RIO — Os últimos resultados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes ( Pisa ) revelam que o Brasil está estagnado há pelo menos dez anos entre os piores níveis de aprendizado na comparação com outros países . De acordo com o teste de 2018, divulgado nesta terça-feira, 43% dos participantes brasileiros não aprenderam o mínimo necessário nas três áreas do conhecimento testadas: Leitura, Matemática e Ciências, contra apenas 13% dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico ( OCDE ). Os indicadores divulgados hoje se referem a 2018 e não incluem a gestão Jair Bolsonaro.
A média brasileira ficou em 413 no quesito Leitura (57º do mundo), 384 em Matemática (70º) e 404 em Ciências (64º). As notas são levemente mais altas do que o último resultado, de 2015, mas insuficientes para serem consideradas um avanço, segundo o relatório da OCDE.
A solução para crescer no Pisa é uma reforma "sistêmica" do ensino brasileiro, afirma André Vieira, analista de pesquisa e avaliação na Fundação Roberto Marinho e doutorando em Sociologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro ( UFRJ ).
— De certa forma, era esperada pelo país não ter conseguido fazer reformas mais estáveis — afirma André, que também é pesquisador associado ao Laboratório de Pesquisa em Ensino Superior (Lapes) da UFRJ.
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Por que 43% dos brasileiros que fizeram a prova não conseguiram o mínimo nas três avaliações?
A série histórica mostrou estagnação nas três áreas do conhecimento, e o desempenho em Matemática continua muito ruim. Como a OCDE enfatiza, a solução passa por uma reforma sistêmica. A gente tem uma formação de professor deficitária e precisa que ela seja mais atrelada à prática pedagógica. Ao mesmo tempo, também tem que melhorar as condições do ensino dado, como a infraestrutura da escola. Atualmente, o aluno acumula um baixo desempenho desde o início da educação básica até chegar aos alunos de 15 anos (que fazem a prova). Por isso uma política de educação infantil é importante, além de outras medidas suplementares, como a política de alfabetização e mecanismo de financiamento, como o Fundeb.
A estagnação surpreende?
De certa forma, era esperada pelo país não ter conseguido fazer reformas mais estáveis. Isso é consistente com a série histórica. Olhando o Pisa como um filme, analisando desde o começo das avaliações, em 2000, a gente vê que o desempenho de 2018 em Leitura nem sequer é diferente de 2003. Ou seja, oscilamos e voltamos ao patamar de mais de uma década atrás. Sem as políticas sistêmicas, continuaremos oscilando na margem.
A diferença dos alunos mais pobres em relação aos mais ricos é de 97 pontos. Isso é muito?
Na escala do Pisa, 35 pontos equivale a um ano letivo de aprendizagem. Então, a diferença entre os mais ricos e os mais pobres são dois anos e meio letivos de aprendizagem. É uma disparidade bastante considerável que indica a desigualdade do país. Essa disparidade de aprendizagem vai se acumulando e gerando consequências nas etapas seguintes de ensino até chegar a afetar a expectativa de cada grupo para cursar uma universidade.