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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo do RJ zomba de eleitor com fantasma dando aula a aluno de mentira

Antonio Cruz/Agência Brasil
Imagem: Antonio Cruz/Agência Brasil

Colunista do UOL

07/08/2022 10h35Atualizada em 08/08/2022 13h36

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O governo Cláudio Castro (PL) criou uma política pública educacional tão secreta, mas tão secreta que resolveu nem envolver os alunos. Ou garantir professores. Mas os recursos dos contribuintes que custearam a política eram bem reais e podem servir para bancar a eleição de aliados.

Nova reportagem da série sobre a farra dos cargos secretos, dos incansáveis Ruben Berta e Igor Mello, do UOL, mostra que 1.343 núcleos do projeto Esporte Presente, que oferece atividades esportivas às comunidades, não registraram a presença de alunos. E, em 718 locais, não há inscrição de professores de educação física.

Dessa forma, o governo do Rio inova mais uma vez e cria o aluno-mentira recebendo instrução do professor-fantasma. É o Gasparzinho dando aula para o Fantasminha Pluft. E, claro, toda inovação tem um preço. E este foi salgado.

De acordo com o Ministério Público, somente em 2022, R$ 109,8 milhões foram pagos ao Esporte Presente, sendo que a projeção de gastos para este ano superava os R$ 380 milhões. As investigações mostram que a contratação de profissionais para dar apoio aos núcleos podem estar servindo para muita coisa, como bancar cabos eleitorais de amigos do governo e até caixa 2 de campanha.

Ninguém pode acusar o governo do Rio de incoerência, contudo. Afinal, o professor-fantasma dando aula para alunos que não existem era prática dentro do seu esquema dos cargos secretos.

O governo Claudio Castro mantém ao menos 18 mil cargos secretos na Ceperj (Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio), sem nenhuma transparência, e aumentou o orçamento do órgão em 25 vezes desde que sua gestão assumiu. Foi encontrada até planilha relacionada a orçamento de 9 mil cargos secretos batizada com o nome de "governador".

Uma ação que tramita na 15ª Vara da Fazenda Pública do Rio aponta que o volume sacado nas agências onde os servidores recebem os pagamentos representa 91% do total pago a eles em 2022, ou seja R$ 226,4 milhões. O Ministério Público está questionando os gastos sem transparência após as matérias do UOL.

O modelo dos saques é semelhante ao da "rachadinha", em que salários são sacados e usados para finalidades diversas à remuneração pelos serviços prestados pela função pública.

Modelo que ficou famoso ao ser usado no gabinete do então deputado estadual Flávio Bolsonaro, primogênito do presidente, em um esquema organizado por Fabrício Queiroz. Neste caso, ao que tudo indica, temos uma "rachadinha eleitoral".

Diante de tudo isso, o Congresso Nacional deve estar morrendo de inveja. Os números do seu orçamento-secreto são mais vultoosos, mas comparado ao que rola no Rio, o seu esquema é para amadores.