Por G1


Fies ganha linha com juro zero para estudantes de baixa renda

Fies ganha linha com juro zero para estudantes de baixa renda

Criado em 2001 como um programa federal para financiar a graduação no ensino superior particular, o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) passou, em 2010, por mudanças que fizeram com que o número de contratos se multiplicasse e chegasse, no início deste ano, a mais de 1,5 milhão. Em 2015, para conter a rápida e imprevista expansão, o programa passou a funcionar com alguns limites de vagas e nova taxa de juros, privilegiando estudantes mais pobres e nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

Na manhã de quinta-feira (6), o governo federal anunciou mais uma série de mudanças no programa, visando principalmente combater a taxa de inadimplência dos estudantes a serem financiados a partir de 2018.

Veja abaixo como o Fies evoluiu ao longo de mais de 15 anos.

TAXA DE JUROS

Antes de 2010: Até outubro de 2006, era de 9%. Depois, até agosto de 2009, passou a ficar entre 3,5% e 6,5%, dependendo da natureza do curso (alguns cursos eram considerados prioritários).

Entre 2010 e 2015: Em março de 2010, na grande reformulação do programa durante o governo Lula, a taxa de juros foi fixada em 3,4% ao ano para todos os cursos. Nesse período, o programa, que antes era coordenado pela Caixa Econômica Federal, passou a ser operado pelo Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), e o Banco do Brasil passou a ser, além da Caixa, um dos agentes financeiros do Fies.

Desde julho de 2015: O MEC alterou as regras e fixou a taxa de juros em 6,5% ao ano para todos os cursos. De acordo com o FNDE, essa alteração teve dois objetivos: "contribuir para a sustentabilidade do programa" e "realizar um realinhamento da taxa de juros às condições existentes no ao cenário econômico e à necessidade de ajuste fiscal".

A partir de 2018: Os juros dependem da modalidade de contrato, podendo oscilar entre zero, 3% e outro índice ainda não definido.

PRAZO PARA PAGAMENTO

Antes de 2010: O chamado "período de carência" (o prazo entre o momento da graduação e o momento em que o estudante já formado precisa começar a pagar pelo financiamento) era de seis meses. Além disso, o prazo do "período de amortização" (tempo que o ex-estudante tem para quitar essa dívida) era de duas vezes o período financiado do curso.

2010-2017: Um novo decreto aumentou as regras de carência para 18 meses, e também aumentou o período de amortização para três vezes a duração do curso, mais 12 meses.

A partir de 2018: Os estudantes terão 14 anos para liquidar o financiamento, considerando, por exemplo, um curso com mensalidade média de R$ 1,2 mil.

TETO DA RENDA FAMILIAR

Antes de 2010: Não havia teto máximo de renda familiar para o estudante, mas hava um critério de comprometimento de renda, que impedia a participação de estudantes com renda familiar suficiente para o comprometimento do financiamento fosse menor que 20%.

Entre 2010 e 2015: Na reformulação, o Fies passou a ser estendido para pessoas com renda familiar bruta de até 20 salários mínimos.

2015 - 2017: O Fies restringiu o teto de renda familiar para privilegiar estudantes mais pobres, e passou a operar com um limite de renda per capita de 2,5 salários mínimos por mês.

A partir de 2018: O limite será de três salários mínimos de renda familiar per capta para a modalidade 1, e de cinco salários mínimos de renda familiar per capta para os demais tipos de contrato.

ÁREAS PRIORITÁRIAS

Antes de 2010: Alguns cursos, como medicina, engenharia, física e matemática, tinham prioridade definida pelo governo federal e, por isso, os estudantes tinham contratos com taxa de juros de 3,5%.

Entre 2010 e 2015: Não havia definição de critério e estudantes de todos os cursos podiam fechar contratos de financiamento com taxa de juros de 3,4% ao ano.

2015 - 2017: As áreas de engenharias, formação de professores (licenciaturas, pedagogia ou normal superior) e saúde passaram a ser consideradas prioritárias.

A partir de 2018: MEC não deu detalhes.

