Por Ana Carolina Moreno, TV Globo — São Paulo


Qualidade da educação pública em SP: comunidade aponta excesso de alunos em sala de aula — Foto: Reprodução/TV Globo

O governo de São Paulo determinou que duas vezes por semana os diretores vão ter que assistir às aulas ministradas nas escolas estaduais e preencher um relatório sobre os professores semanalmente. Após ser preenchido, o professor também terá que assinar o documento.

Os diretores vão avaliar, por exemplo, a interação dos estudantes com as atividades, a gestão do tempo, os recursos utilizados e o clima entre professor e alunos na sala, apontando os pontos positivos, os que podem ser melhorados e também os "combinados e próximos passos".

A portaria que obriga essa prática foi divulgada no dia 28 de julho no Diário Oficial. Ela fala em “integrar a escola" e "aproximar a gestão escolar e a prática pedagógica". Mas não é assim que a professora especialista em gestão da educação, Márcia Jacomini, avalia essa medida.

"Na minha compreensão, o objetivo dessa portaria é realmente uma medida coercitiva e de vigilância. Coercitiva no sentido de dizer "professor, nós vamos verificar se você está desenvolvendo na sala de aula aquilo que a secretaria está determinando"".

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Educadores também relatam a questão da eficiência desse tipo de avaliação. Na escola estadual Maestro Fabiano Louzano, que é a maior da região da Vila Mariana, são 893 matrículas, 23 turmas e 45 professores. Nos quatro bimestres serão produzidos 180 relatórios e entregues à diretoria de ensino.

Na cidade de São Paulo são 1.485 escolas estaduais, com mais de 68 mil professores. Em todo o estado, o número sobe pra 5.621 escolas e 219 mil docentes.

"Quem vai ler esses formulários e que retorno terá? Porque, se a questão é orientar as escolas no sentido de elas procurarem as melhores formas pra garantir a aprendizagem e a formação dos estudantes, eu não preciso mandar esses formulários pra diretoria do ensino, tão pouco pra secretaria de educação", ressalta a professora Márcia.

E complementa: "De positivo, não serve pra nada. Mas cria desconfiança, cria um clima tenso na escola".

Paulo José das Neves ensina geografia há quase 30 anos, na rede pública, e também é do conselho da escola em que trabalha, na Zona Leste, e diretor da Apeoesp -- o sindicato que representa os professores do estado.

Ele conta que já se acostumou a trabalhar sob a vigilância das câmeras na sala de aula, nos últimos 5 anos. Mas a presença do diretor é outra história.

"Sempre dei aula com a porta aberta. Eu sou um servidor público, sempre tive essa concepção. Agora, diretor, vice-diretor, coordenador pedagógico, sempre pediu licença para entrar nas nossas aulas. Isso sempre foi garantido, sempre. Agora é muito estranho essa decisão de fiscalizar, estabelecer uma fiscalização como se nós professores fôssemos todos irresponsáveis e nós não executássemos os nossos trabalhos".

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