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Mais de 40% dos professores que davam aula nos anos finais do ensino fundamental em 2022 e quase um terço dos que lecionavam no ensino médio não tinham formação adequada à disciplina que ministravam, constatou um estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) publicado no Caderno de Estudos e Pesquisas em Políticas Educacionais. Sul e Sudeste são as regiões em que mais professores tinham a qualificação necessária (cerca de 70%). Ainda assim, quase um terço padecia de formação deficiente.

O estudo dos pesquisadores Alvana Maria Bof, Luiz Zalaf Caseiro e Fabiano Cavalcanti Mundim ajuda a entender por que os estudantes brasileiros continuam mal avaliados em testes internacionais como o Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes). Parece evidente que uma das causas da má qualidade do ensino que aflige as escolas públicas é a formação insatisfatória dos professores.

Nem São Paulo, estado mais rico da Federação, escapa das deficiências. Em 2022, 63,3% dos professores de física das escolas paulistas não tinham licenciatura nem formação acadêmica na disciplina. Pernambuco, Tocantins, Bahia, Goiás, Acre e Santa Catarina também ultrapassavam os 50% na proporção de docentes sem formação. O estágio de desenvolvimento da região não guarda relação com a qualificação dos professores no ensino público. Ela depende de políticas definidas pelo governo local.

A diferença de qualidade entre ensino urbano e rural é outro problema. Enquanto apenas 30% dos professores das escolas rurais têm licenciatura e formação acadêmica compatível com o que ensinam nos anos finais do ensino fundamental e 52% no ensino médio, nas áreas urbanas os índices se aproximam de 70%.

Há também descompasso entre a procura por professores e a oferta dos cursos de licenciatura. Em 2022, os graduados com licenciatura em matemática correspondiam a apenas metade da demanda por professores em sete estados: Pará, Amapá, Maranhão, Sergipe, Rio Grande do Norte, Rio de Janeiro e São Paulo. Para piorar a situação, apenas um terço dos que fazem licenciatura vai dar aula no ensino básico. Numa sondagem com 1.500 estudantes feita pela Fundação Victor Civita e pela Fundação Carlos Chagas, citada no estudo, apenas 2% escolheram como primeira opção pedagogia ou licenciatura com a intenção de ser professores.

Para reverter o esvaziamento da carreira de professor, os governos precisam encontrar meios concretos de valorizar a profissão. Não se trata de questão salarial, mas de uma perspectiva de carreira que reconheça os melhores profissionais com base nos resultados obtidos no ensino — e não na preservação e ampliação de benesses, pautas corporativas defendidas com frequência pelos sindicatos.

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