Por Gladys Peixoto, g1 Mogi das Cruzes e Suzano


Média de evasão nos municípios do Alto Tietê no ensino médio passou de 1,6% para 2,7 - um crescimento de 68,7% — Foto: TV Globo/Reprodução

A média da taxa de evasão escolar no ensino médio nas cidades do Alto Tietê passou de 1,6% em 2019 para 2,7% em 2021, um crescimento de 68,7%. O levantamento foi feito pelo g1 com base nos dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).

A situação em 2021 era mais grave em Salesópolis( taxa média de 8,6%) e Biritiba Mirim (taxa média de 4,3%).

Taxa média de evasão escolar no ensino médio no Alto Tietê em 2019 (em %)
Índice variou entre 0,8% e 2,4% entre municípios da região
Fonte: Inep

De acordo com os dados do Inep, a taxa média de evasão escolar ficou estável no ensino fundamental 1 do Alto Tietê antes e depois da pandemia, com média de 0,1%. Já no ensino fundamental 2 houve uma variação na média de 0,5% em 2019 para 0,6 em 2021%. Os dados incluem escolas públicas e particulares.

Taxa média de evasão escolar no ensino médio no Alto Tietê em 2021 (em %)
Índice variou entre 0,7 e 8,6 entre municípios da região
Fonte: Inep

Ana Lígia Scachetti, diretora da Nova Escola, avalia que o número de evasão maior em 2021, aconteceu porque 2020, foi um ano de pouca informação sobre quem de fato estava ou não frequentando a escola.

“Os professores distribuíam as atividades, ofereciam as atividades e tinham pouco retorno. Não sabiam se lá em casa, as crianças estavam fazendo alguma atividade. Não sabiam se as crianças ainda estavam frequentando a escola ou não. Então, foi só em 2021, que a gente começou a conseguir ter dados melhores sobre como estava de fato a participação, a adesão das crianças e adolescentes nas escolas”, conclui.

Ana Lígia observa ainda que normalmente a evasão escolar sempre começa a se agravar no final do ensino fundamental 2 e se intensifica no ensino médio.

Isso acontece porque é uma idade em que os adolescentes muitas vezes são convocados para colaborar com a família, para trabalhar. Durante a pandemia a gente teve um aumento considerável da pobreza no nosso País e as famílias nessa reestruturação causada pela pandemia em muitos casos precisaram acionar os jovens para que eles saíssem da escola e passassem a trabalhar. Mas além disso tem um problema no ensino médio que é uma certa desconexão desse adolescente com a escola.
— Ana Lígia Scachetti

Ana Lígia afirma que várias pesquisas mostram que os jovens não veem pleno sentido na escola. “Por isso, tem iniciativas nos últimos anos de reconstruir o ensino médio. A gente tem a base nacional comum do ensino médio, proposta do novo ensino médio que são tentativas de ampliar essa conexão do jovem com essa fase escolar e garantir que ele veja sentido, que ele veja que essa fase colabora com a formação dele. Essas propostas trazem ideias de personalizar mais o ensino para que o jovem possa escolher qual itinerário ele quer seguir no ensino médio e não fique só com uma formação ampla, mas com uma formação já específica, da área que ele mais se interessa, da área que ele quer evoluir depois profissionalmente.”

A educadora destaca que essa mudança teve início um pouco antes da pandemia, mas que não ocorreu porque a pandemia gerou outras prioridades. Ela pontua que agora é o momento de resgatar esse olhar para essa fase do ensino médio para entender como ela pode ser revista e o fundamental 2 também. Desta forma, ela acredita que o jovem possa ter uma conexão maior com a escola.

Evasão Escolar no ensino médio no Alto Tietê
Fonte: Inep

Nos casos de municípios rurais, como Biritiba Mirim e Salesópolis, ela avalia que o trabalho da educação durante a pandemia ficou ainda mais complicado.

“Em áreas mais rurais o acesso a internet é menor. Então, provavelmente nesses municípios que são mais rurais o acesso a internet foi menor. A gente precisa também olhar para a situação econômica de cada um desses municípios e entender, por exemplo, se teve um aumento da pobreza nesse município, se teve dados específicos, alcances específicos da pandemia, do vírus nesses municípios que podem ter gerado desestrutura nas famílias que fizeram que esses jovens, por exemplo, precisassem trabalhar.”

Ela ressalta que também é preciso entender que tipo de atividades as escolas desses municípios fizeram durante a pandemia. “Será que fizeram atividades impressas que os alunos podiam ir buscar na escola para casa? Será que foram atividades on-line? Como é o índice de acesso à internet nesses municípios? Então, olhar para todos esses dados nos permite entender quais são as razões dos índices serem piores nesses municípios”, conclui a gestora.

Retorno para Escola

Ana Lígia afirma que quando se fala de evasão é principalmente das escolas públicas. “E quando a gente fala das escolas públicas, quem precisa agir nas escolas públicas são as equipes das escolas, mas também as secretarias de educação que as apoiam.”

E nesse processo, ela diz que é preciso desenvolver planos locais para entender e diagnosticar os motivos de evasão em cada local e colaborar para que as escolas consigam agir. “Dar estrutura, dar apoio, dar acesso aos dados e discutir esses dados junto com as escolas é um papel importante das secretarias de educação fazerem para que cada lugar possa ter um plano de evasão, especialmente, nesse momento após os dois anos de ensino remoto que tivemos.”

A Secretaria Estadual da Educação, responsável pelas escolas de ensino médio da rede estadual no Alto Tietê, informa que a busca ativa é uma ação que faz parte da prática pedagógica da rede e que cada escola tem autonomia para organizar a busca ativa de uma maneira que faça sentido em sua comunidade.

“A pandemia, porém, principalmente em seus picos de 2020 e 2021, gerou impactos em todos os setores, incluindo a Educação. A pasta segue em constante atuação para promover a recuperação da aprendizagem, por meio do reforço e das atividades no contraturno, além seguir empenhada no combate a evasão escolar.”

A Secretaria destaca que os municípios de Salesópolis e Biritiba-Mirim também contam com cursos do NovoTec Integrado, programa coordenado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia em parceria com a Seduc-SP. Ele oferece cursos de habilitação técnica e de qualificação profissional, alinhado com as demandas do mercado de trabalho. Em Salesópolis oferece administração e Biritiba-Mirim informática para internet

Assista a mais notícias

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!