Por Clara Campoli, G1

Para Michael Cerqueira, 23 anos, a maior mudança do ensino fundamental para o médio foi a oportunidade de usar o material escolar para estudar o conteúdo dado em sala de aula. "Foi um choque ver que poderia aprender diretamente dos livros. Na escola pública, a gente copiava tudo do quadro, mal tinha livro didático", lembra.

Nascido e criado no bairro de Capão Redondo, em São Paulo, filho de um porteiro e de uma empregada doméstica, ele frequentou a Escola Estadual Miguel Munhoz Filho até o 9º ano. O adolescente sonhava em fazer um curso técnico, mas sua professora de matemática viu no garoto potencial para conseguir uma bolsa de estudos. Ela o inscreveu no processo seletivo do Instituto Social para Motivar, Apoiar e Reconhecer Talentos (Ismart) e se uniu a outras duas docentes para ajudá-lo a se preparar para a prova.

Depois de uma preparação no contraturno das aulas, Michael conseguiu a bolsa e ingressou no Colégio Lourenço Castanho. Ali, passou a vislumbrar não um curso técnico, mas superior. "Faculdade era um sonho distante, mas com a bolsa, eu percebi que sonhos grandes ou pequenos gastam a mesma energia: o importante é ter os instrumentos para realizá-los", comenta.

Missão de vida

Michael não pôde fechar os olhos para o fato de que dois amigos da Miguel Munhoz Filho não conseguiram passar na prova. "Eles eram tão bons quanto eu, mas não deu certo. Coloquei na cabeça que precisava criar soluções que poderiam impactar pessoas como eles. Para isso, eu deveria trabalhar no governo, e passei o ensino médio me capacitando e me preparando para isso", afirma.

Para quem não vislumbrava um diploma de curso superior, Michael se saiu muito bem: passou para Economia na Universidade de São Paulo (USP) e conseguiu uma bolsa integral para cursar Administração Pública na Fundação Getúlio Vargas (FGV). "Foi um dilema, precisei conversar bastante com amigos e professores. Acabei optando pela FGV, e me encontrei completamente no curso que escolhi", comemora.

Atualmente, Michael trabalha como líder de relacionamento com governo na Vetor Brasil, empresa que seleciona talentos para trabalhar com o Estado. "Chegou a um ponto em que minha ligação com o governo ficou mais forte. A partir do próximo semestre, vou me transferir para a Secretaria de Planejamento de Caruaru, um lugar onde acho que conseguirei colocar a mão na massa e fazer o que eu sempre quis", planeja.

Inscrições abertas

É possível se candidatar a uma das bolsas do Ismart até 3 de julho, pelo site do Instituto. Serão oferecidas 280 bolsas integrais nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São José dos Campos, Cotia e Sorocaba. As escolas selecionadas têm destaque no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e o Ismart oferece também suporte de psicólogos e pedagogos, para que a transição seja tranquila para os alunos.

Para concorrer às bolsas, é preciso estar matriculado no 7º ou no 9º ano do ensino fundamental e vir de família com renda por pessoa de até dois salários mínimos. Os candidatos do 7º ano concorrem ao Projeto Alicerce, onde passarão os dois últimos anos do ensino fundamental em um cursinho preparatório para o ensino médio em alguma das 18 escolas participantes do projeto. Atualmente, o Ismart conta com 860 bolsistas entre o 8º ano do ensino fundamental e o 3º ano do ensino médio, além de 325 ex-bolsistas cursando o ensino superior.

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