Três senadores que haviam se comprometido em apoiar a abertura de uma CPI do MEC recuaram neste fim de semana. Oriovisto Guimarães (Podemos-PR), Styvenson Valentim (Podemos-RN) e Weverton Rocha (PDT-MA) disseram que não assinarão mais o pedido para abertura de uma Comissão de Inquérito para investigar possíveis irregularidades, como tráfico de influência, na atuação de pastores evangélicos junto ao Ministério da Educação. Com isso, o requerimento passa a ter apenas 24 signatários, faltando três para o número mínimo necessário.
A mudança representa uma vitória para o governo do presidente Jair Bolsonaro e, em especial, para o novo líder do governo no Senado, Carlos Viana (PL-MG), que estreou na função com a missão de desarticular a CPI. É também um revés para a oposição capitaneada pelo senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), autor do pedido e também coordenador da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) a presidente nas eleições deste ano.
De MDB e PSD, maiores bancadas do Senado, apenas quatro senadores são signatários da CPI. No MDB, Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA) e Simone Tebet - os dois primeiros são aliados de Lula e a última, pré-candidata ao Planalto. No PSD, apenas Omar Aziz (AM), que foi presidente da CPI da Covid e é também um aliado de Lula.
A CPI é vista como um fator de desgaste potencial para Bolsonaro que pode influenciar nos rumos da eleição presidencial. No ano passado, conforme avançaram as investigações da CPI da Covid, a desaprovação do governo Bolsonaro cresceu. Com o fim dos trabalhos, o presidente iniciou este ano uma leve recuperação, bem como cresceu nas pesquisas de intenção de voto, aproximando-se do candidato petista, que lidera as sondagens.
A questão eleitoral foi utilizada como justificativa por alguns dos senadores que desistiram de apoiar a CPI. “Continuo acreditando que existem fatos graves no MEC que precisam ser investigados. Porém, uma CPI tão próxima das eleições acabará em palanque eleitoral”, afirmou Oriovisto, alegando que eventuais ilícitos devem ser apurados pela Polícia Federal e pelo Ministério Público.
Styvenson foi em linha semelhante. “Assinei sem uma maior análise. Considerando o momento de eleição, onde a grande maioria só está preocupada com votos, retirei meu nome. A CPI pode sim ter um fundo de verdade, o caso precisa e deve ser apurado. O que não podemos permitir é que num ano de eleições ocorra um julgamento parcial, da esquerda contra a direita, como de fato estava se tornando a CPI, completamente voltada para captação de votos. Assino qualquer outra CPI, mas após as eleições”. Os dois senadores do Podemos se colocam como “independentes”, votando contra ou a favor do governo a depender da pauta.
Já Weverton, que faz oposição a Bolsonaro, disse apenas, através de sua assessoria, que a decisão teve “caráter individual”, não estando vinculada a qualquer ligação com o governo. Ele é pré-candidato ao governo do Maranhão nas eleições deste ano.
Nos bastidores, senadores têm alegado dificuldade em apoiar um CPI que mira lideranças evangélicas - algo especialmente sensível para aqueles com pretensões eleitorais em outubro.
Ao Valor, o líder do governo Carlos Viana disse que haverá mais uma retirada de assinatura, mas que havia feito um compromisso de não revelar o nome do senador (ou senadora) até a confirmação do próprio.