CURSOS COM PRIORIDADE

Antes de 2015: O MEC exigia avaliação positiva no Sinaes. No primeiro semestre, passou a adotar o critério e cursos com nota 4 ou 5 somaram 52% dos financiamentos.

2015 - 2017: O foco do programa passou a ser os cursos com notas 5 e 4 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).

A partir de 2018: MEC não deu detalhes.

PRIORIDADE REGIONAL

Antes de 2015: Não havia recorte de prioridade para regiões ou estados. E 60% dos contratos eram com estudantes de estados do Sul, do Sudeste ou do Distrito Federal.

2015 - 2017: O Fies passou a priorizar o atendimento de alunos matriculados em cursos nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (excluindo Distrito Federal).

A partir de 2018: Na modalidade Fies 2, os beneficiados serão alunos do Norte, Nordeste e Centro Oeste.

PROCESSO DE SELEÇÃO

Antes de 2010: O Ministério da Educação fixava prazos para os estudantes se inscreverem no processo seletivo.

Entre 2010 e 2015: O MEC passou a permitir que estudantes se inscrevessem pela internet em qualquer período do ano (entre janeiro e junho para financiamentos relativos ao primeiro semestre, e entre julho e dezembro para financiamentos relativos ao segundo semestre).

2015 - 2017: O Fies voltou a ter um processo seletivo com períodos definidos, e ainda passou a exigir uma nota mínima de 450 pontos no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para conceder o financiamento aos estudantes.

A partir de 2018: MEC não deu detalhes sobre eventuais mudanças.

Expansão e freio

O Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) existe desde 2001, mas foi só em 2010, quando o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) passou a operar o fundo, que ele cresceu exponencialmente. Além da Caixa Econômica Federal, o Banco do Brasil também passou a atuar como agente financeiro do Fies, e a taxa de juros, que chegava a 6,5% ao ano, para estudantes de alguns cursos, foi reduzida a 3,4% ao ano para todos os cursos. Além disso, não havia um período limite de inscrições ou um número limite de vagas oferecidas por semestre.

O resultado foi um aumento de quase dez vezes no número de novos contratos em cinco anos, de cerca de 76,2 mil para aproximadamente 730 mil, segundo dados do FNDE.

O freio da expansão do Fies veio em julho de 2015. Na época, o MEC anunciou que a verba para as 250 mil vagas previstas para o ano todo havia se esgotado com a demanda do primeiro semestre. Uma reestruturação orçamentária permitiu a abertura de 61,5 mil vagas no segundo semestre, levando o total daquele ano para 315 mil novos contratos, menos da metade do número de 2014.

Número de vagas no Fies
Total de novos contratos firmados a cada ano
Fonte: FNDE

Critérios mais rígidos

A reestruturação de 2015 marcou a primeira vez desde 2010 em que o MEC e o FNDE impuseram critérios que limitaram o número de contratos financiados. Um dos critérios foi a obrigatoriedade da nota do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Outra mudança que impactou a distribuição dos contratos foi o fato de o MEC passar a privilegiar cursos com melhor avaliação nos indicadores do ministério, e cursos localizados nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (com exceção do Distrito Federal).

Além disso, o governo restringiu o teto de renda familiar dos estudantes. Até 2015, quase estudante com renda familiar mensal bruta per capita de até 20 salários mínimos poderia solicitar um financiamento. A partir de 2015, esse teto foi reduzido para 2,5 salários mínimos. Outra mudança implantada foi a definição de vagas semestralmente para o Fies, alterando o sistema anterior, que funcionava de acordo com a demanda dos estudantes.

No primeiro semestre de 2017, o MEC já havia implantado novas regras para reduzir o impacto do Fies nos gastos do governo federal. Em fevereiro, o ministro Mendonça Filho anunciou a redução em 34,7% do valor máximo que cada contrato poderia receber em financiamento. O novo limite passou a ser R$ 5 mil por mês, ou R$ 30 mil por semestre. Segundo ele, esse foi o primeiro passo de uma futura reestruturação do programa, que foi anunciada oficialmente nesta quinta-feira.

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