Por Amando Prado, RJ1


Educação na pandemia: apesar de promessas. muitos estudantes continuam sem qualquer tipo de aula

Educação na pandemia: apesar de promessas. muitos estudantes continuam sem qualquer tipo de aula

Um dos grandes desafios da pandemia e que ainda não foi superado é o atraso na educação.

Apesar das promessas das prefeituras de manter o ensino remoto, muitos alunos não tiveram qualquer tipo de aula até agora, seja à distância ou presencial.

Everton Marco da Silva mora no Morro da Congonha, em Madureira, na Zona Norte do Rio. Ele vende balas no sinal.

Sem computador e sem celular, as aulas on-line nunca fizeram parte da rotina do jovem de 18 anos.

E a pandemia trouxe também outras urgências, como ajudar a levar comida para casa.

“O patrão da minha mãe não pagou o salário que ela tinha. Aí começou a faltar alimentos, carne, arroz, macarrão, feijão”.

“Eu pensei em juntar dinheiro pra comprar celular. Mas aí o gás acabou, televisão pifou. Tive que botar pra consertar a televisão e o gás, e comprar carne, alimento pra dentro de casa”, conta o jovem.

O jovem Everton Marco da Silva sonha se tornar piloto de avião — Foto: Reprodução/TV Globo

Um ano depois do início da pandemia, quem mora na favela diz que o número de adolescentes e jovens sem fazer nada cresceu muito. Alguns simplesmente abandonaram a escola, e outros, como o Everton, precisaram largar os cadernos para garantir o sustento da própria família.

Histórias que se repetem por todas as cidades da Região Metropolitana.

A estudante Ana Beatriz Belmon é de Belford Roxo, cidade que não ofereceu aulas on-line, nem apostilas para os alunos.

Aos 15 anos, grávida de cinco meses, ela tem várias preocupações.

Também sem computador e sem celular, os dias em casa se resumem aos trabalhos domésticos.

“Sem a pandemia já era difícil pra gente poder estudar, a gente que tem menos condições, imagine com a pandemia. Tá sendo mais difícil”.

Ela diz que não teve nenhum apoio da escola.

A escola se tornou um mundo distante para milhares de estudantes que ficaram invisíveis ao modelo de ensino proposto pelo estado e pelos municípios durante a pandemia.

Envolvimento com o tráfico

Uma professora de outra cidade da Baixada Fluminense conta que viu três alunos dela irem para o tráfico de drogas nesse período.

Com medo, ela não quis gravar entrevista, mas escreveu uma carta falando sobre o assunto.

“Uma das escolas em que trabalho fica num bairro muito pobre, muito populoso e sem qualquer atrativo cultural. Sem a presença da escola, três alunos passaram a fazer parte de uma facção e “trabalhar na boca”, como dizem. Aluno X, 15 anos, 9º ano; aluno Y, 14 anos, 8º ano; aluno Z, 12 anos, 7º ano”.

“O governo não pensou na exclusão digital dessas crianças e adolescentes. Eles ficaram desconectados e nossos governantes fingiram que havia educação remota”.

Em Japeri, uma diretora vai de porta em porta para não deixar que os alunos percam o vínculo com a escola.

Indiara Martins é diretora da Escola Municipal Bernardino de Melo.

“O nosso projeto é 'ninguém fica de fora'. Quando a gente observou que a Rosimar não tem vindo buscar o material, a gente tá trazendo, pra que ela possa estar estudando. E qualquer dúvida, nosso telefone tá na apostila, é só nos procurar”.

“Estudar hoje em dia ainda é o único mecanismo da gente pobre, né, de conseguir algo, de conseguir uma vida digna”, diz Indiara.

O vendedor de balas Everton acredita na escola e diz que seu maior sonho é ser piloto de avião.

“Teve um dia que eu tava sentado na quadra, eu olhei pro céu e o avião passou. Aí eu pensei: ‘um dia eu vou estar lá’”, conta o jovem.

Em meio à escassez de políticas públicas capazes de garantir o futuro de todos, resta a mulheres como a Indiara a missão de não desistir.

“Meu pai sempre falava que ninguém tira o estudo de você. Tira qualquer coisa, menos o estudo. O estudo é o que modifica a nossa vida, é o que muda o mundo”, diz a professora.

O que dizem os envolvidos

A prefeitura de Belford Roxo informou que vem acompanhando os alunos e que aulas on-line foram disponibilizadas em todas as redes sociais.

Disse também que no período em que as aulas eram só virtuais, as escolas ofereceram materiais impressos.

O RJ1 aguarda um posicionamento da Prefeitura de Japeri.

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