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‘Governo federal não pode forçar retorno presencial das aulas nos estados’, diz Cecilia Mota

Presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação afirma que aulas remotas ainda são necessárias mas está preocupada com eventual aumento da evasão escolar com mais um ano letivo à distância
Escolas municipais no Rio retornaram aulas no 9º ano do ensino fundamental Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo
Escolas municipais no Rio retornaram aulas no 9º ano do ensino fundamental Foto: Pedro Teixeira / Agência O Globo

RIO — A presidente do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Consed), Cecília Mota, afrima que o governo federal não pode forçar o retorno presencial das aulas nos estados. Isso porque cada unidade da federação tem autonomia para decidir pela prorrogação do ensino remoto.

— Na verdade, nós (também) queremos que voltem as aulas presenciais. Fecha-se o comércio, mas não a escola. Mas ainda vamos precisar do ensino remoto para as aulas híbridas ou reforço escolar — diz.

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Na última semana, o Ministério da Educação (MEC) avisou a membros do Conselho Nacional de Educação (CNE) que vetará a prorrogação do ensino remoto até dezembro de 2021 . A comunicação ainda não foi feita oficialmente, mas já houve conversas entre membros do conselho e do ministério. A informação foi confirmada ao GLOBO por duas fontes envolvidas com as negociações.  O objetivo do governo federal seria o de tentar forçar a volta presencial às aulas em todo o país.

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Ao GLOBO, Cecília Mota, que também é secretária de educação do Mato Grosso do Sul, diz que que os estados já estão preparados para o retorno seguro às salas de aula com turmas divididas mas afirma que se preocupa mais com outro aspecto da extensão das aulas remotas: a elevação da evasão escolar.

O governo federal pode, de alguma forma, forçar o retorno presencial às aulas nos estados?

Não. O que entendemos é que o governo federal passou a decisão para os estados. E os sistemas de ensino também têm sua autonomia para legislar. Os Conselhos Estaduais e Municipais de Educação podem legislar sobre o tema. Na verdade, nós (também) queremos o retorno das aulas presenciais. Está tudo aberto: boate, circo, mercado, parque de diversões, mas não as escolas, e o prejuízo pedagógico está sendo enorme. Por isso estamos lançando os protocolos de retorno seguro em parceria com os órgãos de controle. Mesmo que de forma híbrida, de alguma maneira a gente pretende sim voltar.

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O que ainda é preciso para se voltar às aulas de forma segura?

Os protocolos estão prontos e os materiais comprados. Da mesma maneira como se faz distanciamento no supermercado, pode acontecer na escola. Está todo mundo indo a todos os lugares. E os estudantes brasileiros fechados em casa, com(casos de) crianças sendo mal tratadas, estupradas, surradas. Tem que ver bem o custo-benefício disso. Fecha-se o comércio, outras coisas, mas não a escola.

Há possibilidade de questionamentos na Justiça caso conselhos estaduais regulem o ensino remoto para o seu estado?

O meu estado e vários outros criaram comissões provisórias para o retorno às aulas presenciais com os órgãos de controle. O que essa comissão decidir terá o aval dos órgãos de controle...Ministério Público, Defensoria, Assembleia Legislativa.

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Quais são as consequências de um segundo ano majoritariamente no ensino remoto?

As crianças seriam altamente prejudicadas na sua cognição e na questão socioemocional. As famílias estão precisando trabalhar e deixar os filhos em casa. Deveria ser como na Europa: “fique em casa para as crianças irem para a escola”.

Haverá impacto na evasão se tivermos mais um ano majoritariamente remoto?

Acho que sim. Muitas crianças perderão o interesse na escola. Veja, o ensino remoto vai existir. Vamos fazer recuperação remota e outras questões serão resolvidas deste modo. O que queremos é um ensino híbrido. Metade da turma num dia, metade na outra. Aqueles que não decidirem ir presencialmente também poderão continuar de casa. Precisamos, na verdade, lutar por esse retorno.

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Os estados aprenderam, em 2020, a elaborar um ensino remoto melhor para 2021?

Aprendemos a não ter medo da tecnologia. Algo que já devia ter sido feito no século passado. Finalmente estamos de verdade no século XXI. Os professores tinham certo receio em usar a tecnologia no dia a dia. Foi uma aprendizagem.

A senhora considera um erro a não homologação do artigo do CNE por parte do MEC?

Não foi um erro, mas é uma questão de autonomia. Quem está vivendo na ponta são os estados e municípios. Nós é que sabemos o que devemos ou não tocar para frente. O calendário escolar daqui já está aprovado e publicado de todas as maneiras: podendo fazer ensino remoto, presencial ou híbrido (parte na escola, parte de casa). Vai depender de como esteja a situação da Covid no estado. Fechem outras coisas, mas não fechem as escolas.

O que a senhora acredita que motiva o ministro a não homologá-lo? Seria um aceno à ala ideológica?

Não. Mnha leitura é que o presidente delegou para os estados e governadores decidirem, como fez com todas as outras coisas da pandemia. No fim, é o território que conta. As minhas escolas (da rede estadual) ficam em municípios. E quem vai mandar é o prefeito.