Por Letícia Carvalho e Beatriz Pataro, G1 DF


Paredes do CED 1, na Estrutural, foram pintadas de branco no 1º dia de educação militar na escola — Foto: Marília Marques/G1

Com menos de três meses à frente da Secretaria de Educação do Distrito Federal, o doutor em educação pela Universidade de Nova York Rafael Parente ganhou as páginas dos jornais e virou assunto das conversas dos brasilienses com o projeto de gestão militarizada das escolas da capital.

No início do ano letivo, quatro escolas públicas – localizadas na Estrutural, Ceilândia, Recanto das Emas e Sobradinho – deram as boas-vindas aos alunos já com um modelo de gestão compartilhada. A Secretaria de Educação ficou responsável pela parte pedagógica, enquanto a administração e a disciplina dos alunos passaram para as mãos da Polícia Militar e dos bombeiros.

A iniciativa faz parte de um programa piloto, que ainda depende da apreciação da Câmara Legislativa. A ideia é expandir a proposta para até 40 escolas públicas do DF neste ano.

Na próxima segunda-feira (11), quando o projeto completará um mês, a Educação planejava implementar o modelo em outros 16 colégios. A pasta, no entanto, decidiu adiar a ampliação.

Em entrevista ao G1, o secretário falou sobre as dificuldades encontradas pelo governo para expandir o programa e outras propostas previstas para sua gestão, como o “Escolas Prioritárias” – que deverá alterar a metodologia de ensino de 175 instituições que apresentam problemas graves de estrutura, falta de pessoal e os mais baixos índices de aprendizagem do DF (leia abaixo).

Secretario de Educação Rafael Parente fala sobre 'militarização' nas escolas públicas do DF — Foto: TV Globo

G1: O governo havia informado a abertura de 16 escolas de gestão compartilhada com a PM e os bombeiros nesta segunda-feira (11). A data, no entanto, não será mais essa. Há um novo prazo?

Rafael Parente: A gente não vai conseguir cumprir essa data. Ainda não temos um prazo para informar. Estamos criando um plano para ser apresentado e validado pelo governador.

Esse plano prevê um cronograma de expansão. As secretarias de Segurança e Educação estão em reunião para apresentar quais escolas deverão receber o modelo.

Mas é bom que a sociedade compreenda que existe uma vontade do governo de expandir aquilo que ela aprova e quer. E que a gente vai fazer essa expansão o mais rapidamente possível.

G1: Quais foram as dificuldades encontradas para colocar em vigor a medida nesta segunda?

RP: A gente esbarra em algumas situações. Por exemplo, cada escola recebe cerca de 20 profissionais da PM ou dos bombeiros. A gente não sabe se essas corporações têm esse efetivo.

Entenda: Na sexta-feira (8), o governador Ibaneis Rocha (MDB) buscou ajuda do ministro da Educação, Ricardo Vélez Rodríguez, para ampliar o modelo. Ele pediu ajuda de R$ 10 milhões para a instalação do projeto em 36 instituições.

Ibaneis também pediu apoio para mudar a legislação dos militares da reserva, tanto da Polícia Militar quanto do Corpo de Bombeiros. Isso porque, hoje, integrantes da ativa das duas corporações atuam na gestão compartilhada das escolas, e o governo não quer retirar mais efetivo das ruas.

No entanto, oficiais da reserva não podem trabalhar diretamente nos colégios, segundo as normas atuais. Por esse motivo, o chefe do Executivo disse que planeja enviar ao Congresso Nacional uma proposta de alteração da lei.

G1: O que o GDF vai oferecer ao MEC como contrapartida?

RP: O MEC e o FNDE vão nos apoiar na expansão dessas escolas com recursos e nós vamos oferecer ao MEC e a outros estados a metodologia.

Escolas do DF adotam modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar

Escolas do DF adotam modelo de gestão compartilhada com a Polícia Militar

G1: Quantas escolas deverão receber a gestão compartilhada?

RP: Neste semestre, serão 16 novas escolas e outras 20 no semestre que vem. Vamos fechar o número de 40 em 2019. O governador chegou a falar em 200 escolas ao longo dos quatro anos de governo. Mas é aquilo que eu disse: esbarramos em algumas situações.

G1: O governo já tem o nome de algumas escolas que vão receber o modelo?

RP: A gente tem, na verdade, duas listas – uma da Secretaria de Educação e outra da Secretaria de Segurança.

A lista da Educação tem o nome de 175 instituições com o pior desempenho de aprendizagem. A da Segurança apresenta as escolas com os maiores índices de violência.

Vamos cruzar essas duas listas e oferecer aos gestores para saber se existe a vontade da comunidade de adotar a gestão compartilhada.

G1: A pasta já sabe quais regiões do DF terão colégios com a gestão compartilhada?

RP: Existe uma possibilidade do Centro de Ensino Fundamental Zilda Arns, no Itapoã, receber. [No mês passado, alunos dessa escola fizeram uma manifestação para pedir mais policiamento em frente ao local].

Tem escolas de outras regiões, em áreas de maior vulnerabilidade, que também têm se colocado com vontade de participar do projeto, como São Sebastião, Santa Maria, Planaltina e Samambaia.

G1: A secretaria já tem um balanço dessa experiência de um mês da gestão compartilhada?

RP: A gente tem as falas das pessoas que estão lá na ponta. Estamos conversando com diretores e familiares. Eles se dizem satisfeitos.

CED 7 de Ceilândia iniciou o ano letivo com a gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Quem não está muito satisfeito são as meninas que sentem falta do batom, do corte de cabelo diferente. [O projeto determina o uso de coque por parte das estudantes. Pulseiras e acessórios chamativos estão proibidos].

Professores estão sentindo mais organização no ambiente de trabalho. Uma escola mais serena e organizada. No entanto, ainda não temos uma avaliação da parte pedagógica.

G1: O governo anunciou nesta semana o "Escolas Prioritárias". O que consiste esse projeto?

RP: São as escolas que têm o maior número de problemas na rede. Faremos uma ação afirmativa para quem precisa, isso porque algumas das nossas escolas já são excelentes.

Olhando para infraestrutura, condições de trabalho, resultados, provas, repetência, evasão, nós elencamos 175 escolas prioritárias para as quais nós vamos oferecer também uma série de ações de apoio e, assim, elas poderão oferecer educação de excelência.

Alunos do CED 7 de Ceilândia hastearam a bandeira no primeiro dia de gestão compartilhada com a PM — Foto: Victor Gomes / G1DF

Existem escolas que reprovam mais de 80% dos alunos no terceiro ano do ensino médio. Com isso, a gente está reprovando o professor, as escolas e a secretaria de Educação.

Vai ter um investimento de mais de 100 milhões durante o primeiro ano, que vai ser feito em melhorias de infraestrutura tecnológica – colocando projetores, computadores, caixas de som em todas as salas de aulas, tablets para todos os professores e alunos.

Vamos mudar a metodologia também. Teremos uma plataforma digital. Novos livros serão entregues para todas as escolas.

Entidades privadas também vão nos oferecer curso de formação e até linguagem de computador para crianças a partir dos sete anos de idade. Na próxima semana, vamos conversar com os diretores das escolas e depois já começarmos com as ações.

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