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Fauna e flora do mangue ajudam a alfabetizar crianças no Pará

Projeto de institutos e da UFPA usa elementos do dia a dia de comunidades extrativistas para promover a aprendizagem e o valor da preservação

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São Paulo

Uma ação educacional no Pará usa elementos da fauna e da flora dos mangues da Amazônia para alfabetizar crianças com defasagem escolar em comunidades extrativistas.

A primeira edição do curso, chamado de Alfa Mangue, aconteceu de fevereiro a junho deste ano e atendeu 27 crianças na comunidade de Araí, na Reserva Extrativista Araí-Peroba, em Augusto Corrêa. Durante três meses, os alunos tiveram aulas nas manhãs de sábado.

As crianças da comunidade extrativista Araí (PA) visitavam mangues próximos à comunidade para fixar os conteúdos vistos em salas de aula
Crianças da comunidade extrativista Araí (PA) visitam mangues próximos à comunidade para fixar os conteúdos vistos em salas de aula - Raquel Leite

As crianças tinham entre 7 e 9 anos, idade na qual já deveriam estar alfabetizadas. De acordo com a BNCC (Base Nacional Comum Curricular), o esperado é que o processo de alfabetização aconteça nos dois primeiros anos do ensino fundamental. Nessa etapa escolar, as crianças costumam ter entre 6 e 7 anos.

Já a segunda edição acontece há um mês na comunidade de Tamatateua, na Reserva Extrativista de Caeté-Taperuçu, na cidade de Bragança, e deve ser concluída em novembro deste ano. Ao todo, 30 crianças participam das aulas.

A ação faz parte do projeto Mangues da Amazônia, criado pelo Instituto Peabiru e pela Associação Sarambuí, em parceria com o Lama (Laboratório de Ecologia de Manguezal), da UFPA (Universidade Federal do Pará). A Petrobras, por meio do Programa Petrobras Socioambiental, financia a iniciativa.

As aulas utilizam nomes de animais terrestres e aquáticos, árvores, plantas e outros elementos que fazem parte do dia a dia da comunidade extrativista para facilitar o processo de aprendizagem e, ainda, transmitir o valor da preservação ambiental para os alunos.

Em Araí, a iniciativa contou com voluntários que vivem e trabalham na comunidade, como professores da rede pública de ensino, secretários escolares, coordenadores pedagógicos, merendeiras e mães de alunos, além da coordenadora do Alfa Mangue, Giselle Silva.

A iniciativa surgiu devido à demanda observada em uma outra ação do Mangues da Amazônia, o clube de ciências.

"O objetivo era despertar a curiosidade para a ciência. Mas percebemos que a maioria das crianças com até 9 anos não tinha o domínio da leitura e da escrita", diz Silva.

O desempenho dos alunos brasileiros nos anos de alfabetização despencou por causa do fechamento das escolas durante a pandemia da Covid-19, segundo os dados de avaliação federal da educação básica de 2021, divulgados neste mês. A prova do Saeb (Sistema de Avaliação da Educação Básica) foi aplicada justamente para o 2º ano do ensino fundamental.

Tânia Roberta Paiva Pinheiro, 36, é mãe de Taysson, 8, um dos alunos da primeira turma do Alfa Mangue, que aconteceu na escola Virgilio Corrêa, na comunidade Araí. Pinheiro é coordenadora de outro colégio e foi voluntária no projeto. Ela diz que, ao acompanhar os estudos do filho, pôde ver uma realidade diferente da que encontrava na rede de ensino local.

"O projeto foi muito importante para nossa comunidade e para o meu filho, porque vi o interesse dele nas palestras e nas atividades recreativas", diz.

O secretário escolar Jamyson Gabriel Tavares da Silva, 33, diz que Alfa Mangue atendeu às expectativas de promover a alfabetização. O filho Miguel, 8, também participou da primeira turma da ação.

"Atividades fora da sala de aula são maravilhosas, porque é justamente esse movimento prático, além da teoria, que é necessário para as crianças absorverem os conteúdos."

Para ele, a iniciativa promove um novo olhar para a comunidade e para a preservação dos mangues da Amazônia. "A nossa vida depende da saúde do mangue."

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