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Exemplo de diversidade de gênero, Formação ajuda educação maranhense

Atividades de esporte e lazer da Incubadora de Esporte e Cidadania - Divulgação
Atividades de esporte e lazer da Incubadora de Esporte e Cidadania
Imagem: Divulgação

Felipe van Deursen

Colaboração para Ecoa, em Florianópolis (SC)

21/04/2021 06h00

Maria Regina Martins Cabral queria ser escritora, mas desde os tempos de faculdade ela foi atraída para a área da educação. Era estudante quando coordenou um projeto de aula para adultos nas zonas rural e urbana de São Luís. Depois, não saiu mais. Fez mestrado e doutorado, trabalhou em programas de alfabetização, de formação de professores, foi secretária de educação até que, em 1999, se lançou em um novo projeto, uma ONG dedicada a solucionar problemas e materializar ideias para a educação no Maranhão.

Até 2003, Cabral e os outros sócios se dividiram entre suas carreiras e a ONG, chamada oficialmente Formação - Centro de Apoio à Educação Básica (FCAEB). Desde então, passaram a se dedicar exclusivamente a ela. Hoje, são oito associados, sendo seis mulheres. A direção é 100% feminina. "Sempre dedicamos metade das vagas, no mínimo, de tudo que organizamos e ofertamos, para mulheres", diz.

Educação profissionalizante

O que o Formação faz é desenvolver projetos educativos para escolas. Por meio de três incubadoras, a ONG colocou de pé algumas ideias que ganharam destaque internacional.

Uma delas é o Centro de Ensino Médio e Profissionalizante (Cemp), que surgiu no começo do século como uma parceria da Formação com secretarias municipais de educação do estado. O objetivo era reverter o quadro de abandono no ensino médio e na educação profissionalizante por meio da aplicação imediata dos aprendizados na realidade desses lugares. Assim, alunos que concluíam o curso de agroecologia, por exemplo, desenvolviam um trabalho para os agricultores de sua cidade. "Outros jovens se dedicam ao setor de serviços, processando os produtos primários de suas propriedades e comercializando nas feiras do circuito produtivo do território", explica Ana Paula Ribeiro de Souza, especialista em educação e ex-membro da Formação, em um artigo na revista Labor, da Universidade Federal do Ceará (UFC).

Formação - Divulgação - Divulgação
Programa de formação de jovens em arte e cultura em Palmeirandia-MA
Imagem: Divulgação

"Os primeiros Cemps foram concebidos e acompanhados por nós, mas implantados por municípios. Como o recurso para o ensino médio é recebido pelo estado e o Maranhão não quis aceitar projetos educativos não concebidos pela suas equipes, os municípios tiveram dificuldades no caminho", explica Cabral. Com o passar dos anos, as secretarias assumiram mais autonomia nos centros, e o projeto acabou perdendo tração, segundo a fundadora da ONG, que acredita que se o conceito tivesse sido adotado desde o início como política de Estado, ele teria tido mais êxito. "Alguns Cemps continuaram funcionando. Em 2020, a Formação Faculdade Integrada (FFI), também criada por nós, decidiu implantar os Cemps como escolas de aplicação do curso de pedagogia", diz.

Incubadora de projetos sociais

Mais de 200 empreendimentos passaram pelas incubadoras do Formação, que se articulam em três frentes (esportes e cidadania, artes, mídias e tecnologia e o que a ONG chama de "projetos produtivos"). Por meio de seminários, oficinas, planos de negócio, oficinas de gestão e outras etapas, o Formação acelera esses negócios. É a mesma lógica de incubadoras de startups, mas aplicada a projetos sócio-educativos. "No caso das incubadoras de esporte e de arte nós priorizamos nossas próprias tecnologias", diz Cabral. A Quadra Bolação é um desses projetos, ou "tecnologia social", como a ONG descreve. Trata-se de uma quadra móvel, que pode ser montada e transportada com relativa facilidade. As primeiras foram construídas com recursos próprios, em 2013, ano em que o Brasil sediou a Copa das Confederações.

A pouco tempo da Copa do Mundo, a iniciativa chamou atenção da organização streetfootballworld, que promove ações sociais com foco no futebol. A Sony, patrocinadora da ONG e do Mundial no Brasil, abraçou a ideia e espalhou pelo mundo as quadras móveis e o seu brasileiríssimo conceito de jogar bola na rua. "A tecnologia já foi financiada também pela Fifa e pelo Criança Esperança", diz Diane Pereira Sousa, criadora da incubadora.

Criadora - Divulgação - Divulgação
Maria Regina Martins Cabral, fundadora da ONG Formação
Imagem: Divulgação


Mudando o Maranhão

O Formação nasceu no estado que tem a maior taxa de pessoas com mais de 25 anos sem instrução, 16,6%, segundo dados de 2019 do IBGE. Além disso, somente 36,8% da população concluiu o ensino médio. Apesar de algumas melhoras, como o aumento de pessoas com ensino superior completo (de 8,6% em 2018 para 9,1% em 2019) e a queda do analfabetismo (de 19,6% em 2014 para 15,6% em 2019), o Maranhão ainda é conhecido como um dos estados mais pobres e com a educação mais deficitária no país.

As ideias do Formação acabaram, nas palavras da fundadora, "se espraiando, e hoje a organização não é mais local". A ONG já atuou em 15 estados, trabalhou com o Unicef na Copa, implementando núcleos comunitários de esporte e lazer nas cidades-sede. Levou o Cemp para Moçambique e atua em intercâmbio com escolas alemãs. Mas o foco continua sendo o Maranhão. "Queremos desvelar a potencialidade desse estado", diz Cabral.

A Curadoria Ecoa

Diane - Augusto Pessoa - Augusto Pessoa
Diane Pereira Sousa, curadora de Ecoa
Imagem: Augusto Pessoa

Diane Pereira Sousa

As histórias e pessoas apresentadas todos os dias a você por Ecoa surgem em um processo que não se limita à prática jornalística tradicional. Além de encontros com especialistas de áreas fundamentais para a compreensão do nosso tempo, repórteres e editores têm uma troca diária de inspiração com um grupo de profissionais muito especial, todos com atuação de impacto no campo social, e que formam a nossa Curadoria. Esta reportagem, por exemplo, nasceu de uma conexão proposta por Diane Pereira Sousa, curadora de Ecoa.