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Professor

Formação continuada: na escola e para a escola

por Ricardo Falzetta

MEC

Para dar prosseguimento às postagens especiais do mês do professor, o blog hoje enfoca a temática da formação continuada, prática que envolve um grande número de profissionais e instâncias de poder e, por isso, exige esforço e colaboração para dar certo.

Um ou dois encontros sobre as atividades da escola, palestras motivacionais, um curso aqui outro acolá… Não, isso não é formação continuada. Esse tipo de reunião ou evento tem seu valor, mas está distante de provocar os necessários ajustes nos rumos pedagógicos e o aperfeiçoamento da prática docente. Hoje, a formação continuada precisa assumir duas funções. A primeira é a complementação pedagógica para compensar a precariedade da formação inicial. A segunda, que deveria ser a única, caso a formação inicial fosse melhor, é promover a atualização dos 2,2 milhões de professores brasileiros. As pesquisas em didática avançam e trazem novos conhecimentos sobre o que e como ensinar. Conhecimentos surgem a cada dia. As tecnologias avançam. A sociedade evolui. Toda essa transformação precisa chegar à escola via formação continuada. No centro desse processo, está (ou deveria estar) a figura do coordenador pedagógico. E, para exercer bem sua função, ele precisa de total apoio da direção e da equipe técnica da rede. Esse desenho de gestão não pode se dar ao acaso, em uma ou outra escola, por iniciativas pontuais. O ideal é que a engrenagem gire como política pública de toda a rede.

O avanço da tecnologia, que tem alterado as noções de tempo e espaço do mundo, é um exemplo pertinente de como os novos conhecimentos precisam ser bem trabalhados no ambiente escolar. Como os professores lidam com as novíssimas tecnologias, já que quando estavam na universidade tais aspectos não eram trabalhados? Débora Garofalo, professora de tecnologias há 4 anos na Escola Municipal de Ensino Fundamental Almirante Ary Parreiras, em São Paulo, acredita que a falta de formação (inicial e continuada) nesse tema impede que os docentes se aproximem de estratégias que façam bom uso das tecnologias a favor das aprendizagens.

Formada em Pedagogia e Letras e mestranda em letramento digital, ela recebe formação mensal na secretaria de ensino e elabora um planejamento anual para integrar tecnologia aos currículos das outras disciplinas. “Nós trabalhamos em parcerias. Um projeto conta com o conhecimento de cada professor: eles entram com o currículo e eu com as informações sobre tecnologia”, explica. “Precisamos de formação que mostre que os recursos tecnológicos são meios para se alcançar uma Educação de qualidade - e não para dar mais trabalho”, defende a educadora.

O caso de Débora infelizmente não parece ser a realidade da maioria dos professores brasileiros. Dados compilados pelo portal QEdu com base na Prova Brasil 2015 mostram que 88% dos professores queriam ter participado de mais atividades de desenvolvimento profissional nos dois últimos anos. As informações também dão conta de que  96% deles apontaram a ausência de cursos em suas áreas de interesse. Ou seja: os dados indicam que há abertura para a reciclagem profissional, mas os docentes querem atividades conectadas ao seu mundo.

Esse é um dos princípios que norteiam o projeto de formação continuada Pequenos Leitores, realizado pela Comunidade Educativa Cedac em parceria com a FTD Educação. A ideia da iniciativa é fazer com que a rede forme seus professores da Educação Infantil para serem mediadores de leitura para as crianças pequenas. Patrícia Diaz, diretora de Desenvolvimento Educacional da instituição, conta que a durabilidade da iniciativa - que está em sua 3ª edição e ocorre em dois municípios paulistas -, deve-se ao fato de que o programa considera cada escola como um ecossistema. “Quanto mais autêntica for a formação continuada, maiores a chances de dar certo”, define.

Não basta, portanto, ofertar atividades de aperfeiçoamento. É essencial que elas ocorram na escola com uma metodologia que aposte na aprendizagem entre os professores, com a condução do coordenador pedagógico e apoio do diretor. “Trabalhamos com os professores em encontros presenciais e a distância, mas também dialogamos com os coordenadores pedagógicos sobre a metodologia da formação e desenvolvemos com os diretores a reformulação dos projetos político-pedagógicos, o que garante que o professor tenha um respaldo”, explica Patrícia.

Assim, a formação leva em consideração o aproveitamento do tempo do professor. “Desenhamos a iniciativa para que ela fosse um espelho da profissão docente. Não criamos uma estrutura nova, trabalhamos com o tempo que esse professor já tem e incentivamos que o trabalho continue com o coordenador em Horários de Trabalho Pedagógico Coletivo”, explica Patrícia.

Outro aspecto importante a ser levado em consideração na elaboração de políticas de formação continuada é a escuta dos docentes. “No Pequenos Leitores - e isso serve para outras formações - trazemos referências e novas concepções, mas sempre a serviço dos problemas práticos daquele município. Estabelecemos em conjunto o que todos esperam e monitoramos o avanço dos docentes seja por meio de atividades qualitativas, seja por meio de informações quantificadas”, conta a especialista.

Em se tratando de formação continuada, impor um projeto pré-concebido é assumir que os professores são homogêneos e têm dificuldades e desafios semelhantes - o que é um equívoco. As atividades de formação devem ter continuidade e receber apoio da rede para que os professores se apropriem do conhecimento e coloquem mudanças metodológicas em prática.

Confira as outras postagens do blog focadas no professor: salário, formação inicial para Educação Infantil, saúde e liberdade de pensamento.

Saiba mais:
Conheça o Projeto Pequenos Leitores da Comunidade Educativa Cedac

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