Firjan Sesi
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A evasão escolar no Brasil deve ser um tema central na agenda de investimentos que melhorem o nível educacional do país. Um estudo feito pela Firjan Sesi e pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud) aponta que apenas seis em cada dez jovens concluem o ensino médio até os 24 anos de idade. Quando aplicado o recorte de classe, é possível observar que apenas 46% dos estudantes do quinto mais pobre da população conseguem concluir o ensino médio até os 24 anos, enquanto no quinto mais rico esse índice chega a 94%. Para incentivar a melhoria nesse cenário em todos os estados do país, a Firjan Sesi criou o projeto Combate à Evasão no Ensino Médio — Desafios e Oportunidades.

— A iniciativa surgiu da constatação de que os jovens estão entrando cada vez menos qualificados no mundo do trabalho e que o Brasil sofre com o aumento do número dos jovens “nem nem”, aqueles que não estudam nem trabalham. É uma tragédia silenciosa. Os dados mostram que o Brasil está atrás de países como Colômbia, Costa Rica, México. É uma situação muito grave que merece uma ação coordenada do conjunto da sociedade — explica Andréa Marinho, consultora de Educação da Firjan Sesi e responsável pelo projeto.

O programa, realizado por uma equipe multidisciplinar, composta por renomados especialistas da Firjan Sesi e designados pelo Pnud, foi dividido em três etapas. Depois da pesquisa, o time da Firjan Sesi e Pnud identificou experiências exitosas de combate à evasão em todo o mundo e criou um site com um repositório de práticas e políticas voltadas para a redução da evasão. Na segunda fase, foram elaborados cinco cadernos temáticos que aprofundam os principais eixos de combate ao abandono. Além disso, no dia 4 de outubro de 2023, os cadernos foram tema de um seminário internacional que reuniu secretários de Educação em Brasília. A próxima e última etapa deve acontecer entre os dias 13 e 17 de novembro, no Chile, também com a reunião de secretários estaduais e representantes do Ministério da Educação. O país é uma referência no combate à evasão escolar no ensino médio durante a segunda metade dos anos 1990 e a primeira década dos anos 2000. Atualmente, o Chile possui uma das menores taxas de evasão escolar do mundo.

— Lá vamos ter contato com os profissionais que elaboraram e implantaram as políticas que levaram o Chile ao patamar em que está hoje. Queremos mobilizar os gestores públicos para o combate à evasão. São eles que podem construir políticas públicas e implantar efetivas ações de combate à evasão, já que quase 90% dos alunos do ensino médio estão nas redes públicas, por isso vamos levar as secretarias de Educação dos estados. Esperamos que nosso estudo seja utilizado por eles como base para construção de planos efetivos para a transformação da atual realidade — afirma Andréa.

A especialista avalia que os desafios para implementar as políticas de educação são muitos e exigem esforço e compromisso das redes estaduais. Entre as experiências de sucesso que podem ser usadas como modelo estão auxílio financeiro a alunos, mentoria para orientar o jovem a respeito das possibilidades no mundo do trabalho, gestão escolar e formação continuada de professores, entre outras.

— É um problema muito complexo, não tem bala de prata. Senão, faríamos uma cartilha. Propomos uma combinação de diferentes estratégias que, combinadas, atendam às diversas realidades do país, interrompendo o círculo vicioso da evasão escolar, que revela e amplia a desigualdade social. Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, presidente da Firjan, ressaltou a importância da conclusão do ensino médio para o desenvolvimento do país:

— O tema é crucial não só para a educação, mas também para a produtividade da economia, que, no caso do Brasil, está, lamentavelmente, estagnada há décadas. Não é um segredo que um dos motivos da baixa produtividade é justamente a falta de mão de obra qualificada. Isso ainda é mais dramático diante de um mundo em evolução cada vez mais rápida, com novas tecnologias, como a inteligência artificial.

.. — Foto: G.Lab/Getty Images
.. — Foto: G.Lab/Getty Images

Programa elegeu cinco eixos fundamentais para reter estudantes na escola

Aluno do ensino médio concomitante com o curso de técnico em alimentos coleta amostra de produto em aula prática — Foto: Vinícius Magalhães/Firjan
Aluno do ensino médio concomitante com o curso de técnico em alimentos coleta amostra de produto em aula prática — Foto: Vinícius Magalhães/Firjan

Os cinco eixos elaborados na segunda fase do projeto Combate à Evasão no Ensino Médio — Desafios e Oportunidades tentam aprofundar os principais temas de combate à evasão escolar, dialogando com os mecanismos que explicam o fenômeno da evasão e que são áreas fundamentais para a intervenção de políticas públicas. Vinícius Cardoso, diretor de Educação da Firjan, destaca que o trabalho para transformar o cenário da educação é fundamental para o país alcançar um novo patamar de crescimento:

— Esse é um dos problemas mais graves no Brasil e no mundo, que faz com que jovens saiam prematuramente do sistema de educação e não realizem todo o seu potencial para o trabalho. É como uma âncora que impede o jovem de iniciar uma jornada profissional mais bem-sucedida, aprisionando-o em ocupações de menor renda ou informalidade e limitando a disponibilidade de mão de obra qualificada para as empresas. Todos perdem, é um ciclo vicioso.

