento, de posse de cargos, seria importante que o ministro trouxesse “declarações assertivas sobre quais serão as políticas de alfabetização” para o Brasil. “Mas não apenas de compreensão de código escrito, mas algo amplo, um projeto de educação que tivesse por objetivo preparar as crianças para ler o mundo, cada dia mais complexo.”

Bahema

A Bahema reúne participações e parcerias visando investimento futuro em escolas de nível premium em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais e, por enquanto, todas de base construtivista. Entretanto, não há uma restrição pedagógica no perfil de investimento da holding. Atualmente, estão no portfólio as paulistas Escola da Vila e Escola Viva, a carioca Escola Parque e a mineira Balão Vermelho. No caso da Viva, a Bahema não possui participação, mas um contrato de consultoria em gestão e um empréstimo financeiro com opção de aquisição.

No início de dezembro, a Bahema divulgou comunicado no qual afirmava estar em negociação com três escolas premium que juntas somam um quadro com mais de 2 mil alunos matriculados e receita anual esperada de R$ 43 milhões.

Desde novembro, para esses próximos passos, a companhia estuda uma possível capitalização, que poderá ser feita via oferta pública de ações, com potencial para alcançar até R$ 200 milhões. A BR Partners é quem assessora a companhia.

A Bahema teve receita líquida de R$ 33 milhões, de janeiro a setembro de 2018, e possui R$ 16,1 milhões em caixa, sem dívida financeira relevante. O patrimônio líquido, ao fim de setembro, estava em R$ 62 milhões e o capital social, em R$ 56 milhões.

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