Edição do dia 03/07/2017

03/07/2017 14h20 - Atualizado em 03/07/2017 14h57

Faculdade de Medicina da USP adere ao sistema de cotas para 2018

Esta é a primeira vez em 100 anos de história que uma das faculdades mais concorridas do país vai ter uma política de cota racial.

José Roberto BurnierSão Paulo

Pela primeira vez em 100 anos de história, a Faculdade de Medicina da USP vai reservar uma parte das vagas para as cotas.

Considerada a meca das Faculdades de Medicina, um diploma da USP é o máximo que um estudante dessa área pode ter no Brasil. Mas nem todos.

A Faculdade de Medicina da USP sempre selecionou seus estudantes pela Fuvest, um vestibular difícil, muito concorrido e que, em geral, acaba absorvendo alunos que têm condições financeiras de se preparar melhor.

Mas com uma pressão cada vez maior por inclusão social, a faculdade decidiu abrir o leque.

Numa decisão histórica, a Congregação, que é a instância máxima da Faculdade de Medicina da USP, decidiu adotar parcialmente o Sisu, o Sistema de Seleção Unificada, que usa notas do Enem para selecionar estudantes. E, dentro dessa seleção, será reservada uma cota para negros ou afrodescendentes, pardos e indígenas.

A proposta aprovada estabelece: das 175 vagas oferecidas, 125 continuarão sendo selecionadas pela Fuvest. As outras 50 serão preenchidas pelas melhores notas do Sisu. Dessas 50 vagas, 15 serão destinadas a estudantes de escolas públicas que se autodeclararem negros, pardos ou indígenas, ou seja, em 2018, 8,6% do total de vagas serão destinados para a cota.

Dentro da USP há gente que não concorda. A professora emérita de Antropologia, Eunice Durham, diz que estabelecer cotas é optar pelo caminho mais fácil e que não vai resolver o problema da inclusão na Faculdade de Medicina.

“Eu acho que vai provocar provavelmente um resultado desastroso. Eu acho que eles têm obrigação de abrir cursos pré-vestibular para alunos que tenham o talento necessário e o interesse necessário para arcar com o peso de uma formação nesse nível. Se não fizer nada, continuamos nessa situação, de oferecer aspirina para quem está com pneumonia - a pneumonia é situação de Ensino Médio”, disse.

O diretor da Faculdade de Medicina, José Otávio Costa Auler Jr., também defende a melhoria do Ensino Médio como prioridade, mas disse que esse é um processo demorado demais.

“Com essas medidas, estamos trazendo novas possibilidades de incluir pessoas que de outra maneira não conseguiriam nunca ser incluídas”, pondera.

 

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