Cada categoria destacada conta com um caderno que traz práticas inspiradoras e exitosas sobre cada tema. São eles: Apoio às aprendizagens; Apoio ao aluno na transição para o Ensino Médio e sua permanência; Apoio à transição para o mundo do trabalho; Propostas de ambientes de aprendizagem e de inovação curricular e Apoio à gestão escolar e valorização da formação docente.

A primeira consiste em oferecer ao leitor políticas e programas cujo objetivo é o de aumentar ou recompor as aprendizagens, como programas de tutoria, mentoria, aumento do tempo letivo, apoio psicológico, desenvolvimento de habilidades socioemocionais e mediação de conflitos. Outro caderno trata das questões relativas à transição entre o ensino fundamental e o médio, a importância da escolha da escola, e traz informações sobre políticas públicas bem sucedidas de apoio financeiro para ajudar alunos a seguir estudando.

— O auxílio financeiro traz resultados muito fortes. Muitos alunos não têm dinheiro para se alimentar, precisam cuidar dos irmãos, comprar roupas, atender a necessidades da casa, da família. A escola concorre com tudo isso — explica Andréa Marinho, consultora de Educação da Firjan Sesi.

O apoio à transição para o mundo do trabalho indica experiências envolvendo o Ensino Técnico e Profissional, Programas de Aprendizagem e de Estágio e itinerários formativos com foco no trabalho. O material destaca a importância dos cursos técnicos para o desenvolvimento de soft skills para o desenvolvimento profissional, o desempenho escolar e a redução da evasão. As propostas de ambiente de aprendizagem e inovação curricular apostam em ideias voltadas à invenção, reflexão, investigação e cooperação com o uso de metodologias ativas, como Steam, Fablabs, robótica e inclusão de debates sobre questões raciais. O último eixo, que aborda a valorização da gestão escolar e a formação docente, mostra o impacto dessas iniciativas na prevenção do abandono escolar, incentivando a melhor alocação de professores e da organização de horários e programas de troca de experiências.

Andréa aponta que é fundamental a formação continuada de docentes e a garantia de um ambiente escolar que acolha e engaje os alunos.

— É necessário estabelecer um ambiente favorável ao desenvolvimento dos alunos, com um currículo que contemple a realidade daquela comunidade, daquele aluno. Além disso dar significado à educação para a vida, mostrando, por exemplo, possibilidades profissionais e pessoais após a conclusão deste nível de ensino, contribuem para que o aluno construa seu projeto de vida. Vislumbre a saída do ciclo de pobreza.

Entre os destaques no eixo referente ao apoio às aprendizagens está uma iniciativa desenvolvida em Chicago, em que alunos homens do ensino secundário e alguns do ensino básico, residentes em áreas economicamente desfavorecidas, receberam apoio psicológico semanal durante um ou dois anos letivos, na intenção de aprenderem a abrandar tomadas de decisão em situações de alto risco.

No campo do incentivo ao retorno e à permanência do aluno na escola, estudantes do estado do Piauí receberam da secretária de Estado de Educação, em 2015, uma bolsa por conclusão de série ou do ensino médio. O projeto premiou os alunos que completaram os anos letivos com R$ 400, R$ 500 e R$ 600, de acordo com a série cursada.

Um exemplo de destaque no eixo do apoio à transição para o mundo do trabalho acontece em âmbito nacional. É a Aprendizagem Profissional, uma modalidade de qualificação profissional de jovens e adolescentes que tem como objetivo oferecer uma formação profissional básica aos alunos. A Pesquisa de Egresso Firjan Senai, realizada entre 2021 e 2023, apontou que nove em cada dez alunos egressos dos cursos de Aprendizagem Industrial do Senai afirmaram que, com o programa, tiveram maior interesse no seu desenvolvimento pessoal e profissional e melhora no relacionamento com as pessoas e no trabalho em equipe.

A busca por ambientes adequados de aprendizagem e inovação curricular fez o estado de Pernambuco implantar, em 2004, o projeto Escola de Referência de Ensino Médio (Erem), com instituições de ensino pautadas pelo protagonismo juvenil e pela gestão por resultados.

Carlos Arboleda, representante-residente adjunto do Pnud, explica a importância da iniciativa em âmbito nacional:

— Olhar para o ensino médio é olhar para o futuro. A evasão escolar impede que jovens alcancem plenamente seu potencial. Temos o dever de transformar essas estatísticas alarmantes através de apoio a gestores públicos e garantindo que todos os jovens tenham acesso à educação de qualidade — concluiu.

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