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A opinião do GLOBO.

Por Editorial

A falta de creches públicas em todo o país pune duplamente as mães brasileiras. Primeiro, porque, sem ter com quem deixar os filhos pequenos, elas se veem forçadas a abrir mão do trabalho, renunciando a uma alternativa fundamental para compor o orçamento familiar. Segundo, porque compromete o aprendizado das crianças, especialmente nas famílias em que os pais têm baixa escolaridade, situação em que a escola é essencial para um futuro melhor.

Sai governo, entra governo, e os números permanecem decepcionantes. Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)/Educação, do IBGE, revelam que, de todas as crianças de até 3 anos no país, 7,2 milhões estavam fora da creche no ano passado por motivos diversos, incluindo falta de interesse dos pais. Desse total, 34% não estão matriculadas porque as mães não conseguiram vaga. São 2,5 milhões de crianças nessa situação, contingente maior que a população de Belo Horizonte.

O pouco-caso com as crianças leva a situações inaceitáveis, como mostrou reportagem do GLOBO. Uma mãe que mora em Formiga (MG) contou que precisará abandonar o emprego num supermercado porque não tem com quem deixar a filha de 2 anos. Outra disse estar preocupada com o desenvolvimento do menino de 2 anos que pouco fala. Ela acredita que o ambiente escolar ajudaria a socializá-lo.

Como ocorre noutros setores, a educação infantil é marcada pela desigualdade. Apenas 2% das cidades do país atendem mais de 85% de suas crianças com até 3 anos em creches, segundo a tese de doutorado “Acesso à creche nos municípios brasileiros”, do pesquisador André Augusto dos Anjos Couto. A disparidade fica clara quando se constata que municípios com baixo nível socioeconômico oferecem creche a 27% de crianças nessa faixa etária. Nos mais ricos, o percentual sobe para 46%. Infelizmente, a construção de creches costuma seguir mais os interesses paroquiais de políticos em busca de dividendos eleitorais que a necessidade dos moradores. Não deveria ser assim.

Embora a creche não seja etapa obrigatória no ensino, não se trata de favor dos governos oferecer vagas às crianças pequenas. De acordo com o Plano Nacional de Educação (Lei 13.005/2014), o Brasil deveria manter, já em 2024, 50% das crianças de até 3 anos em creches. Considerando que o patamar hoje está em 36% e que a demanda tem crescido nos últimos anos (em 2019 eram 2,3 milhões sem vaga), é pouco provável que a meta seja atingida.

O país precisa de mais creches, de preferência onde são mais necessárias. Antes de se meter a construir, porém, o governo deveria concluir as muitas obras paradas — boa parte delas iniciada ainda nos governos petistas. O Brasil tem hoje mais de 700 obras de construção ou reforma de creches. A grande maioria (90%) está paralisada. Terminá-las não só evitaria desperdício de dinheiro público já gasto em projetos malconduzidos, como também beneficiaria crianças, suas mães e o próprio país, que necessita cada vez mais de força de trabalho.

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