Rio

Falta de aulas presenciais prejudica 450 mil alunos da alfabetização no Rio

Especialistas avaliam que o período de fechamento das escolas por conta da pandemia de Covid-19 foi um tempo perdido para muitas classes
Márcia de Jesus tenta ensinar caligrafia aos netos que estão em idade de alfabetização: para especialistas, é fundamental que alunos dessa etapa do aprendizado estejam nas salas de aula Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo
Márcia de Jesus tenta ensinar caligrafia aos netos que estão em idade de alfabetização: para especialistas, é fundamental que alunos dessa etapa do aprendizado estejam nas salas de aula Foto: Hermes de Paula / Agência O Globo

RIO — Num papel em branco com uma pauta improvisada, Márcia Nascimento de Jesus, de 53 anos, tenta ensinar caligrafia ao neto João Miguel, de 6. Ela treina duas vezes até acertar o traçado de uma letra e explica: “É que deixei o colégio antes de concluir os estudos”. Há mais de seis meses sem pisar na sala de aula, o menino já não se lembra das lições que aprendeu numa escola municipal de Honório Gurgel. Uma dificuldade que, entre famílias mais abastadas, muitas vezes é driblada com a contratação de professores particulares. No caso do pequeno estudante da Zona Norte, não é possível contar nem mesmo com o auxílio de uma explicadora.

Volta às aulas: Reabertura das escolas: na rede estadual do Rio, maioria das turmas só volta em 2021

João Miguel é um dos 453.982 alunos do Estado do Rio que, segundo o Censo Escolar 2019, deveriam estar aprendendo a ler, escrever e fazer os cálculos mais simples. Esse é o total de inscritos no ciclo básico de alfabetização, considerando as redes pública e privada. Desde a homologação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC), em 2017, a diretriz do Ministério da Educação (MEC) é que a alfabetização seja feita até o 2º ano do ensino fundamental. Especialistas ouvidos pelo GLOBO apontam que, para a faixa etária de João Miguel, a simples oferta de conteúdo de forma remota é ineficaz. Eles avaliam que o período de fechamento das escolas por conta da pandemia de Covid-19 foi um tempo perdido para muitas classes de alfabetização.

— Milhares de crianças voltarão às salas de aula para um início, ou reinício, dos processos de alfabetização e de construção do conceito de cultura escolar, algo que não chegaram a formar — afirma a doutora e livre-docente em Educação Magda Soares, considerada uma das maiores especialistas do país no assunto.

Nova fase: Prefeitura decide liberar rodas de samba; quadras das escolas seguem fechadas

A prefeitura, que ainda não estabeleceu uma data para a retomada das aulas presenciais e é responsável pelo ensino fundamental na rede pública, afirma que, desde março, oferece um material de complementação, respeitando o ano de escolaridade dos alunos. De acordo com a Secretaria municipal de Educação, o conteúdo é encaminhado aos alunos por uma plataforma, “e os professores buscam ampliar em seus planejamentos as atividades de forma não-presencial”.

Leia a íntegra da matéria exclusiva para assinantes