Brasil Educação

Governo adia para 2019 avaliação da alfabetização e amplia testes na educação básica

Novo modelo inclui Ciências Humanas e da Natureza e passa a avaliar o ensino infantil
Avaliação de Alfabetização só será feita em 2019 Foto: Analice Paron / Agência O Globo
Avaliação de Alfabetização só será feita em 2019 Foto: Analice Paron / Agência O Globo

BRASÍLIA e RIO - O governo decidiu adiar a aplicação da Avaliação Nacional de Alfabetização , que seria neste ano, para 2019. A mudança foi justificada pela necessidade de construir um novo exame a partir da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), que antecipou do 3° para o 2° ano do ensino fundamental a avaliação em alfabetização no Brasil. O anúncio foi feito pelo ministro da Educação, Rossieli Soares, nesta quinta-feira.

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Ele apresentou mudanças no Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb), voltado às escolas públicas do país, que agora incluirá a área de Ciências da Natureza e de Ciências Humanas nos testes aplicados aos alunos do 9° ano do ensino fundamental. A avaliação no 2° e no 5° ano do fundamental e no 3º ano do ensino médio — demais etapas que compõem o Saeb — continuará abrangendo apenas os conteúdos de Língua Portuguesa e Matemática.

O novo Saeb vai incorporar a avaliação da educação infantil (creche e pré-escola). No entanto, para essas etapas, não haverá aplicação de testes para os alunos, mas sim de questionários aos profissionais da rede. Segundo Rossieli, os dados levantados pelo Saeb completarão o diagnóstico da educação infantil brasileira já possível com base nas informações do Censo Escolar.

— O Brasil cresceu muito em atendimento desse ciclo infantil, mas desconhecemos com profundidade as condições e qualidade dessa oferta — disse o ministro.

ADIAMENTO NÃO PREJUDICARÁ POLÍTICAS EM CURSO, DIZ MINISTRO

Rossieli negou que o adiamento da avaliação de alfabetização para o ano que vem prejudicará as políticas em curso. Ele destacou que a série histórica do teste, iniciado em 2013, é curta e pouco consistente e argumentou que um novo formato precisa ser desenhado após a aprovação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) do ensino fundamental. Para o ensino médio, cuja Base ainda está em discussão, não há mudanças no modelo de provas.

Presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), Maria Inês Fini também justificou que é preciso haver uma adequação das escolas para fazer a prova de alfabetização, uma vez que agora terão os alunos do 2°, e não mais 3° ano do fundamental, avaliados.

— Queremos dar aos sistemas que oferecem essa etapa de educação tempo para se adequar — afirmou Fini.

Para o presidente da União Nacional dos Dirigentes Municipais de Educação (Undime), Alessio Costa Lima, a quebra da série histórica era inevitável a partir do momento que o MEC decidiu antecipar a avaliação para o 2º ano e avaliou como positivas as mudanças no Saeb.

— Na série anterior a avaliação era aplicada no 3º ano, aplicá-la no 2º ano já não permitiria uma comparação histórica, porque estaríamos analisando alunos de anos diferentes, os dados não seriam comparáveis. É prudente adiar para que os municípios possam se adaptar não só aos novos currículos, mas a essa nova matriz de avaliação voltada para o 2º ano —  analisou.

Lima destaca ainda que  é importante que o MEC incentive a criação de avaliações feitas pelas secretarias:

— A gente recomenda que sejam intensificadas ações que estimulem e ajudem as redes a fazerem seus próprios diagnósticos. O ciclo de alfabetização passa ser muito curto (até o 2º ano) e temos que ter nesse intervalo algo que subsidie as redes a avaliarem os alunos.

Apesar da inclusão de Ciências da Natureza e Ciências Humanas nos testes do 9° ano, essas áreas não serão consideradas para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que usa dados de fluxo escolar e da performance em Português e Matemática dos alunos, até 2021. A ideia do governo é que, após esse período, tais conteúdos passem a ser usados no indicador, mas estudos nesse sentido ainda serão desenvolvidos.

O governo também estuda estender, para além do 9° ano do fundamental, a avaliação de Ciências da Natureza e Ciências Humanas. Mas não há prazo para isso. De acordo com Rossieli, as avaliações oficiais não podem continuar se restringindo a Português e Matemática, embora das duas áreas sejam pilares do conhecimento.

— É importante que o Brasil faça avaliação da área de Ciências, lembrando que o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) já faz — disse Rossieli.

Segundo Alessio Costa Lima, a inclusão dessas disciplinas foi positiva. Ele alerta, no entanto, para o aumento dos gastos.

— A inclusão dessas disciplinas era uma reivindicação antiga dos professores. Embora saibamos que português e matemática são disciplinas amplas para formação, estávamos esquecendo a outra parte. Por outro lado, a avaliação de larga escala tinha um custo, agora significa duplicar esse custo — argumentou.

O novo modelo do Saeb unificou o calendário das diversas avaliações hoje existentes, que passam a ser aplicadas nos anos ímpares e terem resultados e indicadores divulgados nos anos pares, e acabou com o nome fantasia dos diversos exames (como Prova Brasil, Avaliação Nacional de Alfabetização, Avaliação Nacional do Rendimento Escolar). Eles serão referenciados apenas como Saeb, acompanhados das etapas, áreas de conhecimento ou tipo de instrumento avaliativo envolvido.

APLICAÇÃO ELETRÔNICA NO ANO QUE VEM

O governo quer aplicar, em forma de projeto piloto, testes do Saeb por meio eletrônico já no ano que vem. A ideia é que alguns alunos façam a prova das duas formas: no papel e digital. Segundo Rossieli, a experiência será importante para, no futuro, o meio eletrônico ser adotado. Ele não soube informar qual será a proporção de exames virtuais.

As avaliações do Saeb não são obrigatórias para as escolas particulares, mas o governo quer contar com a participação cada vez maior dessas instituições. Especialmente, de acordo com Rossieli, no ciclo infantil de ensino, em que a iniciativa privada tem grande participação.