Brasil

Governo de SP anuncia ensino à distância para 3,5 milhões de alunos durante quarentena

Aplicativo a ser disponibilizado para estudantes e professores somente foi possível por causa de doações privadas; escolas das redes pública e particular estão proibidas de funcionar pelo governo estadual
O governador de São Paúlo, João Doria, promete aulas online a partir de 21 de abril para alunos da rede estadual Foto: Sergio Andrade / Divulgação
O governador de São Paúlo, João Doria, promete aulas online a partir de 21 de abril para alunos da rede estadual Foto: Sergio Andrade / Divulgação

SÃO PAULO - Para entregar um aplicativo de aulas à distância daqui 15 dias aos alunos da rede pública durante a quarentena contra o novo coronavírus , o governo de São Paulo passou as duas últimas semanas buscando doações de tudo o que precisava para conectar cerca de 3,5 milhões de estudantes, a maior rede pública de ensino das Américas, a professores e conteúdos de aprendizagem. Nesta sexta-feira o governador João Doria nem esperou a  formalização de dos últimos contratos com parceiros envolvidos na operação e anunciou o ensino online.

Doria afirmou que nenhuma instituição de ensino no estado poderá retomar aulas presenciais até que o governo estadual decida suspenda a quarentena.

A Secretaria da Educação ainda corre para acertar os detalhes finais de como o aplicativo de aulas à distâncai vai funcionar. Do fornecimento de sinal de internet para alunos de baixa renda a servidores para armazenamento de dados, o governo vai colocar de pé a nova plataforma de ensino graças a ajuda financeira e técnica de operadoras de telecomunicação, desenvolvedores de software e gigantes da tecnologia. A promessa é que a partir do próximo da 21, quando termina o recesso escolar, estudantes já possam ter atividades e aulas de forma remota.

Eles estão em casa desde 23 de março, quando iniciou a quarentena contra o coronavírus no estado. Para não ter perda de dias letivos, as férias de julho foram antecipadas.

As escolas estão fechadas desde então por força da quarentena. Algumas estão sendo preparadas para abrigar famílias com dificuldades de cumprir o distanciamento social e equipes de policiais chamados para reforçar a segurança.

Nesta tarde, o secretário de Educação, Rossieli Soares, disse que ainda não se trabalha com prazo para a reabertura das mais de 4 mil unidades escolares em São Paulo.

- O coronavírus está nos forçando a olhar para alternativas e acelerar processos que a gente não estava programando para agora. Estamos dando alguns saltos de tecnologia e comunicação na educação. A maior parte (do investimento) neste momento é de contribuição de muita gente - disse o secretário estadual de Educação, Rossieli Soares, ao GLOBO, em entrevista ontem.

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Os desafios são enormes mesmo em se tratando do estado mais rico do país. Embora o uso do celular esteja amplamente difundido, não se pode dizer o mesmo do acesso ao sinal de internet. A secretaria anunciou nesta tarde que o governo vai pagar pelo acesso de estudantes e professores que estejam sem créditos no celular. Um contrato está sendo acertado com operadoras de telefonia para a oferta do sinal de internet.

ENSINO À DISTÂNCIA TINHA PROJETO PILOTO EM SP

Nem nos planos mais audaciosos da pasta a implantação do ensino à distância para toda a rede estava previsto para 2020. Isso nunca foi cogitado. O governo estadual trabalhava com a realização de um projeto piloto a partir do segundo semestre deste ano e voltado apenas para aulas complementares.

- O nosso planejamento era testar o aplicativo no segundo semestre e colocar em escala maior no início de 2021. Nunca foi uma política do governo substituir as aulas presenciais pelo ensino à distância. Por isso é que temos um desafio enorme - explicou Rossieli.

No aplicativo, a secretaria promete conteúdos ao vivo e gravados para reforço escolar, preparação para o Enem e atividades curriculares. Como controlar a participação do aluno nas aulas à distância ainda é um assunto sem resposta.

A deputada Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Estado de São Paulo, cobra participação da categoria nas discussões sobre o ensino à distância.

-Não somos contra o ensino à distância. Entendemos que é uma situação emergencial. Mas o governo tem que pensar também nos professores e dar estrutura para eles trabalharem nessa nova situação. Não fomos ouvidos até agora - disse.

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O aplicativo de ensino à distância também será usado para os alunos da prefeitura de São Paulo, cerca de 940 mil. A rede municipal retoma o calendário escolar no dia 13, também sem aulas presenciais. Uma cartilha será distribuída para orientar pais a como ajudar no engajamento das aulas remotas.

Os gargalos estão por todo lado. A impressão do material impresso pelo governo do estado será feita por uma empresa terceirizada porque a gráfica da Imprensa Oficial, que já imprime todo o material didático para o estado, não tem condições hoje de absorver essa nova demanda.

DESAFIO É SUPERAR AS DESIGUALDADES SOCIAIS

Secretário municipal da Educação em São Paulo, Bruno Caetano diz que a distribuição da cartilha envolve uma logística complexa.

-Para evitar aglomerações nas escolas estamos discutindo que talvez não seja viável os pais retirarem isso nas unidades. Estamos vendo a possibilidade de entregar o material impresso na casa de cada aluno - disse.

Rossieli admite que há preocupação com um prejuízo para a aprendizagem neste momento.

-O foco principal agora é a preservação da vida, mas estamos preocupados com a aprendizagem. Não estávamos preparados para essa situação na educação. Não sabemos o impacto disso a longo prazo na aprendizagem. Uma criança que estava começando a ser alfabetizada, se não tiver um apoio agora, volta para a estaca zero. Estamos vivendo uma mudança de cultura. É preciso engajar as famílias num momento em que pode faltar o básico dentro de casa. As desigualdades são muito grandes. Esse é o nosso grande desafio- afirmou o secretário.

Numa outra frente, estado e prefeitura vão disponibilizar uma verba mensal para famílias de alunos de baixa renda para reforçar a alimentação na ausência da merenda escolar. o município apresentou nesta semana o cartão tipo vale-alimentação que será entregue a 273 mil famílias. O governo estadual fará o mesmo por meio de um aplicativo. O processo e contratação está em andamento e a promessa é que o dinheiro _ R$ 55 _ esteja liberado ainda este mês.