RIO - Alunos que fizeram a versão impressa do Enem levaram vantagem em relação aos competidores que fizeram o exame digital e a reaplicação, reclamam os candidatos. Por causa da forma como a prova é corrigida, a nota de quem acertou todas as questões de Matemática, por exemplo, na primeira aplicação chegou a ser 50 pontos mais alta de quem fez a segunda e 30 acima de quem fez o exame digital.
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Apesar das provas diferentes, os estudantes competem pelas mesmas vagas. E uma diferença de até 50 pontos faz diferença na classificação do Sistema de Seleção Unificado (Sisu), a oferta de cursos nas universidades públicas.
—Para cursos mais concorridos, até 0.1 ponto pode fazer a diferença entre quem é aprovado e quem é reprovado — diz Umberto Mannarino, do curso Mestres do Enem.
Amanhã, os deputados federais Felipe Rigoni (PSB-ES) e Tabata Amaral (PDT-SP) vão protocolar um Requerimento de Informações pedindo explicações ao MEC sobre as diferenças das notas nas versões do Enem.
O Enem 2020, que só foi realizado em janeiro de 2021, foi o primeiro a ter a versão digital, que teve 93 mil inscritos. No entanto, menos de 30 mil compareceram à prova. A versão impressa teve 2,8 milhões de candidatos e a reaplicação, destinada especialmente aos que não puderam fazer a primeira prova por causa da Covid, contou com 31 mil alunos.
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A programação do MEC prevê que o número de vagas na versão digital do Enem cresça progressivamente até que, em 2026, não exista mais a versão impressa. Até lá, os candidatos serão divididos entre as duas versões da prova. Procurados, o ministério e o Inep não responderam se a diferença de notas será resolvida para os próximos anos.
Renato Annes, de 34 anos, conta que estava matriculado para a prova digital. Mas, no dia da prova, pode realizá-la:
— Já dentro da sala esperando o início do exame recebi a notícia que não seriam aplicadas por falha técnica. Nos pediram para retornar no outro domingo para fazer as provas do segundo dia e que as do primeiro dia seriam remarcadas.
Ele fez o segundo dia da versão digital e gabaritou a prova de Matemática. No entanto, foi avisado que teria que fazer os dois dias da reaplicação. Ou seja, Renato teria que repetir a prova que já tinha gabaritado. E ele conseguiu, novamente, acertar todas as 45 questões.
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— Quando consegui visualizar a nota, era 921,7. 53,3 pontos abaixo da máxima na prova impressa — conta.
Ele entrou com um recurso junto ao Inep e conseguiu ficar com a nota máxima da prova impressa em Matemática.
Agora, quer pedir na Justiça acesso aos critérios de correção das provas objetivas do Enem, de forma que seja possível a qualquer candidato calcular sua própria nota.
TRI explica diferença
A diferença de uma prova para outra ocorre por conta da forma como ela é corrigida. Ainda que dois estudantes somem a mesma quantidade de respostas certas na mesma versão do Enem, a nota deles pode ser completamente diferente. Isso porque é usado um sistema chamado Teoria de Resposta ao Item (TRI).
Ao contrário da correção tradicional, que vai de 0 a 10 e dá um ponto cheio a cada acerto, o TRI trabalha com pesos diferentes entre questões, média nacional e com o comportamento das respostas do candidato. Todas as questões são testadas previamente e ganham pesos de acordo com sua dificuldade. Por isso, provas com níveis diferentes vão gerar notas máximas diferentes aos que gabaritaram no exame.
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— O Inep aplica as questões do Enem a uma amostra de alunos e depois analisa os resultados para determinar o parâmetro delas — explica Vinícius Freaza, sócio-diretor da Evolucional, startup especializada no Enem. — É preciso que educadores e estudantes entendam que está é uma característica que faz parte do jogo quando se trabalha com a TRI.
Segundo Freaza, é impossível o candidato saber antecipadamente qual será a versão da prova (digital ou impressa) de maior nota máxima possível em determinada área.
— Apesar das duas notas serem comparáveis e estarem em uma mesma escala, podem existir diferenças na medição em avaliações com um número finito de questões, como é o caso das provas do Enem que contam com 45 itens. Provas diferentes sempre terão máximos e mínimos diferentes — afirma.
Já na avaliação de Mannarino, a falha, que precisa ser corrigida para o Enem 2021, foi ter provas com dificuldades dispares, o que refletiu nos resultados dos exames.
— Isso levaria a notas menos discrepantes — diz.