Financiamento consistente, redução da evasão escolar, políticas de inclusão e permanência de alunos e aproximação com a sociedade precisam ser prioridade para universidades em 2023, segundo os cerca de 60 reitores presentes no VIII Fórum Nacional de Reitores e Dirigentes de Universidades. No encontro, promovido nessa sexta-feira (26) pelo "Canal Futura" e pela Fundação Roberto Marinho, no Rio, um dos pontos mais ressaltados foi a importância da destinação de mais recursos para instituições públicas, frente aos cortes dos últimos anos.
O orçamento discricionário das universidades federais foi de R$ 5,1 bilhões em 2022, acima dos R$ 4,4 bilhões de 2021, mas abaixo dos R$ 6 bilhões de 2019. Por isso, a necessidade de aproximação com a sociedade, para conquistar apoio para a causa.
“Penso que tem um desafio de fazer com que a nossa sociedade entenda que orçamento para as universidades não é gasto, é um investimento. Aqui no Brasil não tem essa visão. O ritmo que nossa sociedade está hoje... Hoje é tudo delivery. E conhecimento e educação não se faz de forma delivery. Educação é processo. E por isso tem que entender como investimento”, afirmou a vice-reitora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Raiane Assumpção.
Para a reitora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Denise Pires de Carvalho, houve um processo de desqualificação das universidades brasileiras nos últimos anos, razão pela qual é preciso um movimento de defesa dessas instituições. Ela citou o sociólogo Darcy Ribeiro ao dizer que “a crise na educação não é crise, é um projeto”. A reitora ressaltou a importância das universidades para o futuro do país.
“Nós estamos nos transformando novamente num Brasil colônia, de exploração. Nesse ano do bicentenário, é a reflexão que eu queria trazer. Não há caminho da independência verdadeira. A pandemia nos mostrou que ainda somos dependentes", afirmou Denise, ao mencionar os insumos farmacêuticos para produção de vacinas.
"Ainda bem que existe a Fiocruz, ainda bem que existe Butantã. Será que em 2050 essas instituições existirão se continuarmos nesse caminho? Será que as universidades poderão responder na próxima pandemia como responderam nessa?”, questionou.
Pró-reitor de Extensão e Cultura da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (Unirio), Jorge Ávila repetiu o discurso uníssono por mais recursos para as universidades públicas, mas alertou que é preciso também ampliar a governança dessas instituições. Um dos aspectos, apontou, é a participação de membros de fora da universidade nos conselhos superiores.
“Financiamento, especialmente público, só é possível fortalecendo os elos com a sociedade brasileira. A gente não vai conseguir, ficando na torre de marfim, achar que a gente tem autonomia total, fazendo o que bem entende e que os outros têm que pagar a conta", disse.
"É preciso repensar a governança da universidade brasileira. O mundo inteiro tem ampla participação dos conselhos universitários. A gente tem que ouvir os outros, senão tem 50% de evasão”, argumentou.