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Ex-presidente do Inep diz que acatou sugestões de comissão de inspeção do Enem e que 'regime militar' é mais adequado do que 'ditadura'

Marcus Vinicius Rodrigues presidia o órgão quando grupo analisou questões da prova
Ex-presidente do Inep, Marcus Vinícius Rodrigues, durante entrevista coletiva Foto: Andre Sousa/MEC/31-01-2019
Ex-presidente do Inep, Marcus Vinícius Rodrigues, durante entrevista coletiva Foto: Andre Sousa/MEC/31-01-2019

BRASÍLIA — Ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, que comandava o órgão quando a comissão de inspeção do Enem foi instituída, afirmou que acatou os pareceres do grupo e defendeu o uso do termo "regime militar", segundo ele, mais adequado do que "ditadura".

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Ao GLOBO, Rodrigues afirmou ainda que o governo deveria instituir comissões periódicas, " independentes e sem postura ideológica" para analisar a prova. O ex-presidente do órgão disse ainda que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, deveria se posicionar sobre o tema.

Nesta quinta-feira, O GLOBO revelou que a comissão de inspeção de questões do Enem sugeriu a troca do termo "ditadura" por "regime militar" em um dos itens que poderiam ser usados na prova. O grupo barrou 66 perguntas sob justificativas como "gera polêmica desnecessária", "leitura direcionada da história", entre outras.

— Eu penso que regime militar em uma questão do Inep seria muito mais adequado, sim. A comissão teve total independência e eu acatei todas as decisões da comissão, porque foram decisões corretas. Essa sugestão foi feita pela comissão e o presidente do Inep (que era ele próprio na época aceitou) aceitou, sim. Acho eu, hoje, que é muito mais adequado em uma prova constar "regime militar" do que "ditadura". Fica muito difícil fazer análises fora do contexto em que os fatos aconteceram —afirmou Rodrigues.

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Ele afirmou que as questões não foram excluídas do banco de itens do Exame, mas foram apartadas das demais. Segundo ele, o trabalho da comissão era importante pois os itens do Enem devem "medir apenas o conhecimento" e "qualquer questão que tivesse tendências ideológicas de direita ou esquerda, que tivesse uma formatação com agressões a culturas regionais ou a religiões nós não deveríamos considerar".

— Eles não foram jogados fora, colocamos de lado, separado dos outros, com algumas observações. Não sei se o presidente atual considerou ou não esses itens. Seria muito importante que o ministro (da Educação, Milton Ribeiro) conhecesse esse assunto e se posicionasse sobre ele — disse.

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O ex-presidente do Inep criticou ainda os parlamentares que questionaram o órgão sobre o trabalho da comissão. Segundo ele, há questões mais urgentes que precisam da dedicação dos congressistas.

— Parece uma incoerência os senhores parlamentares dedicarem tanto tempo ao questionamento de um termo "ditadura" ou "regime militar" quando não houve nenhuma pergunta sobre quanto custa uma questão — disse ele, argumentando que os custos de formulação de questões do exame são muito altos.

O GLOBO questionou o Inep sobre os pareceres da comissão e o destino dos itens, mas até o momento não obteve resposta.