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Por Editorial

A formação deficiente é a principal causa da escassez de mão de obra nos setores ligados à tecnologia digital. O país enfrenta agora outro gargalo: falta de profissionais para postos de menor qualificação. Há carência nas duas pontas do mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, não param de chegar currículos às empresas. Toda oferta de vaga atrai longas filas de desempregados, jovens na maioria.

A plataforma de recrutamento Gupy, que usa sistemas automáticos para associar a oferta à demanda de mão de obra, recebe 10 milhões de pedidos de emprego por mês. Só consegue pôr no mercado 70 mil, e 10 mil vagas ficam abertas por falta de qualificação do desempregado. Como falta mão de obra, as empresas do comércio varejista acabam contratando não em função da formação. Dão prioridade à “competência comportamental” do candidato, para depois treiná-lo.

Embora o desemprego tenha atingido 8,3%, menor taxa desde 2015, a situação entre os jovens é muito pior. Na faixa entre 18 e 24 anos, chegou a 18%, quase o dobro da média nacional. Entre os que tinham ensino médio incompleto, a taxa era de 15,3%. O grupo entre 18 e 24 anos reúne 20 milhões de brasileiros. Desses, 6 milhões não concluíram o ensino médio, e 4 milhões completaram o curso, mas não encontram emprego. Não estudam nem trabalham, integram a geração apelidada “nem, nem”.

O país já passou do “bônus demográfico” — fase em que a população de jovens crescia mais que a de idosos — para o que estudiosos têm chamado de “ônus demográfico” — fase em que ocorre o contrário. A tendência é haver cada vez menos jovens, condição que aumenta a importância da qualificação de cada um para adaptar-se a um ambiente de trabalho cada vez mais exigente.

Essa grave questão não é desconhecida. Desde o governo Fernando Henrique Cardoso — com exceção da gestão Jair Bolsonaro, que lançou trevas sobre a Educação —, várias ações foram postas em marcha para aproximar o ensino público básico do mundo do trabalho e das exigências do ensino superior: criação de indicadores para acompanhar a qualidade do ensino, criação de currículo único nacional, reforma do ensino médio e outras políticas interconectadas. A reforma do ensino médio articulada com o currículo único permite escolher três roteiros de estudos: ciências exatas (matemática e suas tecnologias); ciências da natureza e sociais; ou uma formação técnica e profissional.

Há enorme preconceito contra os cursos profissionalizantes, muitas vezes considerados um ensino de menor qualidade para pobres. Nada mais equivocado. O Brasil precisa entender a real importância do “ensino profissionalizante”. Enquanto nos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) 38% dos alunos estão matriculados nesses cursos, no Brasil são apenas 9%. É evidente que, se a realidade do ensino técnico fosse outra, o desemprego entre os jovens seria bem menor.

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