Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Formação de professores: catalisador chave para a educação inclusiva
Na última terça-feira (21), foi celebrado o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. Em termos históricos, uma das conquistas recentes que merecem ser ressaltadas é o direito de uma pessoa com deficiência estudar em escolas comuns, juntamente com todos os estudantes. No entanto, conforme lembrado pelo meu grande amigo e mentor Fernando Reimers, "leis não se autoimplementam; pessoas as implementam. E, na maioria das vezes, as pessoas fazem o que sabem e o que querem fazer. Professores, diretores de escola e pais precisam aprender, aprender profundamente, como apoiar as instituições de ensino para que se tornem inclusivas de fato".
Diversos estudos apontam que a busca por conhecimento sobre como promover a aprendizagem de todo aluno nunca foi tão grande, tendo em vista a maior diversidade de perfis que hoje participam da sala de aula. Em 2018, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ou Económico (OCDE) conduziu uma pesquisa, envolvendo 50 países, sobre quais são as necessidades prioritárias dos professores em relação ao seu desenvolvimento profissional. Aprofundar o repertório sobre como atender com qualidade os estudantes com deficiência apareceu como uma das demandas mais importantes. No Brasil, 3 em cada 5 professores responderam que carecem de conhecimento sobre como educar esse segmento de alunos.
Visando atender a esse cenário, o Instituto Rodrigo Mendes acaba de lançar uma nova plataforma digital de formação sobre educação inclusiva. Esse ambiente virtual de aprendizagem já nasce com dois cursos online. O primeiro aborda o tema do planejamento pedagógico, na perspectiva inclusiva e o segundo explora o universo da educação física, ressignificada para permitir a participação de toda criança e adolescente. Esse conjunto de iniciativas conta com o apoio do UNICEF, da Fundação Barça, da Fundação Lemann, do Itaú Social, da ABADHS, da Fundação Grupo Volkswagen e da UNDIME. Os cursos são gratuitos e totalmente autoinstrucionais, permitindo que o usuário crie sua própria rotina de dedicação, conforme a disponibilidade de tempo.
Muitas pessoas me perguntam se já temos condições de promover a inclusão escolar. Me lembro sempre da conversa que tive com o parceiro David Rodrigues, autoridade internacional em Educação Especial, quando o conheci. David contou a história da mãe de uma criança com Síndrome de Down que, ao se aproximar da escola do bairro para matricular seu filho, ouviu: "A senhora não me leve a mal, mas não estamos ainda preparados para receber seu filho. Estaremos no futuro". No ano seguinte, a mãe volta na mesma escola e a resposta é "ainda não estamos preparados". Trata-se da ilusão do preparo, ou seja, primeiro a escola se capacita e depois recebe crianças e adolescentes com deficiência. Esse é um pensamento cartesiano que aparenta fazer sentido, mas que tem gerado grandes prejuízos à necessidade de tornarmos as escolas espaços para todos, de fato.
Não há dúvidas de que formação continuada e a ampliação do conhecimento são indispensáveis para que a escola cumpra com essa tarefa. No entanto, ambos dependem necessariamente de um elemento chave chamado relação. Relação entre educador e educando, professor e aluno. Sem esse catalisador, a formação torna-se curta, restrita, ineficiente. Nossa missão é mudar a filosofia de navegação com o nosso navio no mar, em pleno ritmo de cruzeiro. Aquilo que John Dewey dizia sobre os estudantes, vale também para os educadores:
"Dê aos alunos algo para fazer, não algo para aprender; e o ato de fazer é como o incentivo por pensar; a aprendizagem resulta naturalmente".
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