Goiás foi a quinta unidade da federação que mais reduziu a disparidade entre negros e brancos no ensino superior nos últimos anos e, hoje, ocupa a posição de quarto estado com o menor desequilíbrio racial do país, segundo o Ifer (Índice Folha de Equilíbrio Racial).
É difícil isolar as causas para os diferentes níveis de exclusão que pretos e pardos enfrentam nas distintas áreas do Brasil. Mas a análise de políticas públicas estaduais oferece pistas de hipóteses.
No caso do estado do Centro Oeste, há o pioneirismo em ações afirmativas específicas, como o programa UFGInclui, da Universidade Federal de Goiás, que desde 2008 beneficia jovens e adultos como a quilombola kalunga Hellen Oliveira, 32.
“A gente não tem um hospital, um posto de saúde. O que eu quero é trabalhar dentro da minha comunidade”, conta a aluna de medicina na UFG.
O programa abre uma vaga extra para indígenas e quilombolas em cursos com demanda. A entrada se dá pela pontuação do Enem, e os vestibulandos competem apenas com outros indígenas e quilombolas.
A universidade também tem cotas gerais para negros na graduação e na pós.
Embora a reserva de vagas na graduação em instituições federais seja obrigatória, a decisão de estender a iniciativa para a pós depende de cada universidade –e, segundo especialistas, faz diferença.
Jefferson de Freitas observa que 3,4% das vagas de cotistas em Goiás são destinadas a quilombolas, fatia muito superior à média do Brasil, de 0,5%, e atrás apenas da parcela de 4,5% do Tocantins.
Quilombolas não são recenseados no Brasil, o que dificulta uma avaliação precisa sobre o desempenho de cada estado em inclui-los.
Há, no entanto, disparates notórios: o Sudeste, com 375 comunidades quilombolas segundo a Conaq (Coordenação Nacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), não reserva vagas ao grupo.
“É uma política escassa e concentrada em poucos estados”, diz o pesquisador do Gemaa (Grupo de Estudos Multidisciplinar de Ação Afirmativa) da UERJ.
Restam programas como o ProUni, que desde 2004 concede bolsas em universidades particulares e possibilitou que João Pedro Fernandes, 26, se formasse engenheiro civil pela Universidade Católica de Brasília.
Quando conversou com a reportagem da Folha, em 8 de junho, ele participava de uma reunião com lideranças kalunga e o Instituto Perene sobre a construção de fornos a lenha sustentáveis, por cujo projeto ele será responsável.
Antes, atuou na construção das cisternas que levaram água encanada para parte da população do território kalunga de Monte Alegre de Goiás.
A maioria dos quilombolas diplomados volta à comunidade, com saldo positivo.
“É importante você ter pessoas capazes de dialogar com esses jovens”, diz Rodrigo Coelho, diretor das escolas kalunga de Monte Alegre. “Muitas vezes o professor de fora não entende nem as expressões que os alunos usam."
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