Pela primeira vez em 100 anos de história, a Faculdade de Medicina da USP vai reservar uma parte das vagas para as cotas.
Considerada a meca das Faculdades de Medicina, um diploma da USP é o máximo que um estudante dessa área pode ter no Brasil. Mas nem todos.
A Faculdade de Medicina da USP sempre selecionou seus estudantes pela Fuvest, um vestibular difícil, muito concorrido e que, em geral, acaba absorvendo alunos que têm condições financeiras de se preparar melhor.
Mas com uma pressão cada vez maior por inclusão social, a faculdade decidiu abrir o leque.
Numa decisão histórica, a Congregação, que é a instância máxima da Faculdade de Medicina da USP, decidiu adotar parcialmente o Sisu, o Sistema de Seleção Unificada, que usa notas do Enem para selecionar estudantes. E, dentro dessa seleção, será reservada uma cota para negros ou afrodescendentes, pardos e indígenas.
A proposta aprovada estabelece: das 175 vagas oferecidas, 125 continuarão sendo selecionadas pela Fuvest. As outras 50 serão preenchidas pelas melhores notas do Sisu. Dessas 50 vagas, 15 serão destinadas a estudantes de escolas públicas que se autodeclararem negros, pardos ou indígenas, ou seja, em 2018, 8,6% do total de vagas serão destinados para a cota.
Dentro da USP há gente que não concorda. A professora emérita de Antropologia, Eunice Durham, diz que estabelecer cotas é optar pelo caminho mais fácil e que não vai resolver o problema da inclusão na Faculdade de Medicina.
“Eu acho que vai provocar provavelmente um resultado desastroso. Eu acho que eles têm obrigação de abrir cursos pré-vestibular para alunos que tenham o talento necessário e o interesse necessário para arcar com o peso de uma formação nesse nível. Se não fizer nada, continuamos nessa situação, de oferecer aspirina para quem está com pneumonia - a pneumonia é situação de Ensino Médio”, disse.
O diretor da Faculdade de Medicina, José Otávio Costa Auler Jr., também defende a melhoria do Ensino Médio como prioridade, mas disse que esse é um processo demorado demais.
“Com essas medidas, estamos trazendo novas possibilidades de incluir pessoas que de outra maneira não conseguiriam nunca ser incluídas”, pondera.