Por Samuel Pinusa, g1 CE


Fortaleza é referência em políticas públicas para Juventude. — Foto: Ismael Soares/SVM

Tem 16 anos. É jovem ainda. A consolidação da política pública de juventude em Fortaleza se mistura com aqueles a quem ela se dedica. Da criação da Coordenadoria Municipal à atual Secretaria da Juventude, a cidade hoje lidera entre as capitais, com o maior investimento a este público — são previstos R$ 58 milhões para a pasta em 2024. Mas como Fortaleza chegou a este patamar?

Em 2003, foi criado o Dia Municipal da Juventude, comemorado em 12 de agosto. Contudo, 2007 é considerado como um dos principais marcos, em âmbito municipal, quando a Lei Complementar nº 0047/2007, de 5 de dezembro, criou a Coordenadoria Especial de Políticas Públicas de Juventude, unidade então vinculada ao Gabinete do Prefeito.

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Desde então, a atenção governamental voltada ao público jovem expandiu e atingiu novos marcos e espaços da cidade; inclusive, com a criação da Secretaria da Juventude, em 2021, que substituiu a antiga Coordenadoria.

“Assim como Saúde, Educação, Urbanismo e Meio Ambiente, [a Juventude] é prioritária da gestão. Deixa de ser coordenadoria, e passar a ser secretaria; com estrutura própria, organograma próprio, orçamento próprio, etc. Sai do gabinete do prefeito e vira uma política, de fato, consolidada”, explicou o secretário de Juventude, Davi Gomes.

Entre 2022 e 2023, o orçamento dedicado à Juventude aumentou cerca de R$ 6 milhões. O crescimento é visto em ações que vão desde o incentivo a projetos quanto a ampliação da Rede Cuca, que atualmente conta com cinco unidades (a última inaugurada ano passado, no Bairro Pici).

“O nosso orçamento é o maior per capta, especificamente, para a Juventude no Brasil. Em níveis comparativos, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro, tem orçamento específico de juventude R$ 20 milhões”, comparou o secretário.

“Hoje nós temos 14 equipamentos de juventude. Nós vamos chegar, até o final do ano, às 12 regionais da cidade. Nenhuma outra cidade tem essa quantidade de equipamentos específica para a juventude”, complementou Gomes.

Mapa dos equipamentos culturais da Juventude em Fortaleza. — Foto: Louise Anne/SVM

O secretário comentou que os 14 equipamentos da Juventude em Fortaleza são mantidos com verbas da própria secretaria; cenário que não se repete em outras cidades que não possuem uma Pasta específica dessa natureza, onde os recursos, normalmente, saem de outros órgãos dos governos.

“A nível Brasil, somente a gente e Campo Grande (MS) é que tem secretarias independentes, específicas, de juventude. Por exemplo, em outras cidades que tem políticas públicas de juventude, como o Rio de Janeiro, Recife, são coordenadorias especiais”, destacou Gomes.

Oportunidade de voz

De aluna a funcionária, Nadla Gois já passou por três unidades da Rede Cuca, em Fortaleza.

De aluna a funcionária, Nadla Gois já passou por três unidades da Rede Cuca, em Fortaleza.

Em setembro de 2009, o encontro do Rio Ceará com o mar ganhou um vizinho importante. Foi inaugurado o Cuca Barra — até então, chamado de Cuca Che Guevara —, que posteriormente viraria parte da Rede Cuca, com a abertura das unidades dos bairros Mondubim e Jangurussu, cinco anos mais tarde.

A inauguração do centro cultural na periferia de Fortaleza já demonstrou o potencial da capital em ser referência para as políticas públicas de juventude. O Cuca Barra foi a primeira unidade do Mais Cultura, um projeto do Ministério da Cultura, à época, que visava modificar a realidade de regiões de vulnerabilidade social e sem equipamentos culturais.

Alguns anos após a inauguração, o Cuca Barra deu oportunidade de voz para uma jovem moradora do Bairro Canindezinho, distante cerca de 15 km do centro cultural. A então estudante do primeiro semestre de jornalismo, Nadla Gois, decidiu se inscrever nos projetos de comunicação da unidade, como Repórter Cuca e Rádio Cuca.

“A Rede Cuca, para mim, foi uma janela de oportunidades, onde eu pude me encontrar na minha carreira e seguir adiante. Então, eu comecei como jovem, tive oportunidades e, hoje, estou no corpo de colaboradores do equipamento”, declarou.

Imagem Reprodução Imagem Thiago Gadelha/SVM
Em uma década, Nadla Gois passou de aluna para funcionária da Rede Cuca, em Fortaleza. — Foto 1: Reprodução — Foto 2: Thiago Gadelha/SVM

A distância entre a própria casa e o equipamento nunca foi impeditivo para a participação dela nos projetos. “Tinha muito do elo que eu criei com o profissional que me acompanhava, com a turma. Eu não vi problema algum em sair da região do Siqueira e ir até a Barra do Ceará. Eu me inspirava nas histórias durante o trajeto do ônibus”, comentou Nadla.

Durante dez anos de contato com a Rede Cuca, Nadla já passou por três unidades e mais de uma função. Iniciou como aluna, e atualmente é supervisora de Educomunicação do Cuca Mondubim. O aprendizado com os projetos é o que ela tenta transmitir agora “do outro lado do balcão”.

Nadla trabalha como supervisora de Educomunicação no Cuca Mondubim. — Foto: Thiago Gadelha/SVM

“Tudo que eu aprendi na Rede Cuca, hoje, eu devolvo para os jovens. Ajudando eles a aprender tudo que aprendi aqui”, disse Nadla.

“A Rede Cuca está em locais de vulnerabilidade social. Então, oportuniza esses jovens que estão na periferia sem muitas oportunidades, se tivessem de ir para o Meireles, Aldeota, onde os cursos são caros. Então, eles têm as mesmas oportunidades de cursos, só que de forma gratuita”, complementou.

Por que investir em juventude?

Davi Gomes assumiu como secretário da Juventude de Fortaleza em 2021. — Foto: Prefeitura de Fortaleza/Reprodução.

O secretário municipal Davi Gomes explicou que a atenção à juventude é uma determinação da gestão, que vem passando de outras gestões, baseado em dados. “Essa faixa etária, de 15 a 29 anos, é exatamente a fase onde estão aumentando os índices de violência, de criminalidade, de abandono escolar e diminuindo os índices de desenvolvimento humano”, comentou.

“A importância de investir nessas políticas é que a gente não está apenas investindo no cidadão do futuro, mas no cidadão do presente”, disse o secretário.

Uma pesquisa feita em uma região da periferia de Fortaleza mostrou que oito a cada dez jovens, entre 14 e 24 anos, consideram o bairro como inseguro ou totalmente inseguro (78,67%), semelhante aos dados sobre a insegurança no percurso para a escola (68,61%) e na rua (63,17%). Os dados foram retirados de questionários aplicados a estudantes de 12 escolas de ensino médio.

Parque Rachel de Queiroz, em Fortaleza, atrai jovens ao local após requalificação em 2022. — Foto: Ismael Soares/SVM

"Tenho certeza que se algum prefeito no futuro for acabar com a política de juventude, a gente vai aumentar a criminalidade, a quantidade de moradores de rua, de jovens que não têm qualificações, o desemprego vai aumentar".

"Essa faixa etária precisa ser investida, porque é quando a pessoa se desenvolve; o momento onde ‘vai ou não dar certo’. É quando vai entrar ou não universidade, que vai começar a trabalhar. E é um momento onde estão mais vulneráveis para o bom e para o ruim", destacou o secretário.

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