BRASÍLIA — Ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Marcus Vinicius Rodrigues, que comandava o órgão quando a comissão de inspeção do Enem foi instituída, afirmou que acatou os pareceres do grupo e defendeu o uso do termo "regime militar", segundo ele, mais adequado do que "ditadura".
Ao GLOBO, Rodrigues afirmou ainda que o governo deveria instituir comissões periódicas, " independentes e sem postura ideológica" para analisar a prova. O ex-presidente do órgão disse ainda que o ministro da Educação, Milton Ribeiro, deveria se posicionar sobre o tema.
Nesta quinta-feira, O GLOBO revelou que a comissão de inspeção de questões do Enem sugeriu a troca do termo "ditadura" por "regime militar" em um dos itens que poderiam ser usados na prova. O grupo barrou 66 perguntas sob justificativas como "gera polêmica desnecessária", "leitura direcionada da história", entre outras.
— Eu penso que regime militar em uma questão do Inep seria muito mais adequado, sim. A comissão teve total independência e eu acatei todas as decisões da comissão, porque foram decisões corretas. Essa sugestão foi feita pela comissão e o presidente do Inep (que era ele próprio na época aceitou) aceitou, sim. Acho eu, hoje, que é muito mais adequado em uma prova constar "regime militar" do que "ditadura". Fica muito difícil fazer análises fora do contexto em que os fatos aconteceram —afirmou Rodrigues.
Ele afirmou que as questões não foram excluídas do banco de itens do Exame, mas foram apartadas das demais. Segundo ele, o trabalho da comissão era importante pois os itens do Enem devem "medir apenas o conhecimento" e "qualquer questão que tivesse tendências ideológicas de direita ou esquerda, que tivesse uma formatação com agressões a culturas regionais ou a religiões nós não deveríamos considerar".
— Eles não foram jogados fora, colocamos de lado, separado dos outros, com algumas observações. Não sei se o presidente atual considerou ou não esses itens. Seria muito importante que o ministro (da Educação, Milton Ribeiro) conhecesse esse assunto e se posicionasse sobre ele — disse.
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O ex-presidente do Inep criticou ainda os parlamentares que questionaram o órgão sobre o trabalho da comissão. Segundo ele, há questões mais urgentes que precisam da dedicação dos congressistas.
— Parece uma incoerência os senhores parlamentares dedicarem tanto tempo ao questionamento de um termo "ditadura" ou "regime militar" quando não houve nenhuma pergunta sobre quanto custa uma questão — disse ele, argumentando que os custos de formulação de questões do exame são muito altos.
O GLOBO questionou o Inep sobre os pareceres da comissão e o destino dos itens, mas até o momento não obteve resposta.